Chequei o PCA. E agora, o que devo fazer?

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Costumo sempre conversar com os alunos de INVA teórico sobre esse assunto: o que fazer depois do cheque de PCA?

Já falei em muitos artigos, e quando respondia semanalmente ao e-mail de dúvidas, que a aviação é um mundo instável. Ela sofre oscilações muitos fortes, onde temos períodos de muitas contratações, e outros de muitas demissões. Atualmente, passamos por uma fase onde a aviação executiva e as companhias aéreas estão em compasso de espera com relação ao futuro econômico do Brasil. Só temos uma companhia aérea contratando no momento. E aí, o que faço para estar pronto para o mercado de trabalho?

Todos sabemos que é necessário ter uma experiência de no mínimo 500 horas de voo, ICAO 4, carteiras PCA-MLTE/IFR válidas e Jet Training para almejar o ingresso em qualquer empresa aérea. A única companhia aérea que fugia dessa regra era a Azul, que contratava pilotos recém-checados, com poucas horas de voo, mas com ICAO 4 e Jet Training. Para acumular essa experiência, existem algumas possibilidades: uma delas é arrumar um avião particular para voar em troca das horas de voo. Outra alternativa é pagar em busca das horas de voo, seja no EUA (time-building), ou no Brasil. Uma terceira opção é trabalhar como INVA.

A possibilidade de arrumar um avião particular para voar, ou conseguir trabalhar em um táxi-aéreo, exige a famosa indicação. Muitos, quando não conseguem, ajudam o pessoal que trabalha no hangar, fazendo o “networking” da aviação executiva. Hoje em dia, muitos donos de aviões particulares estão voando muito pouco, no entanto, essa ainda é uma oportunidade. E vale ressaltar que, caso você consiga um emprego na aviação executiva, muitas vezes se ganha muito mais do que na comercial. Outro ponto importante é que, na executiva, voa-se desde Cirrus até King-Air, Pilatus, Matrix ou Meridian. Você não vai voar um C-152, por exemplo, porém tem que ir lá no hangar, morar lá, para ter alguma chance de conseguir ingressar na executiva.

Como o mercado no EUA e Oriente Médio está em crescimento, uma chance é ir para o Estados Unidos, convalidar a carteira de PC-ANAC para PCA-FAA – o que não é barato, algo por volta de 50 mil dólares – e tentar arrumar um emprego como INVA nos Estados Unidos, conseguindo assim o direito para trabalhar e viver naquele país, e depois tentar arrumar um emprego por lá. Outra possibilidade é fazer o TYPE RATING do A320 ou B737, e tentar uma colocação na África, Ásia ou no Oriente Médio.

Vejo muitos alunos com pressa para checar o PCA, muitas vezes voando por voar – ou seja, sem buscar realmente aprender a voar por instrumentos, a navegar visual e fazendo o curso do MLTE (Sêneca ou Baron) – desejando concluir o mais rápido possível, porque querem estar na próxima turma de INVA, ou pelo motivo de simplesmente concluir o mais rápido possível. E aí fico pensando: qual é a motivação dessa pessoa para ser piloto? Será que ele realmente quer ser piloto? Ou melhor, como será a transição de aluno para funcionário?

Está na hora de começar a refletir um pouco antes de começar a trabalhar. Hoje, com muitas escolas e com poucos alunos, esses alunos estão cada vez mais sendo tratados como clientes, e podem não se acostumar facilmente à postura de empregado. A conquista do emprego deve ser acompanhada de uma mudança de postura do piloto, que era aluno e agora será funcionário. Postura de empregado, que vai ingressar em um mercado de trabalho competitivo, com muitos candidatos para poucas vagas.

E a instrução? Como é trabalhar como INVA? Essa também é uma alternativa para acumular horas, e que ajuda na transição de aluno para funcionário. Sobre essa profissão que conheço bem, já que trabalho como INVA prático e teórico, deixo para falar em outro post.

Nesse mundo com concorrência em alta, muitos acabam ficando pelo caminho por acreditarem que seria fácil. Tirar as carteiras para quem vem de uma família com grande poder aquisitivo é muito fácil, e também, a aviação é cercada de glamour. Para muitos, arrumar um emprego na aviação é fácil, mas falta o “amor”, e aí muitos acabam desistindo depois de alguns meses – pela rotina de muitos dias fora de casa, por não estar em casa em momentos como falecimentos ou nascimentos, e pela solidão quando se está fora de casa.

Por isso, faça uma reflexão muito grande: enquanto você é aluno, cliente, você é servido. Já quando passa a ser funcionário, a mentalidade tem que mudar, e aí o novo profissional tem que ter o brilho no olhar mesmo se for para voar um C-152 ou um Boeing 737, ou mesmo o A350. Tem que ter o “sangue nos olhos” para voar.

Rodrigo Satoshi
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