QI & Relacionamentos – Parte III

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Coluna de Coaching de Formação Aeronáutica – Raul Marinho / Blog Canal Piloto
Tema da semana: QI & Relacionamentos – Parte III
 
Caros leitores do Canal Piloto, Oscar Lima Alpha!
 
Estamos encerrando a trilogia dos artigos sobre o tema “QI & Relacionamentos”, e a promoção de premiar com uma cópia autografada do meu livro, “Prática na Teoria – Aplicações da Teoria dos Jogos e da Evolução aos Negócios”, ao melhor comentário também está acabando. Conforme combinamos desde a coluna do dia 08/12, o prazo para postar comentários válidos para a promoção termina dia 21/12, ao meio-dia. Em seguida, eu informarei ao ganhador por e-mail, e envio o livro por Sedex assim que obtiver o seu endereço. Desta forma, reitero meu pedido de informar seu e-mail mais fácil de ser encontrado com rapidez, ao final de seu comentário, ok?
 
Na coluna desta semana, além de tratarmos de alguns exemplos de relacionamentos baseados no altruísmo recíproco daqui mesmo originários, iremos conhecer um outro mecanismo cooperativo, a “cooperação em clusters”, que trará uma série de sugestões para os participantes do CCP – “Complexo Canal Piloto” (este blog, o canal no YouTube, a conta no Twitter, e o grupo no Facebook). Este assunto não está explicado no meu livro (nem no áudio-livro), ele é fruto de um projeto que eu desenvolvi para o Banco Real (hoje Santander) em 2006/07, e eu recomendo ler este artigo aqui, do meu outro blog (Toca Raul!!!), que trata deste assunto de uma maneira bem simples e didática. Passemos à coluna de hoje, então.

Eu não conhecia o Canal Piloto há até muito pouco tempo atrás, e descobri os vídeos do Sales por acaso, em um fórum de discussão sobre aviação – onde, por sinal, estavam criticando o trabalho do Sales (injustamente, foi uma babaquice de um cara, refutado pelos outros debatedores depois). Eu vi o vídeo, e contrariando as criticas que havia lido, achei genial: “Poxa, até que enfim encontrei um cara que pensa como eu, e que está fazendo um trabalho interessante para a formação aeronáutica!” – sem contar que a qualidade técnica dos vídeos me surpreendeu. Em seguida, googlei o Sales, e descobri este espaço, e confesso que fiquei meio envergonhado por eu ter um blog tão tosco em termos de recursos áudio-visuais, e tão amador em termos técnicos (daí eu sempre me referir ao Para ser piloto como “meu bloguinho”). Mas, modéstia às favas, eu tinha um bom texto, só que pouco divulgado, em grande parte por minha própria incompetência como blogueiro. Foi aí que me surgiu a idéia de “fazer uma parceria” com o Sales, mas eu sei o que significa isso na blogosfera; basicamente, é o seguinte: “eu coloco um link do seu blog no meu, e você coloca um do seu no meu”. Mas aquilo não me interessava – na verdade, meu interesse nem era divulgar o blog em si, mas sim os meus textos, é diferente. Fazer uma parceria com o Sales só interessaria se fosse possível estabelecer um relacionamento de altruísmo recíproco com ele, mas isso seria possível? Bem… Só daria para descobrir tentando.
 
Sinceramente, eu achava que essa parceria com o Sales não iria dar em nada. O Canal Piloto é um blog dinâmico, com uma linguagem moderna, voltado ao público mais jovem. Já eu sou um escritor de livros sobre assuntos que até os meios acadêmicos acham difíceis; tenho textos longos, nem sempre fáceis, e infelizmente não sou mais nenhum garoto, sou meio tiozão para entender a cabeça da molecada. Mas o fato é que o Sales foi ultra-receptivo às minhas idéias, e foi muito fácil estabelecer um ambiente de confiança e cooperação mútua entre nós. Escrevi o primeiro artigo para ver no que dava, e vi que “a molecada gostou”, apesar de todos os meus preconceitos. E aí foi indo, o segundo, o terceiro, e hoje estamos no décimo-segundo artigo da coluna, que está no topo do IBOPE do Canal Piloto. Enquanto isso, meu blog, que batia nas 500 visitas nos dias bons, hoje tem picos de mais de 5mil visitantes diários – e o volume de comentários, que é o que mais me interessa, aumentou exponencialmente. Parece que esse relacionamento de altruísmo recíproco entre mim e o Sales está rendendo, né? Mas, por que está dando certo?
 
Embora a gente se conheça há bem pouco tempo, e nem tenhamos nos visto pessoalmente ainda, todo o relacionamento que eu mantive com o Sales até hoje foi pautado por uma extrema correção e integridade. Nunca aconteceu de um de nós pisar na bola com o outro, eu nunca me atrasei no envio de minha coluna, ele nunca deixou de publicar meus textos. É pouca coisa, mas é um bom começo, e as portas estão escancaradas para que eventos mais importantes aconteçam em 2012 e além. É assim que começa um relacionamento de altruísmo recíproco: eu não falei na semana passada que a confiança vai sendo conquistada aos poucos? E é isso o que estou tentando passar para vocês, leitores. Se vocês forem corretos com as pessoas com quem vocês se relacionarem na aviação; se vocês forem se expondo aos poucos, e seguirem dando chances de as pessoas mostrarem quem são, vocês irão acabar construindo relacionamentos importantíssimos para o sucesso na carreira. Não tem mistério, muito embora pouca gente aja dessa maneira na prática.
 
Outro exemplo de relacionamento de altruísmo recíproco em construção aqui no CCP é o que estou desenvolvendo com o outro piloto-blogueiro daqui, o também quarentão Fred Mesquita, do Arquivos aeronáuticos. Nosso relacionamento de altruísmo recíproco começou com a necessidade que ele tinha, de arrumar um lugar para ficar em São Paulo, após ter sido convidado para comandar um avião baseado no Campo de Marte. Ora, eu sabia de um lugar aqui perto (da janela do meu quarto, eu vejo a cabeceira 30 de Marte), dentro das restrições orçamentárias que ele havia me informado, então o que me custava dar um pulo lá e perguntar se havia vaga? Isso é o tipo de favor que não custa quase nada para quem o presta, mas tem um valor inestimável para quem recebe. O Fred ficou extremamente grato por isso, e se prontificou a me apresentar seus contatos na aviação na primeira oportunidade – o que, igualmente, custará pouquíssimo para ele, mas poderá ser de enorme valia para mim. Neste caso, o que está ocorrendo é que o Fred, bem mais antigo na aviação que eu, está se tornando o meu QI; e isso só está acontecendo porque há uma relação de altruísmo recíproco em construção. Acho que não haveria melhor exemplo para demonstrar o que eu queria falar sobre “QI & Relacionamentos” do que este, que aconteceu à vista de todo mundo aqui, e com pessoas que vocês conhecem.

Mas o meu relacionamento com o Fred tem uma particularidade: nós nos tornamos amigos por freqüentarmos o mesmo “clube”: o grupo Canal Piloto no Facebook. Se não fosse por este grupo, eu provavelmente nunca saberia que o Fred estava procurando uma opção de hospedagem próxima ao Campo de Marte, e não haveria como iniciar esta relação de altruísmo recíproco que eu citei. Na verdade, a existência de clubes, associações, etc. na aviação é tão importante e tradicional, que a maioria dos centros de formação de pilotos se chama aeroCLUBE – e isso não é por acaso. Além de um espaço para viabilizar a instrução propriamente dita, é fundamental que o piloto tenha um lugar para encontrar outros aviadores, para saber o que está acontecendo, para poder discernir quem é confiável e quem é pilantra: para se relacionar, enfim. Eu, por exemplo, que voei meu PC numa escola (no caso, a EJ), nunca deixei de freqüentar o Aeroclube de São Paulo, sem contar que eu vou quase todo dia numa cantina freqüentada por pilotos, que é uma espécie de micro-aeroclube informal. Ocorre que um clube ou uma associação, além de proporcionar o surgimento de relações de altruísmo recíproco entre seus participantes, também favorece o surgimento de um outro mecanismo cooperativo: a “cooperação em clusters”.
 
No altruísmo recíproco, uma pessoa coopera com a outra em relações individuais entre duplas de indivíduos. Já na cooperação em clusters, cada pessoa colabora com o grupo, e recebe os benefícios do grupo como um todo, não de cada pessoa isoladamente. É justamente por isso que as sociedades humanas costumam formar associações, clubes, etc.: se funcionar bem, este tipo de estrutura realmente traz benefícios gigantescos aos seus participantes. Para entender a lógica deste mecanismo, imagine um grupo formado por três pessoas: um professor de inglês, um de francês, e um de espanhol. Se, neste grupo, o professor de inglês ensinar sua língua para os outros dois, e o professor de francês e o de espanhol fizerem a mesma coisa, cada um dos participantes do grupo teve um custo (ensinar uma língua), mas dois benefícios: eles aprenderam dois idiomas adicionais. Extrapole este efeito para grupos maiores, e os benefícios serão igualmente imensos. Esta é, em essência, a vantagem que está por trás da cooperação em clusters.
 
Vejamos como isso funciona no grupo Canal Piloto do Facebook – vamos analisar somente um aspecto do grupo, para facilitar, que é o de ser um centro de disseminação de informações, utilizado para sanar dúvidas sobre formação aeronáutica. Sempre que alguém posta uma dúvida no grupo, rapidamente várias pessoas acodem com informações sobre o assunto; alguns com respostas incompletas, outros com respostas parcialmente erradas, etc. Mas, ao final de algumas postagens, é possível obter uma resposta razoavelmente clara, completa e confiável sobre a dúvida postada inicialmente. Dá para perceber que este processo funciona muito melhor do que se a pessoa tentasse dirimir uma dúvida individualmente com cada uma das pessoas que estão no grupo? Na verdade, não é a resposta de fulano ou de sicrano que respondeu à dúvida postada, na realidade foi todo o conjunto de comentários que deu a resposta certa.
 
Mas qual a vantagem que as pessoas que ajudaram a responder à dúvida tiveram, ao tentar ajudar? Ou, perguntando de outro modo: por que as pessoas respondem às dúvidas dos outros, se isso não lhes traz nenhuma vantagem, inicialmente? São vários fatores acontecendo ao mesmo tempo, nem todos muito fáceis de perceber. Em primeiro lugar, existe uma questão de escala envolvida aqui: se eu respondo uma dúvida individualmente, eu tenho um custo, e gero um benefício; mas se eu respondo a uma dúvida no Facebook, meu custo continua igual, ao passo que o benefício se multiplica pelas pessoas que têm a mesma dúvida. Depois, há a questão da reputação: se eu sou um cara cooperativo, respondendo às dúvidas dos outros, quando eu tiver alguma dúvida postada, é mais provável que as pessoas sejam mais solícitas para me ajudar. Terceiro: eu posso checar se a minha resposta estava correta, de fato. E, principalmente, há a questão da força do grupo: se eu ajudo a formar um grupo que funciona bem, que traz benefícios significativos para seus participantes, eu tenho vantagens óbvias por pertencer a este grupo (que não teria se este grupo fosse fraco).
 
Isso são as vantagens, agora vamos falar um pouco dos riscos inerentes à cooperação em clusters. Em primeiro lugar, há a questão do isolamento. Se você só se relaciona dentro de um grupo, você fica de fora de tudo o que acontece fora dos limites do cluster, o que limita seus horizontes – daí a conveniência em se relacionar em múltiplos grupos diferentes. Mas o isolamento pode trazer conseqüências ainda piores, com o surgimento de um “sentimento de tribo” tão exacerbado que leva a uma espécie de racismo, que é considerar que quem não pertence ao grupo seja inimigo. E em segundo lugar, há o risco da formação de panelinhas dentro do grupo, o que acaba por diminuindo a força do cluster. De qualquer maneira, estes riscos não são significativos para um grupo no Facebook, sendo muito mais prementes em grupos não virtuais (principalmente quando há interesses econômicos em jogo) – mas fica a dica para quando você for participar de associações ou clubes na sua vida pessoal ou profissional.
 
Bem, meus caros e caras, era isso o que tinha para falar sobre “QI & Relacionamentos”. Eu sei que este assunto foge bastante do tema aviação (que é o foco de vocês), mas eu também acho que as informações apresentadas nestes três últimos artigos são de importância vital para quem quer se estabelecer como piloto profissional – e ninguém vai falar disso em nenhum curso que vocês fizerem como aviadores. Mas fiquem tranqüilos, que a partir da próxima coluna nós voltaremos a nos focar no tema da formação aeronáutica, que é a expectativa principal de vocês.
 
Para o próximo ano, teremos muitas novidades aqui na coluna. Eu acabei de conseguir minhas carteiras de MLTE e IFR, e agora estou pronto para entrar no mercado de trabalho. Então, podem esperar relatos sobre como acontece esse processo de conseguir o primeiro emprego, que acredito seja de interesse de muitos aqui. Outra novidade é que, a partir de fevereiro, eu começarei a publicar uma coluna na revista Flap (a mais tradicional na aviação brasileira), e acho que isso vai possibilitar adquirir muita informação nova para a coluna também. Isso sem contar o que vai acontecer em 2012 que eu nem imagino possível (todo ano é assim), então eu recomendo que vocês continuem antenados aqui com a coluna, que 2012 vai ser um ano agitado!
 
A todos os leitores que leram minhas mal traçadas linhas neste ano, meu agradecimento, e os votos de um feliz Natal, e um excelente 2012! Foi um prazer escrever para vocês, espero que também tenha sido produtivo me ler neste ano que passou. Um grande abraço a todos, e até o ano que vem!
 
PS: O resultado da promoção do livro para o melhor comentário vai ser publicado às 12:30h de 21/01, no espaço de comentários deste artigo.
Alexandre Sales
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