Querelas da Webjet

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Então foi assim, querida Webjet? Partistes antes da hora programada, sem nenhuma despedida, no vai-e-vem da vida? Morrestes em um golpe de misericórdia, deixando como herança seus passageiros, tão supresos como o resto do país?

Você, a única representante fiel do low cost/low fare no país, com seus já cansados mas heroicos Boeing 737-300, fostes dar seu último sopro de vida justamente após o feriado de Finados?

Pois é, fica o dito e o redito, e o não dito no passado. Mas o que será do mercado brasileiro sem ti? Um aumento progressivo de preços juntamente com uma queda no número de voos, como o WH5802 e o WH5805, que já tive o prazer de experimentar duas vezes? Ah não, isso não dá para ficar assim.

Nós, usuários do sistema de transporte aéreo, que fizemos você crescer e tomar o vigor que tivestes até alguns dias atrás, ficaremos mesmo reféns desse tripólio que se aproxima? Já não fostes a única a morrer esse ano, lembre-se que perdemos a Puma Air e a Sol.

Mas se conforme, sua morte não será a única do ano. Aguarde mais algum tempo ai na eternidade, que você terá Trip e NHT, ainda que essa última será substituída pela Brava Linhas Aéreas.

Realmente a Gol fez jus ao seu slogan “Linhas Aéreas Inteligentes”: Seguiu algumas dicas para se manter voando, como a suspensão de lanches gratuitos, substituído pela venda de lanches, assim como procurar a máxima pontualidade, já que avião parado gera despesa. 

E agora, como ficam seus queridos funcionários, que heroicamente a mantiveram voando, mesmo quando existiam problemas, como uma despressurização? Por quem eles voarão? Pela Gol talvez não será, já que mais da metade de seus colaboradores foi desligada sumariamente.

E o Governo Federal, tão sanguessuga como uma sanguessuga obesa, vai falar o que? Que tu fostes mais uma vítima, jogando a culpa nos passageiros por não terem embarcado em suas nobras asas, como se fosse nossa culpa a absurda quantidade de impostos?

Ironicamente, seu final estava anunciado para Julho de 2013, e, para não ter que desfazer essa fusão, deveriam manter uma frequência de 85% na pontualidade dos voos que partem e chegam em SBRJ, o que também as obrigaria a manter os preços baixos para seus jatos não decolarem vazios.

Além disso, o próprio CADE foi mais omisso em não investigar um suposto dumping entre a Verdinha e a TAM, ainda que tenha sido em um passado não tão distante.

E o Terminal 4 em SBGR, que você corajosamente desbravou? A Gol o ocupará ou simplesmente o jogará às traças, piorando o atendimento do aeroporto?

E nossa fiel ANAC, assim como o Ministério do Trabalho, estarão mesmo fiscalizando os direitos dos passageiros afetados e dos funcionários dispensados ou é só para não sujar o ilustre nome do Governo Federal?

Infelizmente, ao menos por enquanto, não existirá outra como você, mesmo que haja uma ressurreição de sua marca. Nem amanhã ou depois de amanhã, nada será como antes.

O que nos fica de lição é que, mesmo quando a ‘competição’ era regulada, o mercado aéreo já foi melhor. E que um país que privilegia uma minoria não merece uma empresa como é a Webjet. Digo no presente porque penso que ela não morreu totalmente, ainda está viva em nossos corações.

No dia 23 de Novembro de 2012, os céus brasileiros ganharam uma estrela verde. O que será que ela está pensando, vendo tudo que está acontecendo?

Antonio Ribeiro
25/11/2012 

Renato Cobel
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