Prático de Piloto Privado 32

posted in: Rafael Torquato, Textos | 8

Saudações Comandos.

Espero que todos tenham tido um ótimo Natal e um ótimo Ano Novo.

Se você está lendo essa coluna, significa que os maias erraram, o mundo não acabou, o PIB foi minúsculo e a inflação fechou o ano a 5,78%.

A inflação serve só como média, mas o custo real foi que a hora de voo da aeronave em questão ficou 10,11% mais caro. Fora todos os outros itens da cadeia.

Como diria o finado Chico Anysio: “E o salário, ó !!!”.

Cheguei ao aeroclube após ser aprovado no Pouso de Três Pontos, para fazer a manobra seguinte: AP-01 – 360º na Vertical.

A manobra consiste em fazer uma aproximação, iniciar um 360º e pousar no local logo abaixo. Ela serve para quando você estiver em cima do aeródromo e caso aconteça alguma pane, consigamos pousar no aeródromo logo abaixo com segurança.

Como de costume, cheguei cedo ao aeroclube, apresentei-me para o voo e fiquei no aguardo.

Tomei café da manhã e depois fui inspecionar a aeronave. Terminado a inspeção, fui à sala de briefing. Lá, pela primeira vez, ouço algo diferente depois de seis meses de curso.

Na conversa, soube que iria decolar, fazer todo o procedimento padrão, ingressar na perna do vento, pegar uma referência través no primeiro terço da pista e outra referência na cabeceira, manteria a altura em 1000 pés AGL, até a final.

Na final, teríamos que manter o eixo da pista. E na referência da cabeceira, abriríamos o ar quente e na referência primeiro terço iniciaríamos o 360º.

Após iniciar a curva, que teoricamente é de 135º, começamos o afastamento até interceptar a “mini-perna” do vento, fazendo em seguida à base e a final. Porém, a atenção sempre está voltada a ele, que pode te jogar ou para cima da pista ou para longe dela.

Após a notificação, acionamos e iniciamos o taxi. Após a passagem de algumas aeronaves, alinhamos e decolamos.

Tudo tranquilo no voo, ingressamos na perna do vento, o mesmo soprava de E, o que nos fazia ir pra cima da pista na perna do vento e para longe dela na final.

Peguei uma referência no primeiro terço da pista, que foi nesse caso o prédio da universidade e uma referência na cabeceira que é um lago.

Quando cruzei o través da cabeceira, tirei o motor e a instrutora perguntou o que eu estava fazendo. Completei o motor, pedi desculpa. Era o costume de ter feito muitas horas na manobra anterior.

Rodei base e final, mantive a aeronave a 3900 pés (altitude do circuito) e tomei uma referência no prolongamento do eixo da pista, para manter-me alinhado, pois não conseguimos mais enxergá-la quando estamos em cima da mesma.

Cruzando a referência da cabeceira, abri o ar quente. Próximo de cruzar a referência do primeiro terço, fiz o cheque de área e senti aquela descarga de adrenalina. Era algo novo.

Tirei o motor e já fui dando asa para iniciar a curva. Era olho na pista, olho no painel, olho na pista, olho no painel. Um erro comum é o aluno começar com curva de grande, o que torna perigoso devido à velocidade de estol.

Então aumentava um pouco a dificuldade. Olho na pista, olho na inclinação da asa, olho no painel e em todo redor. Interceptei a mini-perna do vento, aí vem o ponto crucial. O momento que você gira base.

Nesse momento que diz se você vai ficar alto ou baixo.

Rodei base, sentia o avião afundar. Quase girando curta final, um P56 passa na minha frente e pousa. A aeronave não alongou a perna do vento e atrapalhou meu procedimento. Estava tudo muito perfeito.

Girei final logo atrás, completei o motor, e vi aeronave pousando logo abaixo. Fiz uma 180º para voltar à perna do vento, logo atrás de um Cherokee. A instrutora falou que meu procedimento foi bom, mas não pude completá-lo.

Rodei final atrás do Cherokee, ele baixando a altitude para pouso e eu mantendo os 3900 pés. Na referência da cabeceira, abri o ar quente, e na referência do primeiro terço iniciei o planado e a curva.

Sentia o avião afundando bastante mais de forma bem linear, fiz o afastamento, rodei base. Qualquer momento na perna base que você sentir que não vai chegar, você já encurta e vai para cima da pista.

Na perna base, olhava para o aeroporto que fica em cima de um morro, até parecia que não ia chegar.

Encurtei a base já indo para cima da pista, e acabou que ficou alto.

Iniciei a glissada, mas lembrei-me que o intuito da manobra não é o pouso, mas sim pegar proficiência no 360º, é saber que você consegue perceber o quanto o avião afunda, os momentos certos de fazer o afastamento, girar base, final. Que em caso de emergência real, você possa chegar ao aeródromo com segurança.

Eu conseguiria pousar tranquilamente, mas só no segundo terço da pista. Desfiz a glissada, completei o motor e arremeti. A instrutora disse que fiz uma boa escolha, porque ou arremetia ou pousava e voltava ao ponto de espera, mas a aproximação não era a ideal.

Novo circuito, agora com uma aeronave a mais. Tive que alongar a perna do vento. Cruzando as referências, na primeira eu abri o ar quente, na segunda iniciei o planado e a curva, sempre de olho na inclinação da asa, na pista e no painel, no meio da curva, quando olhava para a pista, sentia que estava baixo, mesmo ainda a 95o pés de altura, mas era só quando olhava para a pista, quando terminava de curvar minha noção de profundidade voltava ao normal.

De olho no altímetro, vendo o ponteiro baixar, fazendo os ajustes para manter a velocidade cravada em 65mph, compensando a aeronave e de olho nos parâmetros do motor, sentia o avião afundar, curvei base. Alonguei a base até o limite e trouxe para a final, abaixei um pouco o nariz para perder um pouco mais de altitude, mas ainda estava alto, quebrei o planeio, arredondei e toquei três pontos, mas bem depois do primeiro terço. 

Arremeti, fiz novamente o circuito, devido ao grande tráfego, era a última manobra. Passando as referências, abri o ar quente e iniciei o planado. Tira motor, cabra um pouco o manche, compensa e ao mesmo tempo faz a curva, fiz o afastamento, quando entrei na perna do vento estava a em torno 3700 pés, então deixei a aeronave afundar, com medo de ficar longe resolvi rodar base. Perna base, 3400 pés e nada do avião afundar, fui até podia ir sem dar aquelas barrigadas. Rodei final. Tinha que perder 300 pés em pouco espaço. Compensei o avião e esperei ele afundar.

Senti que ia tocar depois da metade da pista, mandei uma glissada, bastante asa e pedal, para afundar bastante. Desfiz a glissada, quebrei o planeio e trouxe para os três pontos. Toquei no primeiro terço da pista, mas depois de uma glissada que não tenho palavras.

Livrei a intersecção da biruta, taxiamos até o pátio e cortamos o motor. 

Fomos para o debriefing, já imaginava o resultado, mas como bom estudante de economia, gosto de estatística.

Normalmente dá para fazer seis aproximações, devido ao tráfego, foram quatro. Das quatro, somente duas eu consegui pousar e em nenhuma delas, iria pousar no primeiro terço. De maneira bem racional eu fui reprovado.

A conversa foi bem tranquila, eu não tenho nem palavras para descrever a instrutora, sempre muito atenciosa. Os erros foram comuns da maioria dos alunos, mas confesso que eu subestimei o Paulistinha, acreditava que ele não planava tudo isso e me provou muito pelo contrário.

Voltarei outro dia para domar essa criança. Fica para próxima semana.

PS: Peço desculpas, pois as fotos que ilustrariam de uma forma mais didática esse voo, estava em outro computador que infelizmente não funciona mais.

Bons voos, ótima semana.

Rafael Torquato.

Renato Cobel
Redes