Prático de Piloto Privado 30

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Saudações, Comandos.

Após pegar o jeito de pousar três pontos, tinha voo agendado cedo para treinar vento de través já no dia seguinte. Aproveitei para dormir em Bragança, para conhecer um pouco a cidade.

Na manhã seguinte, estava me apresentando para o voo. Mesmo cedo, o vento marcava aproximadamente de 10 kt (lembrando que nunca vi aquela biruta murcha). Após saber qual seria a aeronave do dia, fui inspecioná-la e logo em seguida segui para o briefing.

Sentamos para conversar: “Agora é vento de través, tudo o que você já sabe e mais a correção do vento. Vamos ter que trabalhar mais isso. O vento está a 10kt. O vento vai te jogar para fora da pista na Final, e vai te jogar para cima da pista na Perna do Vento, então já trabalha isso”, disse o instrutor.

“Na Final, mantém a correção até o toque. Não tem problema tocar uma roda da frente junto com a bequilha e depois tocar a outra roda, é para isso mesmo, o vento vai ajudar a abaixar a outra roda no momento do toque se você mantiver a correção”, completou.

Notificamos e fomos voar. Nesse horário, a atmosfera está calma, mas todo dia venta muito em Bragança. E, por ser o primeiro horário, praticamente todas as aeronaves já tem aluno para voar, tendo assim mais aeronaves no circuito. O lado negativo disso é que teria menos tempo, obviamente menos pousos. Mas o lado positivo é que teria mais espaço para trabalhar a correção. 

Acionei a aeronave e o instrutor entrou no avião, perguntando-me se já tinha chamado à rádio. Disse que não, ele então me falou para fazer a fonia, se quisesse. Em cima do manche do Paulistinha tem um botão, que serve para fazer o rádio.

A fonia parece ser bem simples, por enquanto:

  • Quem é você;
  • Onde está;
  • O que vai fazer;

Na hora, apertei o botão e chamei o rádio:

-Rádio Bragança, é o PP-GXN (leia-se Papa Papa – Golf X-Ray November).
-Prossiga, November.
-GXN acionado no pátio do aeródromo, iniciará o táxi até o ponto de espera da 16 (leia-se uno meia).

No ponto de espera, estavam nada menos do que seis aeronaves na minha frente. O lado bom disso é que algumas estavam em navegações e manobras altas.

Decolei às 08h15 da manhã e me mantive no circuito, enquanto outras aeronaves à frente o livravam.

-Rádio Bragança, GXN fora do solo, chamará ingressando na perna do vento.

Lá atrás, no PPP08, estudamos voo retângulo. Nele, o intermontante do Paulistinha tem que ficar em cima da pista, para sabermos a distância correta do circuito de trafego.

-GXN ingressando na perna do vento, reportará na base.

Quando ingressei na perna do vento, o vento me empurrava para cima da pista, igualzinho quando você está andando na parte rasa do mar. Você é jogado para o lado e quase não sente, só quando já está longe é que você percebe.

Para manter a distância correta, só precisei calçar o pedal para o lado do vento e deixa-lo calçado durante toda a perna do vento.

No ultimo terço, abri o ar quente do carburador e iniciei o planado no través da cabeceira. Trouxe o motor para 1000 rpm e comecei a rodar base.

-GXN na perna base, trem de pouso fixo, chamará na final.

O vento estava sempre atuando, eu encurtava a perna base, pela força do vento, já chegava na final alinhado.

GXN, na final para toque e arremete, chamará fora do solo.

Cheque de final feito, o vento me jogava para fora da pista, e tinha que fazer a correção.

Asa para o lado do vento, aeronave voltava alinhar com a pista, aí dava pedal contrário para manter o nariz centralizado. Tudo isso proporcional para a aeronave não glissar.

Dentro do avião, você sente que está meio torto, mas é normal.

Quando cruzei a cabeceira, veio o drama das ultimas 11h de voo: Arredondamento. Não tocar torto, não entrar de roda e manter a correção. Acredito eu que o arredondamento seja a parte mais difícil de se pegar no pouso três pontos.

Mantive a correção e comecei a arredondar com a correção, olhava para o lado, sentido o avião afundar, colei o manche, toquei três pontos com a correção, a outra asa abaixou, controlei no solo e arremeti:

-GXN, fora do solo, chamará na perna do vento.

Ingressei na perna do vento e novamente mantive o pedal calçado para corrigir o vento:

-GXN, irá alongar a perna do vento, número três para pouso, chamará na base.

Alonguei a perna do vento por causa do tráfego, rodei base e final.

Às 8h da manhã, a atmosfera estava calma e a temperatura estava baixa. Vento pegando na janela e aquele retão até a cabeceira depois de ter alongado. Uma delicia de se voar.

Tudo muito calmo, bastante tempo e espaço para tomar decisões, dava a asa e deixava o pedal contrário calçado.

Até a cabeceira, quebrei o planeio, vim arredondando até colar o manche. Controlado em solo, arremeti.

Mesmo com o tráfego, consegui fazer 06 pousos, sendo que todos foram muito tranquilos. Nos últimos três pousos, eu dei algumas entradas de rodas que o instrutor nem precisou atuar, ali eu já tive agilidade de corrigir e coloca-lo no solo.

Como era a primeira vez que fiz a fonia, cometi alguns erros, fui chamado atenção pela rádio e pelo instrutor:

-GXN, na final, para pouso completo, chamará em solo controlado.
-GXN em solo, chamará no ponto de espera (o que???). Perdão, chamará para corte.

Com certeza tiveram outras pérolas que renderam algumas risadas no final do dia, mas nada grave.

Fomos ao debriefing e a conversa lá foi bem tranquila. Os pousos foram bons, algumas entradas de roda, mas tá tranquilo.

Mas eu ainda precisava de mais uma hora, para concretizar o pouso. Nas últimas duas horas, eu fiz 10 pousos bons de 11, mas queria pra mim mesmo, saber que aquilo não era sorte.

Conversei com o instrutor, mas não quis falar o porque. Disse que queria fazer só mais uma hora da manobra.

Ele concordou. Como tinha um voo agendado para três dias depois, estava tranquilo.

Agradeci o voo, paguei a hora e voltei para a caótica São Paulo.

Boa Semana a Todos.

Rafael Torquato

Renato Cobel
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