Pinturas em Aeronaves – Parte 2

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Saudações amigos entusiastas e profissionais da aviação.

Gostaria de pedir desculpas pela não publicação da nossa matéria no sábado passado, tivemos contratempos (e ainda temos)na rede daqui da empresa a qual presto serviço em manutenção de aeronaves. A situação ainda não foi resolvida, mas estamos, na medida do possível, dar continuidade à constância da nossa série de matérias relacionadas ao tema.

Na primeira postagem vimos como se dá os processos de remoção de pintura antiga e proteção da chapa nua, na aeronave. Explicamos a etapa da remoção com o removedor pastoso, e a aplicação do primer cromato de zinco que é o produto mais usado no meio aeronáutico. Também mostramos pinturas para lá de originais de algumas aeronaves nacionais, e as elegantes pinturas das aeronaves de uma escola de aviação do sul do Brasil.

Tivemos ajuda do nosso grande Maninho ( Zé Carlos) e do sr Renato, ambos trabalham a muitos anos com esse tipo de pintura, e seus trabalhos podem ser apreciados em larga escala nos aeroportos da Pampulha (SBBH), Carlos Prates (SBPR) e aqui em Pará de Minas (SNPA), onde pude ver de perto várias aeronaves hangaradas, que foram pintadas por esses excelentes profissionais.

Pude verificar a simplicidade do trabalho comparada à pintura de um automóvel, no caso da pintura automotiva o pintor precisar de vários materiais como massas, lixas, variados tipos de thinners, catalizadores e vernizes para se obtiver o máximo desses materiais a fim de proporcionar uma pintura com alta qualidade.

A pintura aeronáutica realmente é um processo rápido, onde não pode perder tempo por conta de fatores como hangaragens, gastos por hora em mão de obra, ou mesmo a ocupação de uma vaga onde a outra aeronave está esperando no pátio para receber a manutenção necessária ou revisões. Normalmente quase toda oficina tem um setor de separado para as pinturas, e esses setores são devidamente limpos e secos e livres de circulações que podem ocasionar problemas na finalização do processo.

A facilidade de secagem das tintas aeronáutica tem inúmeros pontos positivos, principalmente em questões burocráticas. Uma aeronave a ser inspecionada pela ANAC estará pronta em questão de dias, já que sua pintura já se secou completamente. Isso agiliza o processo de liberação, o que é um fator importante se tratando de demoras para liberações por parte da ANAC.

Aparência

Esse é o processo em se envolve a pintura total da aeronave, isso inclui sua fuselagem, carenagens de fibra e as asas. É o momento de aplicar as camadas necessárias para um resultado primoroso. Nosso amigo Maninho nos deu algumas dicas importantes e vamos lá.

Álvaro Lemos: Quais os tipos de tintas podem se usar na pintura de uma aeronave?

Zé Carlos: Usamos o Poliuretano na estrutura de um modo geral, chapas, trem de pouso e partes metálicas. Em caso de retoques, utilizamos o PU e o Poliéster. Há quem faça retoques com tintas sintéticas, o que não é aconselhável devido a um acabamento não muito proveitoso.

AL: Existem fabricantes específicos, que fornecem bons produtos para pinturas de aeronaves?

ZC: Sim, existem, nos utilizamos à marca Reflex. Ela nos dá excelentes acabamentos aliados com custo beneficio e facilidade de ser encontrada no mercado. Ela tornou-se referencia no meio aeronáutico.

As tintas aeronáuticas devem ter um excelente acabamento, custo beneficio e durabilidade. Ela precisa ser resistente a todas as intempéries nas quais a aeronave sofre durante sua vida útil, esses fatores externos podem ser chuvas, granizo, neves, calor, maresia, poeira ou mesmo pequenas partículas de pedras que são lançadas na fuselagem e hélices.

Uma pintura dura em média oitos anos, isso depende da hangaragem e da operação da aeronave.  Sabemos que muitos proprietários não se importam e em deixar seu avião bem limpo e se for o caso, coberto por longos períodos de inatividade. A tinta utilizada nesse  tipo de pintura é diferenciada em relação a tintas do meio automobilístico. Nesse caso, ela não depende de vernizes ou outros componentes necessários para um melhor acabamento.

A ANAC não restringe mudanças de cores e padrões ao operador interessado em mudar a pintura de seu avião, ela regulamenta a forma correta de se identificar a matricula do avião e a responsabilidade do explorador de deixá-la sempre bem visível, como também deixar claro o fim a que ela se destina.

Vejamos alguns exemplos extraídos de algumas publicações da ANAC, onde se trata de identificações de aeronaves usadas para fins específicos:

RBH 45.12-I

45.12-I Identificação de aeronaves operando serviços de táxi-aéreo, serviços aéreos especializados ou vôos de instrução.

(a) Ninguém pode operar uma aeronave em transporte aéreo público não – regular – táxi-aéreo (TPX) a menos que, próximo à porta principal de entrada de passageiros desta aeronave, externamente, sobre a fuselagem, esteja pintada, horizontal ou verticalmente, a expressão “TÁXI-AÉREO” em letras maiúsculas, com altura entre 5 e 15 cm, de maneira que a abertura da porta não impeça sua leitura.

(b) Ninguém pode operar uma aeronave em serviço aéreo especializado público (SAE) a menos que, próximo à porta principal de entrada de passageiros desta aeronave, externamente, sobre a fuselagem, esteja pintada, horizontal ou verticalmente, a sigla “SAE” em letras maiúsculas, com altura entre 5 e 15 cm, de maneira que a abertura da porta não impeça sua leitura.

(c) Nenhum aeroclube, clube ou escola de aviação civil pode operar uma aeronave de instrução (PRI ou PIN) a menos que, próximo à porta principal de entrada de passageiros desta aeronave, externamente, sobre a fuselagem, esteja pintada, horizontal ou verticalmente, a palavra “INSTRUÇÃO” em letras maiúsculas, com altura entre 5 e 15 cm, de maneira que a abertura da porta não impeça sua leitura.

(d) A pintura de que trata esta seção deve contrastar, em cor, com o fundo sobre o qual for aposta, ficando nitidamente legível.

(e) Nenhuma aeronave que não esteja registrada nas categorias TPX, SAE e PRI ou PIN pode efetuar qualquer pintura que se assemelhe ou se confunda com aquelas previstas nos parágrafos (a), (b) e (c) desta seção.

Marcas de nacionalidade e matricula

A preocupação da agência é garantir que as aeronaves nacionais sejam bem identificadas. Observe que não existem restrições em relação à mudança de cores ou detalhes nas aeronaves, isso nos da a ideia que a pintura fica a critério do proprietário ou explorador  da mesma.

SUBPARTE C

MARCAS DE NACIONALIDADE E DE MATRÍCULA

45.21 Geral

(a) Exceto como previsto na seção 45.22 deste Regulamento, ninguém pode operar uma aeronave civil registrada no Brasil a menos que ela disponha de marcas de nacionalidade e de matrícula expostas de acordo com esta seção e com as seções 45.23 a 45.33 deste Regulamento.

(b) A menos que especificamente autorizado pela ANAC, ninguém pode colocar um desenho, marcas ou símbolos em uma aeronave que possam modificar ou confundir as marcas de nacionalidade e de matrícula.

(c) As marcas de nacionalidade e de matrícula:

(1) exceto como previsto no parágrafo (d) desta seção, devem ser pintadas na aeronave ou postas por qualquer outro meio que assegure um grau similar de aderência;

(2) não devem possuir ornamentação;

(3) devem contrastar em cor com o fundo sobre o qual se encontram; e

(4) devem ser legíveis.

(d) As marcas de nacionalidade e de matrícula podem ser apostas à aeronave com material de remoção rápida, se a aeronave:

(1) estiver prevista para entrega imediata a um comprador estrangeiro;

(2) possuir matrícula temporária; ou

(3) possuir marcas temporárias para atender aos requisitos do parágrafo 45.22(c)(1) deste Regulamento.

Em relação ao ponto “d”, quero ressaltar uma curiosidade. A aeronave que aparece nessa próxima foto demonstra claramente o cumprimento dessa diretriz, já que o Zé Carlos (Mano), plotou uma matricula provisória em virtude de a aeronave estar em fase de vistoria.

Equipamentos básicos utilizados em remoções, preparações, isolamentos, pinturas e polimentos.

Remoções:

  • Raspadores de inox
  • Lixas de grãos variados
  • Escovas de aço pneumática ou manuais
  • Tacos de lixar

Preparações:

  • Lixadeiras orbitais
  • Lixadeiras excêntricas
  • Lixadeiras Rokit pneumáticas
  • Lixas diversas

Isolamentos:

  • Fita crepe
  • Fita de isolamento polietileno
  • Papeis de isolamento
  • Plástico de mascaramento da 3M

Pinturas

  • Pistola de pintura por sucção e gravidade (HVLP, LVLP, etc).
  • Compressor de ar
  • Mangueiras de ar
  • Aspirador de pó

Um pouco sobre os profissionais entrevistados.

(Imagem – Da esquerda para a direita, Mano e Renato)

Segundo os técnicos que colaboraram com o conteúdo da matéria, uma aeronave leva cerca de trinta dias para ficar pronta. Em média, eles já fizeram a pintura de trinta aeronaves entre Beechcrafter Baron, King air,Embraer Seneca, Embraer Corisco, Cessna 172 e outros.

O nosso amigo Zé Carlos (Mano) começou a trabalhar com pintura aos oito anos de idade, esse tempo deu para formar o grande profissional que é hoje, no qual podemos apreciar belíssimas pinturas atualizadas nas aeronaves que tive o prazer de ver de perto. Já o Sr. Renato trabalha a mais de quarenta anos com pinturas automotivas, e descobriu na aviação uma melhor fatia nesse mercado promissor.

A dica dos profissionais para quem pretende ser um pintor de aeronaves é se dedicar, buscar aprender mais sobre novos produtos, e procurar fazer cursos de especializações em pinturas.  Não existe no Brasil um curso em especifico para pinturas de aviões, mas a formação de mecânicos aeronáuticos na categoria Célula ensina todas as técnicas utilizadas.

O interessado pode também fazer um curso de formação em pinturas automotivas, estes são promovidos  por alguns centro profissionais, e fica ao critério do interessado buscar o mais próximo de sua residência.

O que nos torna grandes profissionais é a dedicação e o desejo de conhecer mais, perguntar, pesquisar. Acima de tudo, amar a  profissão, pois que fazemos com vontade é capaz de fazer com que as pessoas percebam o valor que temos em nosso potencial.

Aos interessados em saber mais, tirar dúvidas ou mesmo pintar uma aeronave, fica aqui o contato do Zé Carlos  (Mano) e do Renato.

Atualmente eles encontram-se em serviço aqui no aeroporto de Pará de Minas (SNPA), na oficina em que trabalho.

Tel: 31- Zé Carlos (mais conhecido com Mano) 31- 9739-5049.

Grande abraço meus amigos, e até a próxima semana.

Álvaro Lemos

Manutenção de aeronaves

Renato Cobel
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