Prático de Piloto Privado 29

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  Saudações Comandos.

  Após 10h na mesma manobra, fui encaminhado a CID. Cheguei ao aeroclube, me apresentei para o voo, e pediram para eu aguardar. Pegaram minha pasta, entregaram para um dos instrutores mais antigos do aeroclube e fomos para a sala de briefing bater um papo.

  Sentei na cadeira, o Instrutor com aquela cara de mau (só a cara mesmo), tirou os óculos e me encarou: “Então Torquato, chegamos a CID. Faz dez horas que você está na mesma manobra”, e me explicou como funciona.

  O aluno quando faz mais de dez horas na mesma manobra, significa que está tendo uma ineficiência em algo. Com isso, tem os instrutores mais antigos que vão conversar e voar contigo para tentar sentir suas dificuldades. Em último caso, uma troca de aeronave. Saindo do P56 para uma aeronave teoricamente mais fácil, no caso Cherokee ou Cessna 152.

  Vamos ao meu caso:

  •    Fiz doze voos, totalizando 10.3h.
  •    De todos os vôos, em quatro tive que abortar a missão, totalizando 2.2h.
  •    Sobraram oito voos, sendo 8.1h.
  •    Desses oito voos, somente três fiz em atmosfera calma.

  Com isso, tive um péssimo aproveitamento. Chegamos à conclusão que, de todos os voos, apenas três ou quatro eu realmente aproveitei, então não era para estar na CID. Mas como já estava lá, continuamos a conversa. O instrutor me perguntou:

  -“Qual é sua dificuldade?”
 – “Quebra de planeio, arredondamento e correções de vento”, respondi.
  –“Conte-me como é seu voo, faz um voo mental para eu analisar”.
  –“Alinho a aeronave com eixo da pista, neutralizo os pedais, checo a bússola, calcanhares longe dos freios e aplico gradativamente a potência (3 segundos). Havendo indicação de velocidade, manche à frente, rodar a 60mph, subir a 65mph e na corrida eu dou uns tapas nos pedais para não perder o eixo. Faço o cheque de 500’ AGL (direita livre, proa livre, esquerda livre) e inicio a curva de pequena para ingressar na perna de través. Novamente faço o cheque de área e continuo em curva de pequena para ingressar na perna do vento, de olho no Turn and Bank para ter a curva coordenada, de tempos em tempos dou uma olhada nos parâmetros do motor, saber se temperatura e pressão estão em ordem. No último terço da pista, abro o ar quente, no través inicio o voo planado, salvo quando tenho que alongar a perna do vento. Rodo base e final, dando rajadas no motor a cada 20 segundos, para evitar a formação de gelo, faço o cheque de final (ar quente fechado, mistura rica, pista livre) e venho para pouso. Cruzando a cabeceira, quebro o planeio e vou trazendo o manche para arredondar até o toque. Tocou, colo o manche e controlo nos pedais”, expliquei.
  –“Teoricamente, você está preparado. É isso mesmo, você só está aqui porque fez muitos voos em atmosfera turbulenta. Vou te passar um instrutor experiente”.

  Fui à secretaria e lá me informaram quem seria o instrutor, só que me advertiram, falando que não seria aquela hora que iria voar, mas sim as 16h15, último horário daquele dia. Fiquei aguardando três horas até que pude inspecionar a aeronave.

  Aeronave inspecionada, fui até a sala dos instrutores para chamá-lo para o briefing. O instrutor tinha pouca idade como eu, mas idade não define maturidade, e ele era o mais preparado para o meu caso. Por a faixa etária ser próxima, nos permitiu ter uma linguagem mais direta.

  Fomos ao briefing e fizemos toda a conversa padrão da manobra. “O Primeiro pouso estará contigo, não vou por a mão. O Segundo pouso estará comigo. Eu quero que nesse pouso você só olhe para fora e perceba a atitude de pouso. Todos os outros estarão contigo. Dúvidas? Então vamos arrepiar essa bagaça”.

  Taxiamos, ingressei na pista, e tinha três aeronaves no circuito (Seneca, C152, Cherokee). Comecei a corrida, o controle em solo já estava tranquilo, decolei e fiz o circuito, mas precisei que alongar todas as pernas do vento.

  O circuito parecia de aeronaves a reação, só que a 1000’. O ruim é que as velocidades das outras aeronaves eram superiores à nossa. Então eu esperava a aeronave passar no meu través para rodar base. Quando rodava final, os aviões iam embora, enquanto eu fazia o circuito com a velocidade do Paulistinha.

  Primeiro Pouso: Concentrado, quebrei o planeio, o instrutor não falou e nem tocou em nada, parecia que era voo solo. Entrei de roda, fiz a correção, aeronave controlada em solo, arremeti. Fiz todo o circuito, chequei na final, e agora era a vez do instrutor.

  Segundo Pouso: Fiquei olhando para fora, para o nariz, para a asa, para o solo, enquanto ele arredondava e colocava o avião no chão.

  –“E ai, aprendeu?”
 –“Há, peguei! Agora vai”. Arremeti, e fiz novo circuito.

  Terceiro Pouso: Comigo de volta, trouxe aeronave na rampa, sem pressa de por no chão. Quebrei o planeio e vim arredondando. Senti a aeronave afundar e que estava baixo, quase tocando. Então dei uma puxada no manche e depois colei. Meu primeiro pouso manteiga. O instrutor falou: “Que isso, pousão! Lambida show de bola”. Foi sorte, mas também é gol.

  Quarto Pouso: Depois de um pouso bem sucedido, a confiança aumenta. Quebrei o planeio, estava arredondando, não via mais a frente do avião, e ele não tocava a pista. Olhei para o lado, vi que estava quase tocando, colei o manche, tocou e ficou. A alegria transbordava!

  Arremeti e olhei para o pátio do aeroclube durante a decolagem, e vi que não tinha ninguém filmando. A Galera do aeroclube só filma os catrapos. Algo tão simples, que demorei 12 voos para aprender. Depois bate aquela confusão de “Por que não fiz isso antes?”.

  Quinto e Último Pouso: Pouso completo agora. Começou a ventar. Eu na final, e o vento me empurrando para fora da pista. O instrutor me diz: “Dá asa do vento” e nada mais. Fiquei imaginado, “só isso?”.

  “Agora dá pedal contrário para manter o nariz alinhado. Faz o que você acreditar necessário, mas somente pedal e asa”. Fiz a correção de vento, e mantive até a hora do toque. Colei o manche, o avião tocou e ficou. “E ai, difícil? É só isso que você tem que fazer”.

  Livrei a pista, taxiei até o pátio e desci do avião. Fiz todo o cheque de abandono com um sorriso de orelha a orelha. Fui ao debriefing e conversamos sobre a manobra: “Seguinte Torquato, o primeiro pouso estava contigo, eu só fiquei analisando. O segundo estava comigo e você viu como faz. Depois disso você mandou um pousão manteiga, e mais outros dois. Não tem mais o que falar. Agora você vai fazer só mais um voo com vento de través e já estará pronto para próxima manobra”.

  Agradeci o voo com ele, fui ao outro instrutor que me deu a CID e agradeci também pela instrução e escolha de um ótimo INVA para me corrigir. Agendei o voo para as 14h, agora sim com atmosfera turbulenta, já que eu já aprendi a pousar.

  Cavok a todos. Ótima semana.

Renato Cobel
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