Não é apenas lançar água

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Apesar de ser um voo comum em relação aos procedimentos e reações aerodinâmicas, o voo de combate a incêndio é bem diferente no que tange o objetivo e foco principal. E é aí que o treinamento se diferencia. Normalmente, um piloto voa com outros objetivos, levando em conta algumas determinadas informações em diferentes momentos do voo. Mas o voo de combate a incêndio se diferencia pelo piloto ter de estar atendo a fatores totalmente alheios ao voo em si. Por vezes, tão atento a estes que se tornam perigosos alguns procedimentos de voo.

O principal desses fatores é o fogo. Desde a decolagem até o pouso, tudo gira em torno do fogo e do seu comportamento, bem como da administração da carga externa quando em caso de combate em helicópteros. Esses fatores não são aprendidos nos treinamentos comuns, muito menos ofertados em escolas de aviação. Dessa forma, o IBAMA (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis), juntamente com a ANAC (Agência Nacional de Aviação Civil), promove anualmente cursos espalhados pelo Brasil.

O IBAMA utiliza de conhecimento específico da brigada de incêndios dos batalhões de bombeiros, e do Núcleo de Operações Aéreas, para passar aos pilotos as informações necessárias para um combate eficiente e rápido do incêndio, observando o comportamento e fazendo uso da topografia local da área afetada. Já a ANAC atua por meio de fiscais, exigindo o cumprimento das normas do manual de cargas externas nas aeronaves, de modo que os pilotos são avaliados e instruídos quanto ao limites e normas de operação.

As atividades incluem captação de água em piscinas e fontes naturais, e o lançamento em estrada dividida em raias para a avaliação de precisão dos pilotos. Tudo também visa a segurança da aeronave, alertando os pilotos quanto aos riscos de operação nessas áreas de ar extremamente quente, e quanto aos riscos da não observação do terreno ao redor. Ambos os fatores têm de ser dominados perfeitamente pelo piloto, enquanto o voo é realizado com perícia. De outra forma, o combate ao incêndio e o sucesso do mesmo ficam comprometidos.

Evidentemente, não se trata de apenas adaptar as aeronaves para tal atividade, mas também de preparar os pilotos para que tenham exímio domínio de fatores totalmente alheios ao voo, com habilidade de sobra para garantir a segurança da equipe de solo e da sua aeronave. O combate a incêndio está longe de ser uma tarefa comum da aviação, ou mesmo uma de suas tarefas mais simples.

Durante o decorrer desta semana, vamos continuar observando do que o voo de combate a incêndios é feito. Já vimos um pouco sobre como as aeronaves são preparadas ou mesmo administradas, e também sobre o treinamento específico dos pilotos. Nos próximos artigos, veremos mais sobre os riscos envolvidos direta e indiretamente nessas atividades, bem como a diferença que ela tem feito no Brasil.

Eduardo Mateus Nobrega
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