Paixão na Aviação

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A aviação é algo realmente fascinante. Basta ver os olhos de uma criança em um aeroporto, olhando o avião no finger, e observar a quantidade de fotos que ela tira, a alegria e a euforia mesmo que sejam cinco da manhã. Há alguns meses, escrevi o artigo  “Por que ser piloto de avião”, onde mencionei que devemos escolher uma profissão pelo amor, não pelo dinheiro. Hoje, vou escrever sobre a alegria e a paixão de voar, das quais muitos pilotos, às vezes, acabam se esquecendo quando estão voando.

Muitas vezes, alguém acaba se tornando piloto de avião por uma decisão já tardia na vida adulta, erroneamente motivada pelo dinheiro ou pelo “glamour” da profissão de “motorista de avião”. Isso mesmo, caro leitor, não escrevi errado: atualmente, alguns aeroportos se parecem com uma rodoviária. Basta pousar em uma cidade pequena para ver o “glamour” daquele aeroporto, ou o maravilhoso pernoite ou inativo em uma cidade que, às vezes, não tem sequer sinal de internet para celular. Ou então, basta ver a movimentação das aeronaves nos grandes aeroportos, onde a mesma pára no gate, descem os passageiros, troca-se a tripulação, e logo em seguida outros passageiros entram naquela mesma aeronave, que ficou apenas entre 30 a 50 minutos no solo. Para quem pensa no tal “glamour”, lembro que o faturamento de uma companhia aérea vem do transporte de pessoas em sua maior parte, e portanto, é importante que se atinjam esses objetivos, seja com glamour ou da forma que as condições permitirem.

Mas voltemos ao início do texto. Existem pessoas que descobriram essa paixão ainda criança, quando viram um avião pela primeira vez, e ficaram admirando essa máquina. Outras já nasceram gostando de aviões, e assim, enquanto alguns brincavam de carrinho, outros adoravam brincar de avião. É essa paixão que alguns aviadores levam para dentro do cockpit, e por isso, alguns momentos de sua formação serão lembrados para sempre  por essas pessoas, como o primeiro voo, o primeiro voo solo, o cheque do PP, do PC e assim por diante.

Cada vez que decolo, tento me lembrar de apreciar a paisagem lá de cima, de ver como o mundo é bonito: o céu, o mar, o sol, as cidades, tudo isso que com o pôr-do-sol ou o nascer-do-sol fica muito mais bonito. Adoro voar à noite e ver as cidades e as estrelas. Muitas vezes, no entanto, nos esquecemos disso e acabamos virando apenas uma extensão da máquina, preocupados com o horário, com os parâmetros do motor, pensando no procedimento de aproximação, simplesmente “jogando conversa fora” ou, então, reclamando da vida. Ao invés disso, deveríamos olhar e pensar quantas pessoas têm esse privilégio de ver o mundo assim, e poder estar em vários lugares em tão curto espaço de tempo.

Sei que às vezes o estresse, a pressão (seja ela familiar ou da própria empresa), nos fazem esquecer de apreciar tudo isso, mas ao ver uma criança apaixonada por aquela máquina, sei que ela tem o mesmo sentimento que eu tinha naquela idade. E hoje, não importa se o avião que eu estou voando ainda não é um Airbus 320 ou um Boeing 737. O mais importante é que eu estou voando, e essa é a minha profissão. Essa é a minha vida. A alegria de fazer um pouso perfeito e ver o pôr-do-sol lá de cima é sempre indescritível. Voar é aproveitar os privilégios que podemos ter como piloto de avião, e não ser somente uma extensão da máquina.

Rodrigo Satoshi
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