5 ‘tapas de realidade’ dos simuladores de voo

Atualmente há uma visão otimista para a simulação de voo. Cada vez mais se prova o importante papel do voo simulado para o treinamento do piloto real, sejam nos equipamentos homologados nas escolas, ou nos simuladores pessoais em casa, objeto dos futuros aviadores.

Entretanto, nem sempre foi assim. Lembro que no alvorecer das redes sociais, muitos pilotos já experientes viam com maus olhos o voo virtual. “É coisa de manicaca”, “Acham que são pilotos”, “Não passa de brincadeira”, “Isso acostuma mal o piloto” e etc.

Apesar de hoje sabermos que tais argumentos são puramente errôneos, esse preconceito possui suas inspirações. Para evitar que esses tempos retornem, faremos o mal necessário de citar 5 pontos moralmente negativos sobre a simulação de voo, os quais devemos evitar.


Você não sabe pilotar

“Eu tenho 500h de voo no Cessna 152, e voo umas 2h todo dia” – Ótimo, mas isso não irá lhe poupar de grande parte dos erros comuns ao se aprender a pilotar um C152 real.

A física dos simuladores ainda torna o voo virtual muito mais tranquilo e estável do que a atmosfera do voo real, o que acaba lhe fazendo crer que manter um voo reto e nivelado, ou fazer um simples curva, são tarefas fáceis.

Qual não será sua surpresa ao notar que serão necessárias até 10h de voo apenas para você aprender o básico do domínio da aeronave em voo. Claro, isso após você conseguir taxiar sem ficar sambando em cima da yellow line da taxiway.

Se esse gap de realidade ocorre em um simples Cessninha, calcule os que creem saber pilotar um 747.

É como tentar atirar com arco e flecha. Todos sabem a teoria, mas na hora de tentar, é frustante ver a flecha cair na sua frente.


Realista, mas não em todas as áreas

Um detalhe que acaba deixando alguns pilotos virtuais mal acostumados é a ausência do realismo de dano nas aeronaves, problema da maioria dos simuladores do mercado.

Na decolagem, o fato da aeronave correr com uma roda na grama, em um dia chuvoso, não surte aparente efeito, sendo que isso poderia render até mesmo um cavalo de pau sobre a pista.

Já no encerramento do voo, é possível vermos pousos em simuladores onde a aeronave teria claramente estourado o pneu, quebrado o amortecedor, ou trincado alguma parte do montante ou asa. Entretanto, após um simples solavanco, o pouso é um sucesso.

Ao focar-se apenas na física do voo em si, o restante do realismo acaba provendo um falso senso de que mesmo pousando e decolando assim, o usuário é um “bom piloto”. Só que não.


Na aviação real não existe atalho de teclado

Hora de voar. Vamos ligar o motor? “CTRL+E” – Ótimo, já podemos ir.

Há uma linha tênue entre saber operar o cockpit da aeronave, e saber os atalhos que operam o cockpit da aeronave. A diferença entre os dois vem à tona quando o piloto virtual migra para a aeronave real.

Após centenas de horas no simulador, você sabe que, por exemplo, é necessário ligar a bateria antes de acionar o starter no motor. Mas onde fica a bateria no painel?

É justamente para evitar essa escravização pelo teclado, que é sempre recomendável realizar os procedimentos clicando nos interruptores do painel virtual 3D, ao invés de apertar uma simples sequência de botões do teclado.


Voar em simuladores não lhe torna um perito

Outro estereótipo de “simuleteiro”, que acabou por não ajudar a imagem de nosso grupo perante os pilotos reais, é o exemplo do piloto virtual que adora julgar, criticar, ou debater assuntos como se especialista o fosse.

Vídeo de um aluno fazendo aulas de TGL? Lá está ele para julgar o toque na pista. Compilação de pousos com vento de través? O comentário crítico está sempre presente. Boeing ou Airbus? Lá está o veredito dele, apesar de nunca ter pilotado nenhum.

Opiniões, palpites e discussões sadias são bem vindas, porém, o radicalismo de opiniões é o que acaba com o lazer.


Não confie em qualquer tutorial

Tão crescentes quanto os usuários de simuladores são os vídeos-tutoriais de como voar ou operar uma aeronave.

Apesar da intenção das pessoas que produzem esses materiais ser puramente o compartilhamento do conhecimento, é necessário sempre ter atenção à confiabilidade daquelas informações.

Pouco tempo atrás, lembro-me de ter visto um piloto virtual pousando ao final de seu vídeo, onde mostrou um voo local com um Cessna. Apesar do voo satisfatório, me impressionei ao ver o pouso final, quando ele realizou a aproximação e arredondamento beirando os 40 kt, quando o padrão é próximo dos 70 kt, fazendo com que a aeronave pudesse estolar perante qualquer cabrada mais brusca. E deste modo, um padrão incorreto é propagado.

Em suma, continue utilizando os simuladores, como eu e muitos o fazem. Porém, tenha bom senso, humildade e padronização, princípios esses que irão distinguir um piloto virtual, de alguém que simplesmente “brinca de voar no computador”.

Alexandre Sales
Redes
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