5 dicas para não matar seu INVA de susto

Ser Instrutor de Voo (INVA/INVH) é um profissão gratificante. Contudo, um marcante contratempo é ter de lidar com os mais criativos erros dos alunos que você encontra. “O papel do aluno é achar novas maneiras de matar seu instrutor de susto” – Dizia um amigo meu.

Levando em conta que você não deseja testar as capacidades cardíacas de seu instrutor, vejamos alguma maneiras de não estressá-lo durante o voo.


Coordene suas ações

Boa parte das surpresas são originárias do fato do instrutor não saber o motivo pelo qual alguma manobra ou procedimento está acontecendo.

Quer rolar ou picar a aeronave para ver uma referência no solo? A porta do Cessninha não fechou direito e deseja trancá-la novamente em voo? Precisa largar os controles para pegar algo na mochila no banco de trás? Avise antes, aluno iluminado!

Assim você estará não somente evitando sustos ao instrutor, mas também praticando os conceitos do CRM (Crew Resource Management), essenciais em seu futuro curso de Jet Training.


Avise antes de ajustar a mistura

Coordenar com o instrutor diz respeito não somente aos procedimentos atípicos, mas também aos já esperados.

Certo dia, estávamos retornando do litoral de SP rumo ao interior, e ao atingirmos a altitude de cruzeiro, chegava a hora do ajuste de mistura. O ar rarefeito em altitude requer menos combustível, e assim podemos economizar empobrecendo a taxa de combustível sem perder potência.

O problema foi que atingimos essa altitude ainda sobre a área de serra, de mata fechada, onde seria um terror fazer qualquer pouso de emergência. Para completar, nesse momento meu instrutor estava olhando para a janela lateral, sem visual com o painel.

Sem o avisar, comecei a realizar o ajuste, empobrecendo a mistura até ouvir um engasgue do motor, o que simboliza o limite, requerendo que o ajuste seja um pouco acima desse ponto. Apesar de tudo isso ser perfeitamente normal e esperado, meu instrutor não estava ciente.

Na visão dele, ele estava voando em um monomotor de instrução, sobre uma área de mata fechada, e repentinamente, escuta o motor falhar!

Fechando esse tópico com suas palavras: “Cara do céu, não faz mais isso sem me avisar, quer me matar do coração!?”


Reporte ao desviar de pássaros

Sim, normalmente esse é um momento crítico, com pouco espaço para falar algo. Porém, um simples “Urubu em X direção!” já resolveria.

É o que eu deveria ter feito durante um certo voo de navegação. Em nossa proa, avistei um par de urubus. Na maioria das vezes, o correto é desviar voando por cima dos pássaros, vendo que eles mergulham ao tentar desviar de algo. Contudo, nessa ocasião eles estavam bem mais altos que nós.

Assim, sem avisar ao instrutor, resolvi tirar potência do motor e descer, a fim de passar bem abaixo deles.

Eis que, ao ouvir que eu estava fazendo aquilo por causa de pássaros, meu instrutor logo cedeu ao instinto e assumiu os comandos, aplicando a potência, tentando ganhar o máximo de altitude possível, acreditando que os pássaros estavam adiante em nossa mesma altitude.

Como resultado, passamos raspando no meio dos dois, com as asas da aeronave quase na vertical, devido ao pouco espaço entre a dupla de aves.

O meu desvio seria o ideal, mas a simples falta de coordenação levou a esse episódio.


Cuidado com o que fala

“Eu vou renovar meu CMA mês que vem, espero que não me venham com problemas lá de novo. Voar é minha vida, se for para não voar é melhor nem viver, haha”

São frases como essa que podem gerar muitos problemas dependendo da situação. Uma coisa é citá-la durante uma conversa com amigos em um ambiente já descontraído. Outra, é tentar falar isso como tentativa de descontração no meio de uma aula de voo, com um instrutor totalmente sério.

Um olhar arregalado do instrutor assustado é o mínimo que irá conseguir. Uma suspensão da aula de voo é o que estará no outro extremo. Na dúvida, é melhor pensar duas vezes.


Não discuta ao escutar o “Tá comigo!”

Essa versão nacional do “I have controls” simboliza que tudo mais deve ser deixado de lado, em prol da transferência dos controles ao piloto ao lado durante alguma situação extrema.

No caso das aulas de voo, isso normalmente pode ocorrer durante a decolagem, desvios, recuperação de atitude e pouso. Todos são cenários com pouco tempo e espaço para correção.

Devido a isso, jamais discuta com o instrutor nessa ocasião, mesmo que tal correção seja fruto de um mal entendido ou de uma antecipação do que você já ia fazer no momento que ele assumiu.

A segurança de voo deve sempre estar acima do seu orgulho. Portanto, deixe qualquer debate para ser discutido no debriefing, e não no cockpit no momento da correção.

Essas são apenas algumas dicas de como melhorar sua convivência com o instrutor de voo. Aplique-as, mas também desenvolva outras práticas desse mesmo princípio.

Um instrutor com os batimentos cardíacos calmos é um instrutor feliz.

E você, por quais desventuras já passou durante a instrução? Cite nos comentários.

Alexandre Sales
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