O psicológico que você leva a bordo muda o voo

Às vezes, passamos por determinadas situações a bordo onde tendemos a sempre achar problemas, seja em algum procedimento errado, algum equipamento que eventualmente deixe de funcionar, ou mesmo nas condições climáticas no momento. Todas as possibilidades são pensadas antes de se levar em conta um fator em especial: você mesmo. No símbolo do Cenipa (Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos), podemos encontrar três palavras que definem o que devemos considerar em qualquer situação, a fim de prevenir e investigar um incidente ou acidente: O homem, O meio e A máquina. Infelizmente, parece ser mal de quase todo piloto tender a achar uma justificativa em qualquer outro fator, que não seja ele mesmo, que o possa ter levado a cometer um erro durante o voo.

Um desses fatores, que normalmente não consideramos, é nosso psicológico. Ele influencia de forma tão grande e forte, que nem podemos imaginar. Às vezes, isso passa despercebido nas mais criteriosas avaliações. Ouso dizer que o psicológico é o fator mais difícil de se lidar dos três, onde nem mesmo o próprio piloto pode ter controle total. “O meio” nós podemos evitar, e para ele se preparar; “A máquina” podemos estudar, prevenir e nela investir; já o fator “Homem” é totalmente imprevisível. Não há uma forma de prevenir um possível trauma, ou avaliar todos os dias o psicológico do piloto e da tripulação, como podemos fazer com o tempo e a aeronave. Percebendo isso, é possível enxergar a vastidão de variáveis que há no fator humano e em especial no seu psicológico, variáveis essas que influenciam direta e indiretamente ao voo, e fazem total diferença.

Durante esta semana, esse vai ser nosso assunto principal. Convido vocês a perceberem e entenderem como funciona o psicológico humano em cada fase do voo, quais são os maiores riscos e perigos que sem perceber causamos a nós mesmos, e também, o que pode ser feito para evitar situações onde seu psicológico altere o seu voo negativamente. Conhecemos até bem os fatores fisiológicos, e sabemos inclusive as limitações legais para a operação de uma aeronave. Mas lendo recentemente teorias sobre o desaparecimento do voo da Malaysia Airlines, vi que se sustentavam algumas suspeitas da condição mental dos pilotos a bordo. Inclusive, investigações dentro dos seus convívios sociais então sendo feitas. Percebi que mesmo sendo um fator importante, ele não é considerado o principal, e os questionamentos recaem sobre as demais outras hipóteses.

Como disse anteriormente, o psicológico é o único dos três fatores principais, relacionados ao voo, que não tem uma “manutenção” como os outros. Uma aeronave passa por revisões mensais; o tempo é diariamente estudado, e podemos prever os fenômenos; mas o ser humano é muito mais complexo, e por isso precisamos entender mais como nós mesmos funcionamos a bordo.

Eduardo Mateus Nobrega
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