Pistas de Pouso: Tanto faz o rumo?

Você já deve ter reparado que praticamente todas a pistas homologadas oferecem a vantagem de terem seus rumos magnéticos coincidindo com a direção do vento, proporcionando assim um fator positivo à decolagem. Costumo dizer que, se você tem vento, nem que seja de través e muito forte, é melhor do que ter ele vindo de cauda durante a decolagem. Então, isso não podia ser simplesmente ignorado pelos engenheiros durante a fase de projeto de um aeroporto moderno.

Mas há um detalhe que você certamente também já observou: o vento muda de velocidade e direção constantemente, então como determinar de onde o vento vem para construir uma pista? Ou mesmo, como saber qual a direção predominante? Ai está o desafio: às vezes, leva-se 5 meses ou 5 anos para se determinar, com exatidão, as características de vento daquele local específico. Isso se faz compreensível pelo custo que envolve a construção de uma pista, o espaço que ela vai tomar, e a necessidade de que todo esse trabalho dure por dezenas de anos.

Um detalhe importante é que o vento muda normalmente com os anos. Costumamos dizer sempre: “nossa, aqui há uns anos atrás ventava muito mais” – e estamos certos. É impossível determinar a periodicidade do vento no que tange sua direção, em função de fenômenos naturais da nossa atmosfera. Já a intensidade pode ser bem mais facilmente prevista, pelo estudo das linhas isobáricas (linhas de mesma pressão), ou presença de sistemas frontais. Eles determinam claramente a força e comportamento do vento, e é basicamente para isso que as EMS (Estações Meteorológicas de Superfície) existem. Então, partindo desse pressuposto, podemos ter uma ideia do passo primário na construção de uma pista de aeroporto, ou mesmo aeródromo simples. Tudo precisa ser feito com muita cautela e pesquisa. Realmente não é algo pouco pensado: as obras são precedidas de anos e anos de estudo.

O último fator importante nesse ponto é que a localização geográfica de uma pista influi totalmente na escolha do seu rumo. Por exemplo: deve-se evitar ao máximo construir uma pista próximo ao lado sotavento de montanhas ou morros, em função de que, naquela área, há predominância de formação de turbulência mecânica, facilmente identificada pela aparição de nuvens rotoras logo após as montanhas. A regra de voo diz que precisamos evitar ao máximo essas áreas. Imagine então a operação de pousos ou decolagens.

Também é um fator preponderante quando o aeroporto precisa ser construído no litoral ou próximo a ele. Normalmente nesses casos, os engenheiros procuram aproveitar um meio termo entre a brisa marítima e a terrestre, deixando a pista em 45 graus ao mar, ou ao mais próximo disso que conseguirem, para fazer a pista utilizável e segura durante o dia e a noite.

Por este capítulo é só. Nosso próximo passo será entender por que existem limitações de peso para determinados tipos de pistas, e por que não se faz logo uma totalmente resistente.

Eduardo Mateus Nobrega
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