Diário do Jet Trainer 07

posted in: Aaron Móes, Textos | 5

Oscar Lima Alpha leitores do Canal Piloto e a todos que acompanham, ou não, o “Diário do Jet Trainer”. No relato de hoje, que será o penúltimo (missão pré-check), irei finalmente falar sobre os tão pedidos procedimentos de emergências e situações de pane, que não podem faltar em nenhum treinamento e muito menos no meu diário!

Pois bem, o instrutor dessa missão era o Domingues e a ocasião não podia ser melhor, afinal, foi ele quem nos ensinou o conceito e a filosofia da: “Calma, elegância e tranquilidade…” que seria de grande aproveitamento em nosso treinamento.

A missão começou tranquila, o Domingues passou novamente o conceito de não se desesperar, não perder o foco, ter pressa em fazer as ações e coisas do gênero. Eu pelo menos fiquei meio receoso com o tal “voo de emergência” porque, se quando eu voava P-56C, C150, Twin Comanche o bixo já pegava, imagina agora num Boeing 737-800!? Nem precisei me preocupar, todas as emergências foram muito bem brifadas, afinal o foco não era testar nossa capacidade de solucionar uma pane com conhecimento total do avião, e sim demonstrar como era esse tipo de filosofia na aviação grande!

A nossa primeira pane foi fogo no motor logo após a V1, tudo havia sido brifado anteriormente, continuamos com calma a decolagem até a altitude de segurança para executarmos as ações necessárias (check list), identificamos o motor em pane, conferimos nos instrumentos e após estar em comum acordo, cortamos o motor, sempre com ambos os pilotos cientes exatamente do que estava acontecendo e de quais medidas seriam tomadas.

Após essa primeira demonstração de pane, nós reacionamos o motor e prosseguimos com o voo normalmente, onde foi demonstrada uma pane de despressurização, então, com calma, elegância, tranquilidade e check-list em mãos, fizemos passo a passo os procedimentos necessários, simulamos a utilização das máscaras, realizamos os itens do check-list, descemos para uma altitude inferior a 14 mil pés, nos comunicamos com a tripulação, torre e etc, foi muito bacana e felizmente ninguém morreu!

Quando tudo parecia bem e nós já estávamos retornando a altitude de cruzeiro, um motor apagou e perdemos o piloto automático (triste…), agora teríamos que voar na mão! Realizamos os check-lists necessários e prosseguimos para o nosso destino, que estava operando abaixo dos mínimos, sem previsão para alguma melhora, então era hora de se informar de como estava a situação na área, já começamos a pegar ATIS e informações por rádio a respeito dos aeroportos da região, dando preferência aos maiores, afinal, estávamos em pane!

Se eu não me engano, terminamos indo para São José dos Campos, que estava operando nos mínimos, nessa altura do campeonato já estávamos (magicamente) com os dois motores acionados e operando normalmente. Nos ajustamos na órbita e iniciamos o procedimento ILS, mas tudo estava calmo de mais pra ser verdade, eis que perdemos um motor enquanto estávamos na rampa do ILS, eu estava voando e senti uma “balançada”, achei que tinha sido o vento, dei uma corrigida e continuei normalmente, mas quando bati o olho nos instrumentos… novidade, o motor havia parado denovo! Então o instrutor perguntou: “E aí, vai continuar, vai arremeter, vai pra outro lugar, vai informar pros passageiros, vai informar a tripulação, vai fazer o que?”. Então eu pensei, arremeter eu não iria, afinal já estava sem um motor, já estava ajustado no Glide Path do ILS, já estava em emergência e tinha pista grande em frente, então descartei obviamente essa opção e continuei pra pouso, apenas declarei emergência pra torre (eu acho) e avisei as comissárias que perdemos um motor, mas que estava tudo sob controle, se não me engano… Eu só queria botar o avião no chão!
Fui pra pouso e… vuála! Fiz um pousão manteiga! Finalmente eu tinha feito um pouso que eu pudesse falar de boca cheia: “Puts, esse foi bonito hein!?”, além de tudo, com um motor só!

Desaceleramos, paramos a aeronave até que… uma comissária informa que havia fogo na cabine (pra variar), tivemos então que realizar um procedimento de evacuação, então, novamente com check-lists em mãos, com muita calma e elegância, realizamos todos os itens, informamos a torre e picamos a mula!

Bom galera o voo foi mais ou menos assim, como faz muito tempo, não lembro direito alguns detalhes das panes, como a ordem das mesmas ou até mesmo se teve alguma pane demonstrada que eu tenha esquecido de relatar aqui. De qualquer maneira, foi um voo muitíssimo instrutivo, sem nenhum pano preto, onde tudo foi claramente brifado antes de cada pane, fazendo com que pegássemos muito bem a essência de como deve funcionar esse tipo de situação, assim como suas soluções nesse ramo da aviação. Durante o voo tivemos alguns imprevistos, como aeródromos fechados, algumas vezes que alternamos, cálculo de combustível de espera e alguns detalhes a mais que fica meio difícil de lembrar, mas da pra ter ideia pelo relato.

Fica aqui então o penúltimo relato do nosso “Diário do Jet Trainer”, semana que vem irei trazer o relato do voo de check, que apesar de algumas mancadas bobas, foi excelente!

Espero que tenham curtido, quaisquer dúvidas, críticas, sugestões ou perguntas serão muito bem vindas!

Fly Safe,

Aaron Móes

Alexandre Sales
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