Livre Pouso 10

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O.L.A. Srs. passageiros, sou a Cmte. desta Coluna e cumprimento todos a bordo em nome do Canal Piloto. Tripulação, portas em automático, hoje vamos falar sobre a Navegação…

O Curso Prático para Piloto Privado de Helicópteros (PPH) precisa atender a alguns critérios, requeridos pelo Regulamento Brasileiro da Aviação Civil (RBAC), para a concessão da licença. Entre eles, existe um mínimo de horas de voo visual diurno, dedicadas ao treinamento de Navegação.

Aprendemos no curso teórico de PPH que Navegar = Orientar + Localizar. Orientação e Localização são elementos fundamentais e devem ser constantemente determinados. Por exemplo, para a nossa Navegação Visual nos orientamos pela bússola e nos localizamos olhando para fora da aeronave, em pontos visíveis da superfície terrestre, tais como rios, rodovias, linhas férreas ou de transmissão, grandes empresas fabris e seus telhados, ou qualquer outra referência visual que possa ser considerada.

Levando para a prática, damos o nome de Navegação Estimada a rota traçada na carta WAC – World Aeronautical Chart (sim, é uma carta mundial publicada em partes de territórios!) e a dividimos em pequenos trechos de 5 ou 10 minutos. Os instrumentos que utilizaremos para checar o estimado neste planejamento serão, basicamente, a bússola, o velocímetro e o relógio. Utilizamos, ainda, a Navegação por Contato, na qual associamos estes traçados às possíveis referências visuais que sabemos ter no caminho. Então, sempre que chegamos a um trecho estabelecido naquele período de tempo e mantemos o contato visual com determinado ponto no solo, partimos para o próximo trecho. E vamos assim até o ponto de chegada.

O meu treinamento consistiu em três viagens de Navegação: duas de 100 milhas aproximadas, totalizando 4 horas de voo e uma de 200 milhas totalizando 3 horas. Como falado no último texto (LP 09), a primeira foi Marte-Itu-Sorocaba-Marte, minuciosamente planejada com a ajuda do INVH Master. Foi abortada pelas condições meteorológicas do dia, mas enfim, realizada na semana seguinte.

Chegada a tão esperada hora, eu estava super confiante, já que tive uma semana a mais para estudar a região e ver os pontos que eu adotaria como referências visuais, basicamente Rodovia Presidente Castelo Branco e uma linha férrea até o Aeródromo de Itu (SDIU), que era bastante escondido, mas seguindo o linhão eu não me perderia. Feito o meu primeiro Plano de Voo completo, partimos!

Voamos pelas Rotas Especiais de Helicópteros (REHs) de Marte até as proximidades da Eurofarma e seguimos pela Castelo com proa de Itu. Eu havia marcado um determinado ponto para sair daquela rota efetuando uma curva de 45 graus à direita e, pelos meus cálculos, já encontraria a linha férrea. Passei por um ponto em que senti certa dúvida se já era a tal entrada à direita, mas como não tinha chegado ao tempo estimado para isso, segui o voo.

Foi quando eu olhei para o INVH Master dos Evil e o sexto sentido com o qual a minha espécie foi generosamente contemplada entrou em modo ON. Com a mexidinha que ele deu no assento, logo a minha mente de PPzinho começou a vagar “Você deixou de fazer alguma coisa”, quando subitamente interrompida :

Evil: A Srta. sabe onde está?  Sabe o que está fazendo?

PPzinho: Sim, claro! Agora preciso fazer uma curva à direita para seguir a linha férrea.

Evil: Certo! A linha férrea…

Confirmei com um sorriso e pensei “Estranho ter chegado tão rápido! Você deixou de fazer alguma coisa…” E procuro a tal linha desesperadamente, mas não a encontro… Ai meu Deus e agora?!

Evil: Você já está visual com o Aeródromo?

Como assim Aeródromo, gente! Nem chegamos ao linhão! Indignada e surpresa, respondi:

PPzinho: Eu sei que o Aeródromo está por aqui, mas eu não sei onde!! Achei que tivéssemos que pegar a linha férrea antes, mas não encontro…

Tempo para a risada malévola de Evil…

Evil: Então a Srta. está perdida?! O Aeródromo está quase na nossa proa e a Linha Férrea ficou lá atrás há alguns minutos. Por que a surpresa, a Srta. não considerou o vento no seu planejamento?

Huuumm… Foi o vento! E eis que surge, inesperadamente, uma pista de terra na nossa proa, um pouco à esquerda de onde estávamos.

O vento! Componente fundamental no triângulo das velocidades para a Navegação (que veremos mais adiante)! Ele estava vindo de cauda, somando-se à velocidade da própria aeronave, por isso chegamos mais rápido.

O restante do trajeto aconteceu sem novidades, assim como as demais “Navegas”, mas a risada malévola de Evil eu jamais esquecerei!

Nos vemos em 15 dias… Livre Pouso pro corte. Boa!

Helena Gagine 

Renato Cobel
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