Interferência Ilícita

A mais provável das teorias que justificam o súbito desaparecimento em pleno voo do 777 da Malaysia Airlines é a interferência ilícita – em outras palavras, o sequestro. Muitos fatores contribuem para amparar essa hipótese, que inclusive é associada a um possível sequestro do avião, e ainda, à sobrevida dos passageiros a bordo. Sem dúvida, como em todas as outras teorias, ainda existem muitas variáveis. Uma delas é o não envio pelo ACARS das informações detalhadas inerentes ao voo, ou mesmo como alguns sugerem, o próprio não recebimento por parte da empresa e da Boeing. Mas afinal, o que seria o ACARS e como ele poderia mostrar um caso de sequestro?

O ACARS (Aircraft Communications Addressing and Reporting System) surgiu em 1978 com o objetivo de tornar padronizadas, automáticas e fixas as mensagens que alertam o operador e o fabricante sobre qualquer situação anormal na aeronave. Normalmente, um ACARS é utilizado durante todo o voo, e somente fica inoperante durante o total desligamento da aeronave. Ele repassa automaticamente todo e qualquer tipo de informação sobre o avião. Essas informações, por sua vez, são devidamente armazenadas.

Há registros de que, durante um voo, um piloto dormiu e o outro, para pregá-lo uma peça, decidiu acionar o alarme de fogo e assustá-lo. Assim que este o fez, não se passou muito tempo e o fabricante já entrou em contato via telefone com a tripulação em voo, e a empresa foi automaticamente notificada. Em função disso tudo, me admira um 777 não ter enviado nenhuma mensagem alertando que sua rota de voo fora mudada, ou que a tripulação enfrentava algum problema incomum.

Na teoria, isso jamais poderia acontecer. Seriam enviadas centenas de mensagens “telex” de forma imediata para a Boeing e para a Malaysia Airlines. Uma mudança de rota, um provável desligamento de transponder como falamos anteriormente, um pouso em outra pista que não fosse a programada, enfim, qualquer mudança não prevista seria notificada. Voltando agora à nossa discussão da hipótese, como poderia um terrorista, ou mesmo o próprio piloto fora de si, decidir mudar o voo e desligar todos os equipamentos sem que o ACARS fosse utilizado?

Existe a teoria, também, de que o ACARS de fato tenha enviado todos os dados, mas as empresas não os registraram nem fizeram questão de tal. Justifica inclusive a tímida aparição da Boeing no caso até hoje. Um sequestro – ou interferência ilícita, conforme nos referimos a ele – seria algo muito provável de haver ocorrido, mesmo que por parte da própria tripulação. Afinal, um piloto fora de si, que usa de suas facilidades para colocar uma aeronave e os demais a bordo em risco, também caracteriza uma interferência ilícita.

Agora a questão, neste caso, é onde os dados do ACARS foram parar. Somente respondendo a essa pergunta, poderíamos ter pistas mais claras sobre o paradeiro dessa aeronave, com 239 pessoas a bordo. E se a aeronave de fato foi alvo de uma interferência ilícita, por que ninguém assumiu a autoria desse suposto sequestro até o momento? Por que nenhuma exigência ou pedido de resgate foi feito? E onde alguém pousaria e esconderia uma aeronave de 63,7 metros de comprimento, e 60,9 metros de envergadura? Isso nos leva a levantar outras hipóteses para o desaparecimento, sobre as quais continuaremos refletindo ao longo desta semana.

Eduardo Mateus Nobrega
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