O assunto de hoje trata do conceito de reação do piloto, e dos passos primordiais além dos obrigatórios numa emergência real. Como sabemos, cada piloto pode lidar de diferentes maneiras com uma situação ruim. Recentemente, tivemos um acidente com uma aeronave da Avianca, onde graças à reação do comandante, a emergência, ainda que grave, pôde ser contornada, e os riscos envolvidos na situação foram mitigados. Observando a reação do piloto, pude perceber que ali ele exemplificou todo o conceito de gerenciamento do risco no fator “durante”. Só para recordar, para maior compreensão do que seria “saber cair”, eu separei esse conceito em três partes: o “antes”, o “durante” e o “depois” da emergência, onde cada parte conta sensivelmente para a chance de sobrevida e de preservação da aeronave.
Voltando ao caso do voo da Avianca, o que pudemos tirar como exemplo foram a tranquilidade e frieza do piloto, sem nunca deixar de lado a sensibilidade com os demais a bordo na aeronave. Lembre-se: você não está sozinho no avião. Os outros que eventualmente ali estiverem podem não entender nada do que está acontecendo, e tranquilizar as pessoas informando o que precisa ser feito é primordial para, até mesmo, garantir que você o consiga fazer. Esse então seria o primeiro passo ante a uma emergência. Apesar de não estar nos manuais e no treinamento, é um passo muito importante e que não pode ser pulado. Mas isso não vai solucionar o problema, certo? A próxima etapa se resume em fazer o que um ex-professor meu dizia: pegue as regras, jogue-as fora, pegue então o manual da sua aeronave e faça dele a sua bíblia. Essa etapa do fator “durante” é muito técnica, e normalmente muito ensinada durante a instrução prática. Ela funcionará muito bem se você tiver cumprido os detalhes de um bom planejamento e conhecimento da sua aeronave, que seria o já citado fator “antes”.
Não me prendendo muito ao detalhes técnicos inerentes ao treinamento da aeronave, podemos partir para um ponto de igual importância. Uma vez que você tenha uma tripulação preparada, passageiros informados e tranquilizados, e a compreensão de que se encontra na fase de Detresfa (quando se sabe que um pouso de emergência será necessário), a escolha da área de pouso deve ser o próximo passo. Nesse caso, sempre deve ser considerado o pouso em lugares onde seja mais fácil a localização da aeronave, e onde o contato com o solo seja menos danoso à estrutura da aeronave, o que consequentemente acarretará em um menor choque para as pessoas a bordo. Parece muito intuitivo, mas ao contrário do exemplo do pouso no rio Hudson, nem sempre o pouso na água é a melhor alternativa. Muito embora este preserve e muito a aeronave, maiores riscos são envolvidos nessa alternativa, que deve ser tomada somente em momentos onde não haja outra possibilidade.
Nos próximos dias da semana, veremos o que acontece na fase do “depois”, e o que o piloto pode fazer mesmo após um pouso de emergência, ou como todos os outros fatores contribuem e contribuirão sempre para que, no fim, você saiba como cair.
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