O CAN assumiu a realidade do Brasil

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Não demorou muito para que o Correio Aéreo intensificasse suas rotas, e até mesmo mudasse os destinos para abranger mais cidades. Ainda que de forma tímida, era possível ver surgir uma importante ferramenta de comunicação no Brasil. De fato, o objetivo principal do Correio Aéreo sempre foi promover a integração entre cidades, ainda mais numa época onde até mesmo o aparelho de rádio era difícil de ser encontrado. Mas com o tempo, e com o crescimento do trabalho prestado, foi-se percebendo que a necessidade do Brasil ia muito além de receber cartas e malotes.

A frota de aeronaves em operação do CAN também passou por grandes mudanças, à medida em que as rotas iam ficando mais longas. Em 1956, já tínhamos Montevidéu na proa dos traslados, utilizando nada menos que o B-17, voando na média de 400 km/h. Mas o real foco do Correio Aéreo sempre foi e ainda é o território Brasileiro. Era do conhecimento dos oficiais à frente desse projeto a carência e a lacuna que separava povos distantes da realidade e dos cuidados do governo.

Desse modo, não demorou muito para que os pilotos do CAN se especializassem em pistas improvisadas, abertas na mata e que exigiam pousos críticos com sobra de destreza. Há quem diga que os pilotos do garimpo nas décadas de 60 e 70 herdaram muitas de suas técnicas para operação nessas condições. Um fato curioso sobre os pilotos do Correio Aéreo Nacional é que estes desenvolveram tamanha habilidade em navegar utilizando cartas e métodos básicos, que foram convocados para compor a “Senta a Púa” no período da grande guerra, mostrando-se exímios navegadores mesmo em território estrangeiro.

Mas os impactos que o CAN deixou foram muito além de marcar a vida dos pilotos, que hoje agradecem por terem feito parte desse projeto. O CAN, ao mesmo tempo que servia como meio de ponte entre as distantes cidades, funcionou também como ferramenta de humanização de famílias, transformando toda uma realidade das pessoas que, ao menos uma vez por semana, viam de longe as aeronaves trazendo médicos, remédios e atenção para aqueles povos.

Levando um sinal de solidariedade humana, a bandeira do Correio Aéreo tremulava mais fortemente nos ares. O principal objetivo então mudou de foco repentinamente, e passou a ser não cartas, mas sim pessoas. O CAN passou a se identificar com as necessidades do povo Brasileiro, pousando as aeronaves onde parecia impossível. A Amazônia tornou-se outra, virou nossa terra propriamente dita. Até hoje esse desafio perdura, com paisagens semelhantes àquelas de outras datas – talvez menos selvagens, mais Brasileiras, mas as distâncias são as mesmas.

Eduardo Mateus Nobrega
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