Centro de Controle de Operações

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Continuando com a série “Operações”, falemos agora a respeito do cérebro da empresa aérea, o Centro de Controle Operacional, ou simplesmente CCO.

O conceito de CCO é aplicado aos mais variados setores e ramos de atividade, desde as Polícias, Concessionárias de Rodovias, redes de trem e metrô e etc. A idéia principal é manter em contato direto, na mesma sala, diversos profissionais responsáveis por controlar a operação da empresa e tomar decisões críticas para minimizar possíveis problemas no menor tempo possível. Na aviação não seria diferente. O CCO de uma linha aérea é responsável por manter toda a frota cumprindo a malha de rotas da empresa e minimizar qualquer atraso ou problema que possa vir a ocorrer e que atrapalhe a operação ou cause qualquer transtorno aos passageiros.

O número de pessoas que trabalha dentro do CCO de uma empresa aérea depende diretamente do número de aeronaves, voos e tripulantes. As funções desempenhadas são diversas e cada setor dentro do CCO conta com profissionais específicos para cada função. O CCO funciona 24 horas por dia, 7 dias por semana, 365 dias por ano. Por estarem todos na mesma sala, qualquer problema que ocorre em um setor, os outros setores ficarão sabendo imediatamente, o que permite que sejam tomadas medidas para não agravar o problema existente.

Falemos agora dos setores e profissionais que trabalham no CCO:

• Coordenação de Voos

A coordenação de voos é responsável por garantir que a frota da empresa cumpra a malha de voos do dia. É a coordenação quem define qual aeronave executará cada voo e também é responsável por disponibilizar as paradas para manutenção solicitadas pelo Trouble Shooting. A coordenação organiza todos os voos em sequências que são chamadas de trilhos. Os trilhos são feitos sempre respeitando os horários de HOTRAN da empresa, com o tempo de solo entre os voos. O tempo de solo pode variar entre uma base e outra, e de uma operação pra outra. Por motivos óbvios o tempo de solo ideal de um ATR-72 é bem diferente do tempo de solo de um Boeing 777-300ER.

A coordenação trabalha em contato direto com todas as bases da empresa e com os demais setores do CCO. Sempre que um voo atrasa, é a coordenação quem define qual a melhor solução para minimizar o impacto dos demais voos.

Quando ocorre um atraso de um único voo, todo o trilho da aeronave será prejudicado, motivo pelo qual um voo atrasado de manhã em Congonhas poderá causar impacto em um voo a noite em Manaus. Para minimizar esses atrasos, a coordenação define com muita frequência trocas de aeronaves, modificando os trilhos atribuídos ao avião e até redefinindo totalmente os trilhos. É a coordenação quem define cancelamentos de voo também. Em contato com as bases, caso haja necessidade de cancelar uma etapa, a coordenação define em quais voos os passageiros serão acomodados, podendo inclusive pedir acomodação em outras empresas aéreas. Os CCOs das empresas tem contato constante uns com os outros para definir essas acomodações.

A divisão de trabalho da coordenação varia bastante de empresa para empresa, mas geralmente há um grupo de coordenadores para cada modelo de avião da empresa e um supervisor, responsável por todos os outros funcionários.

• Execução de Escala

A execução de escala é responsável por garantir que haja tripulação disponível para todos os voos do dia. Após a divulgação das programações a todos os tripulantes por parte do planejamento de escala, há inúmeras variáveis que forçam mudanças de programação. No caso de um voo cancelado, é a execução de escala quem irá atribuir uma nova programação de voo, ou folga, aos tripulantes afetados pela mudança. Também é a execução de escala quem monitora os limites de jornada dos tripulantes e sempre que necessário efetua mudanças de programação. Caso um tripulante passe mal e seja necessário sair do voo que iria efetuar, são esses escaladores quem o liberam do voo para procurar atendimento médico e o substituem na tripulação original.

Há várias formas usadas pela execução de escala para ‘fechar’ os voos. Poderão ser usados os tripulantes que estão de reserva no Despacho Operacional (D.O.) da empresa no aeroporto, poderão ser acionados tripulantes de Sobreaviso ou poderão ser efetuadas trocas entre tripulações durante a jornada. Sempre que é necessário trocar um tripulante, os escaladores analisam qual a melhor alternativa para minimizar atrasos e não exceder as jornadas de trabalho dos aeronautas.

A divisão de trabalho entre os escaladores também pode variar entre as empresas, mas geralmente um grupo de escaladores fica responsável pelos tripulantes técnicos e outro grupo pelos tripulantes comerciais. Também há um supervisor de escala, responsável por todos os escaladores.

• Central DOV

Até os anos 90 era comum que cada base da empresa contasse com um ou mais DOVs para planejar e despachar os voos do local. Com o advento dos sistemas modernos de despacho, internet rápida e integração de sistemas, juntamente com a busca constante pela redução de custos, as empresas optaram por centralizar todo o planejamento e despacho dos voos, criando uma Central DOV dentro do CCO. Eles são os responsáveis pelo planejamento e despacho de todos os voos da malha da empresa, em todas as bases.

A Central DOV conta com diversos profissionais para garantir que o planejamento seja efetuado corretamente. O funcionamento da central varia pouco entre as empresas, mas basicamente é dividida em:

• DOVs

São os DOVs que planejam e despacham todos os voos da empresa. Em contato direto com a base, eles são informados do número de passageiros e peso das bagagens e carga previstos para o voo. Com essas informações, são checados todos os dados da rota, NOTAMs, meteorologia e gerada a navegação que será entregue aos tripulantes técnicos.

• DOV NOTAM

Um DOV (ou mais, dependendo da empresa) fica responsável unicamente por filtrar e divulgar os NOTAMs relevantes. Após a publicação de um NOTAM, esse DOV analisa o mesmo e caso a informação seja relevante para a operação, divulga aos demais DOVs da Central e caso se trate de um NOTAM de restrição de pista ou obstáculo nas proximidades de um aeroporto que a empresa opere, envia o NOTAM para a Engenharia de Operações para que seja gerada uma nova análise de pouso e decolagem.

• Apresentação de Planos de Voo

Um DOV (ou mais, dependendo da empresa) fica responsável por apresentar os planos de voo não regulares e mensagens DLA e CHG dos voos da empresa. Muitas vezes a coordenação cria voos de traslado ou voos extras para atender uma demanda. Por não serem voos regulares com HOTRAN, tal voo não constará na lista dos Planos de Voo Repetitivos, sendo necessária apresentação do plano. Também pode ser necessário modificar o nível de voo ou a rota a ser voada, além é claro de modificações de EOBT devido atrasos. É esse DOV quem apresenta o plano (ou DLA / CHG) através de um software específico para isso. No Brasil, o programa utilizado é o SGTAI.

• Supervisor DOV

Tal qual os demais setores do CCO, há um Supervisor responsável por todos os demais profissionais.

• Flight Monitoring

Há um DOV dedicado exclusivamente a monitorar voos críticos e coordenar a operação dos mesmos. Esse DOV é responsável por entrar em contato diretamente com o Cmte do voo em questão e orientá-lo a respeito de qualquer mudança que será necessária após a decolagem do voo como um redespacho por exemplo. Exemplos clássicos são os voos que cruzam a Cordilheira dos Andes, onde muitas vezes, devido a rápida mudança de ventos e pressão atmosférica, é necessário modificar a rota de cruzamento para evitar turbulência severa. Outro exemplo é o acompanhamento de voos ETOPS e voos com RECLEARENCE, onde caso necessário esse DOV enviará diretamente ao Cmte do voos, as novas informações necessárias.

• Trouble Shooting

O Trouble Shooting é formado por mecânicos experientes que tem como principais funções orientar as equipes de manutenção das bases quanto a correta solução de falhas e panes apresentadas pelas aeronaves e organizar, junto a coordenação, as paradas para manutenção (tanto corretiva quanto preditiva) das aeronaves. Sempre que um Cmte reporta uma pane no RTA (Relatório Técnico da Aeronave), o mecânico que está atendendo a aeronave na base entrará em contato com o Trouble Shooting para definir a melhor ação a ser tomada. Muitas falhas não podem ser resolvidas imediatamente através da substituição de algum componente por inúmeros fatores, dentre eles falta de material na base, tempo de solo reduzido e etc. Nesses casos, o mecânico do Trouble Shooting consulta o M.E.L. (Minimum Equipment List) da empresa para aquela aeronave e define se será possível a aeronave prosseguir com aquela falha ou se será necessária intervenção imediata. Há várias falhas que permitem que a aeronave continue voando em total segurança e juntamente com o mecânico na base, é definida a ação a ser tomada. Após definida a ação, caso a aeronave tenha sido “liberada acordo MEL XX-XX” o Trouble Shooting informa a coordenação de voos o número máximo de dias (ou ciclos, ou horas) que a aeronave poderá voar naquela condição e informa em quais bases da empresa há material disponível para a ação corretiva para que seja programada a parada da aeronave.

• Piloto Coordenador

A função “Piloto Coordenador” foi criada nos anos 90 pela Lufthansa. Trata-se de um Cmte da empresa, com comprovada experiência, cuja função é dar suporte aos tripulantes técnicos da empresa na tomada de decisões críticas e servir de “link” entre a tripulação e os demais setores do CCO. Logo após sua criação, tão logo os resultados da implantação apareceram, várias empresas ao redor do mundo criaram a função dentro de seus CCOs. No Brasil, a pioneira foi a VASP no final dos anos 90.
O piloto coordenador atua em contato direto com todos os setores do CCO para definir as ações a serem tomadas. Há várias situações que exemplificam seu papel, como por exemplo emergências e panes em geral. Quando em voo ocorre alguma emergência, é o piloto coordenador quem entra em contato imediato com o Cmte da aeronave em questão para dar suporte e ajudá-lo nas decisões críticas, como por exemplo, o melhor local para pouso e definição da melhor ação a ser tomada, sempre tendo como foco principal a segurança de voo. É também o piloto coordenador quem define junto a coordenação e ao Trouble Shooting, a melhor ação a ser tomada no caso de uma falha. É ele também quem define junto a Central DOV, diversas modificações no planejamento do voo como mudança de nível de voo por restrições operacionais e adicional de combustível para algumas situações. É ele também quem terá contato direto com os tripulantes para dirimir dúvidas quanto a operação da aeronave e informar a respeito de restrições operacionais relevantes, através de um documento específico, para o caso de aeronaves liberadas acordo MEL.

Como foi possível notar, há um verdadeiro exército trabalhando por tras para que cada voo possa sair no horário.

No próximo artigo irei mostrar como tudo isso funciona na prática.

Philipe Pacheco
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