O começo de tudo, aeronaves de instrução: Reaprender a aprender

Novas ou antigas, cobiçadas ou não, com G100 ou só com altímetro e velocímetro, as aeronaves de instrução são destinadas a formar pilotos, e qualquer uma, independente do preço da hora ou modelo, vai lhe formar um piloto da forma mais adequada possível. Na instrução não existe aeronave pior ou melhor, existe a aeronave que você precisa voar e a hora que tem que cumprir. Já na aviação comercial sim, tudo gira em torno de outras coisas. O fato é que cada aeronave tem suas características, história e limitação – características que devem ser total e claramente compreendidas pelo aluno, história que não deve ser esquecida, e limitações que devem ser superadas. Se você não conseguir pensar assim na instrução, não será num B-738 que irá aprender.

A instrução em breve passará por momentos difíceis. Além de escassez de aeronaves também faltarão, ao meu ver, instrutores em função da mudança nas regras de formação dos mesmos. Então, agora mais do que nunca será necessário pensar dessa forma. O aluno vai precisar focar seu aprendizado não mais somente em pensar se o Aeroboero é mais difícil de pousar do que o Cessna, ou se o paulistinha não tem flape, mas sim em onde e como ele pode conseguir a melhor instrução por parte dos instrutores. Deverá prestar atenção em cada conselho, e dar valor ao aprendizado mais que ao voo em si. Esse sim será o grande desafio do novo estilo de instrução. Não será nem de longe fácil mudar o pensamento atual.

No que tange a observada falta de aeronaves boas e mais acessíveis hoje para a instrução, acredito que o futuro e a solução estão fora dos aeroclubes, estando sim dentro da Anac. É notória a necessidade de abertura da visão da nossa agência reguladora. A homologação de novos modelos excelentes e fantásticos hoje produzidos no próprio Brasil, muito superiores às antigas e defasadas aeronaves hoje utilizadas, se faz a única e melhor saída. Temos modelos mono e multi motores, aeronaves para acrobacia, para operação por instrumentos, que simplesmente iriam – se inclusas na singela relação de aeronaves homologadas – baratear em cerca de 50% a instrução.

Para se ter uma ideia, a hora de voo mono VFR, que hoje custa cerca de 350 reais, custaria cerca de 175, podendo chegar até a menos. Isso tudo, novamente, envolve interesses que estão acima dos nossos, e boa vontade que não depende de nós. Infelizmente, eu como telespectador do reality show da nossa aviação, não acredito que essa seja uma tarefa fácil, longe disso.  

A inovação precisa chegar, mas saber lidar com o que temos hoje em mãos se faz mais urgente do que brigar contra a legislação a nós estabelecida. Então, que venham novas regras e novos desafios. A instrução já passou por momentos difíceis, as aeronaves permaneceram, e muitos novos pilotos continuam a se formar todos os anos. Seja com o Paulistinha, Cessna, Aeroboero ou qualquer outra aeronave que um dia você precise prazerosamente voar, voe como se fosse o seu Airbus ou ATR, da melhor forma possível e superando suas limitações em função das normas. Só assim você abrirá portas para voar melhor e mais rápido.

Eduardo Mateus Nobrega
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