Se eu fosse definir a aviação, poderia definir com alguns termos: Apaixonante, guerra suja, oportunidade e comércio. Mas o último termo define melhor em minha opinião.
Em aproximadamente cem anos, nasceram e morreram muitas empresas, seja como moscas ou pelas suas qualidades e defeitos. Muitas se fundiram com outras, e com a recente crise econômica, o termo “fusão” se tornou a chave para a sobrevivência de muitas empresas, tanto da Aviação quanto de outros setores. Alguns exemplos são Air France e KLM, American Airlines e TWA, British Airways e British Caledonian. Uma das necessidades de dois concorrentes se fundirem é a própria questão de sobrevivência. No Brasil e no Chile não é diferente.
Recentemente, tivemos uma fusão entre duas empresas que criará uma das 10 maiores companhias do planeta, a LAN e a TAM, que juntaram os trapos e os retalhos, após uma série de conversas entre seus acionistas, pois muito se diz sobre o que vai mudar ou continuar, mas de acordo com as notícias, a fusão estará concluída até o primeiro semestre de 2012. De acordo com as notícias, os acionistas da TAM e da LAN aceitaram a relação de troca de 0,9 ação da LAN para cada papel da TAM na oferta pública de permuta de ações que será realizada, o que significa que a fusão estará concluída até o primeiro trimestre de 2012.
Outra fusão, muito menos badalada, mas nem menos importante é entre a Gol/Varig e a Webjet, que está em andamento, porém não existe quase nenhuma informação se a Gol vai manter a empresa como “independente” ou se irá engoli-la, tal qual aconteceu com a Varig, que hoje é apenas um produto na prateleira da Gol, restrita apenas para as linhas internacionais. Mas isso não faz nenhuma diferença, pois até nas comunicações, o código das aeronaves “operadas” é simplesmente “Gol”.
As companhias fazem verdadeiras guerras para atrair eventuais clientes, seja com promoções ou com bônus (milhas, assentos preferenciais, lanche…), mas ao público é imperceptível. Para a maioria dos entusiastas, tanto faz se vai voar pela companhia azul, vermelha, verde ou laranja, o que vale é voar bem barato. Com as fusões, muitas companhias desaparecem, mas como é uma questão de sobrevivência, competir é necessário. Quem ganha com isso é o consumidor.
Gol e Webjet: Irmãs separadas no nascimento?
Apesar da Gol ter perdido uma boa grana só em comprar efetivamente e sanar as dívidas, ela foi sábia em escolher a Webjet. Com a mesma filosofia de operação (low cost/low fare), isso ajuda muito na hora da faxina e frota/treinamento, etc.
A Verdinha também opera Boeing 737, alguns ex-Varig, mas todos de uma geração anterior em relação aos operados pela Gol. Mesmo encarecendo os custos, facilita muito a manutenção e operação, já que a Gol irá manter as antigas aeronaves em operação até 2013/2014.
Apesar de não ser relevante, note que, as latas de sardinha com asas da Webjet são mais apertadas que as da própria Gol, que introduziu esse “padrão de qualidade” no Brasil. Quem voou sabe do que falo, pois fiz dois vôos na Verdinha, e sofri com minhas pernas e meu notebook.
A Gol já possui uma experiência em compra de empresas: por R$275 milhões, arrematou a “Nova Varig”, que surgiu do fim da crise da “Velha Varig”. Mas o tiro saiu pela culatra, e de um lucro acima de R$100 milhões, no ano seguinte à compra, fechando o ano com um prejuízo de R$ 1 bilhão de reais. Provavelmente, a Laranjinha não irá cometer os erros que cometeu com a Varig.
Na ponta do lápis, a Gol conquista a tão sonhada liderança do mercado brasileiro, somando a participação da Webjet, o que dificulta mais o caminho a ser trilhado pela futura LATAM. Junte também a probabilidade da Gol entrar no segmento de rotas internacionais, com uma possível compra da TAP, e aí a coisa fica preta para a LATAM, igual os pneus de suas aeronaves, já que o ouro vai parar nas mãos do inimigo, praticamente “mastigado”.
Como já era imaginado, a Gol já possui suas subsidiárias: Smilles, Gollog, Varig e a própria Webjet. A Verdinha não possuiu nenhuma subsidiária, nem antes de sua compra.
O quesito “aliança” pesa muito: nem a Gol e nem a Webjet são membros de alguma aliança (Skyteam, Oneworld ou Star Alliance). Provavelmente, a Gol entrará em alguma, o que será importante para aumentar o número de passageiros e destinos, em code-share.
TAM e LAN: Velhas conhecidas
Não é de hoje que LAN e TAM se conhecem: na década de 90, junto com a TACA, fizeram um acordo para comprar mais de 100 Airbus da família A320. A TACA não entrou nesse embrulho, pois entrou em fusão com a Avianca Colômbia. Um acordo de code-share aqui, outro acordo ali, e deu no que deu: Juntas, detêm aproximadamente 25% do tráfego da América Latina, com todas as suas subsidiárias. Vamos às vantagens e desvantagens.
Se Rolim não tivesse feito essa aproximação na década de 90, talvez essa fusão não seria realizada, pois ele era um executivo de visão, e em seus discursos e palestras, já dava sinais de que era a favor de fusões, por exemplo como fez com a Votec e tentou fazer com a VASP na época de sua privatização e com a Transbrasil, antes do Cmte Omar Fontana falecer e da empresa fechar melancolicamente, em 2001.
A TAM voa basicamente com a família A320, A330, Boeing 777 e 767 e a LAN voa com a família A320, A340 (que a TAM operou até outubro de 2011), Boeing 767 e alguns 737 e DASH 8, esses dois últimos herdados da Aires, da Colômbia. Pensando no futuro, ambas as empresas possuem encomendas: família A320 (NEO e antiga), A330 e 777 (TAM) e da família A320 (dos dois tipos), 767 e 787. Racionalizar essa frota não será nada fácil.
A LAN é líder do mercado chileno e peruano, possuindo 20% do mercado argentino. No Equador, também há uma subsidiária da LAN. Todas elas surgiram pelo fato do Chile já ter seu mercado dominado pela Cia chilena. Suas subsidiárias são: LAN Chile, LAN Colômbia, LAN Equador, LAN Express e LAN Argentina, sem contar LAN Cargo, MAS AIR e ABSA Cargo.
A TAM é líder do mercado brasileiro (sem contar a participação da Webjet somada à da Gol), mas também possui suas subsidiárias. São elas: TAM Cargo, Pantanal e TAM Airlines.
Escolher uma aliança ficará mais difícil para esse grupo, pois cada empresa possui uma parceira: a TAM com a Star Alliance e a LAN com a Oneworld. As duas alianças são muito importantes, mas escolher uma não será fácil: É praticamente impossível ser membro de duas alianças, seria a mesma coisa que um homem possuir duas esposas.
Conclusão
Com base no exposto acima, qualquer uma das duas fusões trarão benefícios e malefícios.
O consumidor sairá ganhando, pois aumentará a competição. Talvez como conseqüência, haverá uma melhora dos serviços. Se for isso mesmo, Alá seja louvado, pois cansei de poltronas apertadas e um lanchinho mirrado. Mas perderá uma opção, pois na prática, quem voar Webjet voará Gol, e quem voar Tam estará voando LAN.
O futuro conglomerado Gol/Webjet terá a difícil tarefa de manter a liderança do mercado brasileiro, que está com um crescimento relativamente bom. E terá uma tarefa maior ainda para barrar o crescimento da LATAM, que possui aproximadamente 25% do mercado latino americano.
Já o conglomerado LATAM terá uma tarefa mais difícil ainda se quiser sobreviver, que será o de barrar a Gol, que conquistou seu espaço com preços baixos e bons serviços. Para a TAM, será fácil, pois seu DNA é basicamente composto de tratar cada cliente como único.
2012 já começou, e a luta vai começar também. As armas já foram dadas, e as regras são bem claras. Para consumidores “normais”, tanto faz voar na companhia azul, vermelha, verde ou laranja, o que importa é ser barato, bom e seguro, pois para entusiastas como nós, fará uma boa diferença. Bons voos a todos.
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