Argentino e tão bem visto pelos alunos como por um torcedor de futebol é o Aeroboero, uma aeronave histórica e com características muito específicas de pilotagem. Sua história de dar panes e ser difícil de operar acabou criando muitos jargões e piadas sobre ele. Uma aeronave sem dúvida muito polêmica, mas escolhida pelo antigo DAC em 1986 para compor a frota dos aeroclubes nacionais, que acabou sendo disseminada por todo o país, sendo usada para instrução de novos pilotos.
A Cessna havia encerrado a fabricação de alguns modelos básicos. A Piper e a Embraer ou se recuperavam de problemas internos, ou paralisavam a produção, e a demanda por renovação da frota se fazia urgente. Após um curto processo de avaliação, feito por instrutores experientes e oficiais da Força Aérea enviados pelo DAC, o contrato foi fechado e cerca de 400 aeronaves foram produzidas ao longo de 6 anos, sendo distribuídas nos aeroclubes do país de acordo com a demanda de cada um – isso mesmo, as aeronaves foram cedidas pelo governo aos aeroclubes, e as que existem até hoje ainda são propriedade da união.
Assim teve início a história do Aeroboero no Brasil, uma aeronave que já chegou com preconceito, mas pela demanda conseguiu acalmar os ânimos daqueles que aguardavam pela novidade. “Era uma aeronave muito difícil de pilotar, quando se era possível pilotá-la”, diziam alguns. Os relatos de hoje não deixam ninguém na dúvida sobre como era complicado e trabalhoso operar essas aeronaves, quem dirá fazer instrução. Mas o Aeroboero serviu muito bem ao posto e até hoje serve. É uma aeronave robusta e com motorização Lycoming de 115hp, que supria de certa forma sua necessidade por potência.
O mais difícil e menos pensado sobre essa aeronave foi o modo de trazê-la para o Brasil. Contam os registros que elas vinham em esquadrilhas, trazidas da Argentina voando para os aeroclubes, sobre regiões montanhosas e por longas horas, necessitando fazer dezenas de escalas, o que levava os pilotos à exaustão. Acidentes, então, não foram poucos.
Ainda com todos esses esforços e dificuldades, não foi fácil agradar aos que esperavam por mudanças. O Aeroboero trazia de novo a partida elétrica e o rádio de comunicação, mas não atendeu à necessidade de uma aeronave que pudesse realizar novas manobras de forma mais confortável, o que era facilmente feito pelo antigo Paulistinha. Isso obrigou o DAC a reformular todo o programa de instrução e tirar algumas manobras, como por exemplo o parafuso comandado. No entanto, o Aeroboero agradou os pilotos no sentido de trazer boa visibilidade, e por ser bastante previsível em qualquer procedimento. Boatos sem dúvidas surgiram sobre a estrutura e estabilidade dessa aeronave, uma certa rejeição se formou a princípio, e foi isso que trouxe a fama que perdura até hoje do Aerobero.
Apesar de tudo, o AB-115 permanece firme, servindo a frota de muitos aeroclubes pelo país e formando novos pilotos todos os dias. Ele foi uma iniciativa do governo, ainda que atrapalhada, para suprir uma demanda muito específica. De fato, essa iniciativa funcionou e ainda funciona.
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