Como pudemos ver durante a semana, o combate aéreo a incêndios é pouco conhecido até mesmo por nós de dentro da aviação, um assunto realmente muito pouco falado e raramente almejado por pilotos em treinamento. Eu acredito que nunca ouvi ninguém falar que gostaria de deixar a aviação comercial e se aventurar em uma área como essa, onde o risco do voo é agravado a cada passagem baixa sobre o fogo. Temos quase que 70% do nosso território coberto por matas e florestas naturais, proteger essa vastidão é dever também da aviação brasileira.
No Brasil ainda existem grandes vazios quanto as informações sobre os incêndios florestais, cabendo normalmente a cada estado ter seu próprio esquema de combate e ferramentas para tal. Normalmente são utilizadas aeronaves vinculadas a atividade agrícola de pulverização por serem já especializadas no alijamento de líquidos ou mesmo aviões e helicópteros já em serviço para a defesa civil.
Os pilotos, não menos exclusivos que as aeronaves, são selecionados e treinados por empresas e órgãos estatais, bem como fiscalizados quanto ao seu desempenho pela Agência Nacional de Aviação Civil. Não é de longe um voo comum e é preciso obter muita experiência para realizar um voo assim, de modo que o piloto precisa lidar com os riscos inerentes a um voo a baixa altura e também executar procedimentos técnicos no sentido de combater o fogo em solo.
Os perigos são incontestáveis e latentes. Cada voo é um desafio, conduzir a aeronave sobre uma atmosfera extremamente quente e instável leva o voo a um nível mais crítico, forçando a aeronave e o piloto a adotarem um comportamento mais brando durante todo o voo. Na realidade, todo o trabalho e desempenho da equipe de solo está vinculada a ação aérea, de modo que sua segurança também está.
Como disse anteriormente, utilizar o voo em uma situação que já possua um agravante de risco obriga a elevar o nível de perícia do piloto, toda a tripulação ou mesmo equipe de solo. Durante um voo de combate a incêndio toda brigada precisa estar atenta as manobras da aeronave e coordenando todo combate com a mesma. Perícia de sobra em um voo onde falta espaço para erros mínimos.
Diferentes equipamentos e aeronaves hoje são utilizados, bem como não são poucos os métodos ou procedimentos realizados pelos pilotos. Nos últimos anos o resultado desse trabalho é muito visível, o combate aéreo a incêndios e queimadas fora de controle reduziu muito o desmatamento no Brasil, promoveu uma melhora da conservação de áreas protegidas e aprimorou a aviação de diferentes formas.
O voo de combate a incêndio é um voo nobre, realizado de forma muito bonita e por uma causa extremamente importante. Precisamos conhecer e divulgar mais esse braço da aviação, de modo que um dia possa se ouvir nas escolas de instrução jovens pilotos almejando essa profissão.
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