A cultura do cinto de segurança | Minha Proa: 026

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Qualquer pessoa que tenha sido formada na aviação certamente fica maluca ao ver como os leigos tratam o cinto de segurança no dia-a-dia.

Uma das características mais marcantes da aviação é certamente a segurança. São diversos sistemas, checklists, procedimentos e treinamentos que visam, dentre outros fatores, a segurança de voo. É claro que muitos deles não se aplicariam a outros transportes, como os veículos terrestres, mas não devemos ficar frustrados por isso. Afinal, mesmo os aparelhos de segurança existentes em ambas as máquinas são encarados com importâncias totalmente diferentes pelos seus usuários. Outros sistemas e procedimentos adicionais seriam, provavelmente, negligenciados da mesma maneira.

Desde as primeiras aulas de voo, somos instruídos sobre a importância do cinto de segurança da aeronave, que nos impede não apenas de bater contra o painel em um pouso forçado, mas também de bater contra o teto do avião em momentos de Força G negativa. Sabemos a importância de tal equipamento, ele está no checklist e salva vidas, portanto não há decolagem no qual ele não esteja fixado.

Em nossa vida terrestre, entretanto, o que não falta são situações que contrastam com a doutrina existente na aviação. Quando eu estou em algum transporte público, seja ônibus ou van de transporte alternativo, uma coisa que me faz duvidar do poder de lógica de alguns motoristas é ver que eles pegam o cinto de segurança que está na sua esquerda, passam sobre seu peito rumo ao fecho do cinto que está na direta de sua cintura, mas não engatam o cinto no fecho! Ou seja, o fazem apenas para não serem multados, mas não se preocupam o bastante com a própria vida para gastar 0.5 segundos a mais para o engatilhar no fecho! Eu não consigo entender…

O mesmo acontece com os passageiros de ônibus rodoviários, com os quais eu sempre me surpreendo em ver como 90% atam o cinto só depois do motorista anunciar que isso é obrigatório.

A negligência com o cinto de segurança, e com a segurança de modo geral no transporte terrestre, já é tão banalizada que existem fatores com os quais até mesmo você e eu já estamos conformados, mesmo com a nossa indignação com as situações descritas anteriormente.

O que melhor exemplifica isso é a nossa conformidade com a falta do cinto de segurança nos ônibus de transporte municipal. É claro que muitos passageiros viajam em pé (o que é mais uma prova disso), mas ao menos aqueles que viajam sentados poderiam ter direito ao equipamento. Afinal, exemplos de acidentes é o que não faltam, desde ônibus tombando após colisões, até mesmo veículos caindo de viadutos juntamente com suas dezenas de passageiros, que na queda e impacto contam apenas com a sorte.

Você e eu sabemos que esse equipamento seria imprescindível também nessa situação, mas mesmo assim estamos conformados, pois diferente da aviação, os motoristas e passageiros dos transportes terrestres são formados não sob a doutrina da segurança, mas sim sob a infeliz doutrina do “não vai dar nada, não”.

Abraços,

Sales

Alexandre Sales
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