Aeronaves mais suscetíveis ao parafuso

Um estudo realizado pelo Air Safety Institute, feito exclusivamente sobre aeronaves de até 12.500 libras e tendo como indicação a ocorrência de estóis e parafusos, trouxe um dado muito importante. Ao analisar cerca de 450 acidentes desde 1993 até 2001, mostrou que tais incidentes correspondem a 10% do total. E desses, 13% foram acidentes fatais sem chance de recuperação. Ou seja, isso reforça a ideia de que a entrada em parafuso não é um perigo latente ao voo. Mas embora em pequeno número, as chances de recuperação são ínfimas e com uma margem fatal.

Muito se comenta sobre determinadas aeronaves que entram em estol mais bruscamente, e outras que na realidade dão somente o gostinho do mesmo. Usando como exemplo aeronaves de instrução, temos o AB-115, que entra em estol facilmente e sem grande esforço. Já um Cessna 152 precisa ser muito mais trabalhado para que entre nessa situação. Da mesma forma ocorre com a incidência de parafusos acidentais e comandados. Determinados tipos de aeronaves têm mais resistência a esse problema. Algumas vem inclusive pensadas para saírem do mesmo sozinhas. Em compensação, outras aeronaves têm uma facilidade imensa e predisposição a ter problemas com a distribuição do CG, que como vimos, promove o parafuso chato.

Seguindo esse raciocínio, a pesquisa da Air Safety focou-se em descobrir quais eram as aeronaves mais suscetíveis a passar por um parafuso após um estol, ou mesmo a um passeio do CG. Buscou ocorrências desde em aeroclubes até na aviação geral. Foi encontrado então um dado importante e muito sugestivo: relacionando os mesmo 450 acidentes, cerca de 80% ocorreram em altitudes abaixo de 1.000 pés – ou seja, abaixo da altitude mínima do circuito de tráfego dos aeroportos em geral – 7% acima desta, e outros 13% de uma outra altura desconhecida. Foi aí que, juntando-se os dados, percebeu-se que as aeronaves mais sujeitas a acidentes ocasionados por estóis, e seguidamente entrada em parafuso, são aeronaves que operam constantemente no circuito de tráfego do aeroporto, executando toque e arremetida: as aeronaves de instrução.

Dentro desse dado, foi encontrada uma informação até mesmo mais específica: O maior registro de acidentes por entrada em parafuso e estol é em aeronaves de trem fixo, não somente por questões aerodinâmicas, mas também pelo fato de que são muito mais usadas. De fato, isso faz todo o sentido se observarmos a frota de hoje da maioria dos aeroclubes. Somando-se o alto índice de operação, constantes voos, pilotos com pobre experiência a bordo e a operação sempre em baixa altura, temos a fórmula perfeita para uma alta incidência de acidentes, fatais ou não, envolvendo aeronaves de instrução, que entram em estol e consequentemente em parafuso. Uma conclusão geral sobre esses dados é que instrutor a bordo não é garantia. Portanto, faça sua segurança: respeite os limites da sua aeronave, e deixe o “jeitinho brasileiro” pra lá. A experiência é o mais caro produto que você pode adquirir na aviação. 

Eduardo Mateus Nobrega
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