Todos nós conhecemos aquela velha frase: “Tudo o que sobe tem que descer”. Mas claro, nem sempre as coisas descem como a gente gostaria. Essa regra se aplica totalmente ao voo. Toda aeronave, uma vez que decola, precisa pousar. Há quem diga que o bom piloto é aquele que tem o número de pousos igual ao de decolagens, mas essa regra não pode ser genericamente aplicada. Algumas vezes, em determinadas situações indesejadas, precisamos abrir mão do pouso corrido, aquele pouso bonito que todos veem e admiram, por um pouso sofrido, não escolhido, feio e acidental, mas que certamente objetiva a sobrevida de todos a bordo da aeronave. Um frase me chamou atenção recentemente, após o desaparecimento de uma aeronave no Pará. O filho do piloto então desaparecido junto com a aeronave e a tripulação disse: “Meu pai sabe cair”.
Pensando um pouco sobre isso, cheguei à seguinte pergunta, um tanto que desconfortável para algumas pessoas, mas necessária a todo piloto: Como saber cair? Obviamente que treinos envolvendo panes de inúmeros tipos são essenciais para um aperfeiçoamento de reação numa situação de emergência, mas existem inúmeros outros detalhes que às vezes não nos são passados, e que podem fazer a diferença no fator mais importante numa emergência: a preservação de todas as vidas a bordo e fora da aeronave.
Uma curiosidade sobre uma “queda bem executada” é que ela tem um antes, um durante e um depois da emergência, tudo priorizando a chance de sobrevida e o resgate. Pesquisas mostram que pilotos que se focaram em preparar a aeronave para um pouso de emergência, e deixaram de lado a solução da pane após até duas tentativas de solução da mesma, obtiveram cerca de 35% mais sucesso nesse “pouso”. Ou seja, executar determinados passos, ou mesmo não executar o que seria intuitivo, leva a uma maior expectativa de preservação das vidas e da própria aeronave.
Um outro dado importante que envolve esse mesmo assunto é que, em uma parte considerável das vezes, muitos pousos de emergência são executados havendo uma pista disponível muito perto, ou mesmo um local bem mais seguro para pouso. Isso mostra que gerenciar e usar os recursos do terreno ou localização também é muito importante. Quem já esteve em treinamento sabe como é frustrante, após uma simulação de pane paga pelo instrutor e todo ensaio do pouso de emergência feito, ele dizer algo como “e aquela rodovia vazia, comando?”, ou “você não acha que aquela pista ali na frente teria sido mais interessante?”. Seria cômico se não fosse trágico.
Esse será nosso tema abordado em mais uma semana de séries aqui no Canal Piloto, objetivando entender detalhes que não nos são passados durante os treinamentos de maneira mais didática, ou mesmo que atualmente não se leva em conta quando entramos numa situação de emergência. Lembremos que “saber cair” não significa voar esperando uma situação ruim, mas sim, saber avaliar e gerenciar você, sua aeronave o que lhe está ao alcance na hora.
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