Saudações Comandos.
Espero que todos tenham tido um ótimo Natal e um ótimo Ano Novo.
Se você está lendo essa coluna, significa que os maias erraram, o mundo não acabou, o PIB foi minúsculo e a inflação fechou o ano a 5,78%.
A inflação serve só como média, mas o custo real foi que a hora de voo da aeronave em questão ficou 10,11% mais caro. Fora todos os outros itens da cadeia.
Como diria o finado Chico Anysio: “E o salário, ó !!!”.
Cheguei ao aeroclube após ser aprovado no Pouso de Três Pontos, para fazer a manobra seguinte: AP-01 – 360º na Vertical.
A manobra consiste em fazer uma aproximação, iniciar um 360º e pousar no local logo abaixo. Ela serve para quando você estiver em cima do aeródromo e caso aconteça alguma pane, consigamos pousar no aeródromo logo abaixo com segurança.
Como de costume, cheguei cedo ao aeroclube, apresentei-me para o voo e fiquei no aguardo.
Tomei café da manhã e depois fui inspecionar a aeronave. Terminado a inspeção, fui à sala de briefing. Lá, pela primeira vez, ouço algo diferente depois de seis meses de curso.
Na conversa, soube que iria decolar, fazer todo o procedimento padrão, ingressar na perna do vento, pegar uma referência través no primeiro terço da pista e outra referência na cabeceira, manteria a altura em 1000 pés AGL, até a final.
Na final, teríamos que manter o eixo da pista. E na referência da cabeceira, abriríamos o ar quente e na referência primeiro terço iniciaríamos o 360º.
Após iniciar a curva, que teoricamente é de 135º, começamos o afastamento até interceptar a “mini-perna” do vento, fazendo em seguida à base e a final. Porém, a atenção sempre está voltada a ele, que pode te jogar ou para cima da pista ou para longe dela.
Após a notificação, acionamos e iniciamos o taxi. Após a passagem de algumas aeronaves, alinhamos e decolamos.
Tudo tranquilo no voo, ingressamos na perna do vento, o mesmo soprava de E, o que nos fazia ir pra cima da pista na perna do vento e para longe dela na final.
Peguei uma referência no primeiro terço da pista, que foi nesse caso o prédio da universidade e uma referência na cabeceira que é um lago.
Quando cruzei o través da cabeceira, tirei o motor e a instrutora perguntou o que eu estava fazendo. Completei o motor, pedi desculpa. Era o costume de ter feito muitas horas na manobra anterior.
Rodei base e final, mantive a aeronave a 3900 pés (altitude do circuito) e tomei uma referência no prolongamento do eixo da pista, para manter-me alinhado, pois não conseguimos mais enxergá-la quando estamos em cima da mesma.
Cruzando a referência da cabeceira, abri o ar quente. Próximo de cruzar a referência do primeiro terço, fiz o cheque de área e senti aquela descarga de adrenalina. Era algo novo.
Tirei o motor e já fui dando asa para iniciar a curva. Era olho na pista, olho no painel, olho na pista, olho no painel. Um erro comum é o aluno começar com curva de grande, o que torna perigoso devido à velocidade de estol.
Então aumentava um pouco a dificuldade. Olho na pista, olho na inclinação da asa, olho no painel e em todo redor. Interceptei a mini-perna do vento, aí vem o ponto crucial. O momento que você gira base.
Nesse momento que diz se você vai ficar alto ou baixo.
Rodei base, sentia o avião afundar. Quase girando curta final, um P56 passa na minha frente e pousa. A aeronave não alongou a perna do vento e atrapalhou meu procedimento. Estava tudo muito perfeito.
Girei final logo atrás, completei o motor, e vi aeronave pousando logo abaixo. Fiz uma 180º para voltar à perna do vento, logo atrás de um Cherokee. A instrutora falou que meu procedimento foi bom, mas não pude completá-lo.
Rodei final atrás do Cherokee, ele baixando a altitude para pouso e eu mantendo os 3900 pés. Na referência da cabeceira, abri o ar quente, e na referência do primeiro terço iniciei o planado e a curva.
Sentia o avião afundando bastante mais de forma bem linear, fiz o afastamento, rodei base. Qualquer momento na perna base que você sentir que não vai chegar, você já encurta e vai para cima da pista.
Na perna base, olhava para o aeroporto que fica em cima de um morro, até parecia que não ia chegar.
Encurtei a base já indo para cima da pista, e acabou que ficou alto.
Iniciei a glissada, mas lembrei-me que o intuito da manobra não é o pouso, mas sim pegar proficiência no 360º, é saber que você consegue perceber o quanto o avião afunda, os momentos certos de fazer o afastamento, girar base, final. Que em caso de emergência real, você possa chegar ao aeródromo com segurança.
Eu conseguiria pousar tranquilamente, mas só no segundo terço da pista. Desfiz a glissada, completei o motor e arremeti. A instrutora disse que fiz uma boa escolha, porque ou arremetia ou pousava e voltava ao ponto de espera, mas a aproximação não era a ideal.
Novo circuito, agora com uma aeronave a mais. Tive que alongar a perna do vento. Cruzando as referências, na primeira eu abri o ar quente, na segunda iniciei o planado e a curva, sempre de olho na inclinação da asa, na pista e no painel, no meio da curva, quando olhava para a pista, sentia que estava baixo, mesmo ainda a 95o pés de altura, mas era só quando olhava para a pista, quando terminava de curvar minha noção de profundidade voltava ao normal.
De olho no altímetro, vendo o ponteiro baixar, fazendo os ajustes para manter a velocidade cravada em 65mph, compensando a aeronave e de olho nos parâmetros do motor, sentia o avião afundar, curvei base. Alonguei a base até o limite e trouxe para a final, abaixei um pouco o nariz para perder um pouco mais de altitude, mas ainda estava alto, quebrei o planeio, arredondei e toquei três pontos, mas bem depois do primeiro terço.
Arremeti, fiz novamente o circuito, devido ao grande tráfego, era a última manobra. Passando as referências, abri o ar quente e iniciei o planado. Tira motor, cabra um pouco o manche, compensa e ao mesmo tempo faz a curva, fiz o afastamento, quando entrei na perna do vento estava a em torno 3700 pés, então deixei a aeronave afundar, com medo de ficar longe resolvi rodar base. Perna base, 3400 pés e nada do avião afundar, fui até podia ir sem dar aquelas barrigadas. Rodei final. Tinha que perder 300 pés em pouco espaço. Compensei o avião e esperei ele afundar.
Senti que ia tocar depois da metade da pista, mandei uma glissada, bastante asa e pedal, para afundar bastante. Desfiz a glissada, quebrei o planeio e trouxe para os três pontos. Toquei no primeiro terço da pista, mas depois de uma glissada que não tenho palavras.
Livrei a intersecção da biruta, taxiamos até o pátio e cortamos o motor.
Fomos para o debriefing, já imaginava o resultado, mas como bom estudante de economia, gosto de estatística.
Normalmente dá para fazer seis aproximações, devido ao tráfego, foram quatro. Das quatro, somente duas eu consegui pousar e em nenhuma delas, iria pousar no primeiro terço. De maneira bem racional eu fui reprovado.
A conversa foi bem tranquila, eu não tenho nem palavras para descrever a instrutora, sempre muito atenciosa. Os erros foram comuns da maioria dos alunos, mas confesso que eu subestimei o Paulistinha, acreditava que ele não planava tudo isso e me provou muito pelo contrário.
Voltarei outro dia para domar essa criança. Fica para próxima semana.
PS: Peço desculpas, pois as fotos que ilustrariam de uma forma mais didática esse voo, estava em outro computador que infelizmente não funciona mais.
Bons voos, ótima semana.
Rafael Torquato.