O trabalho que foi muito além do dever

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Mais do que uma ferramenta de transporte, o Correio Aéreo Nacional foi, acima de tudo, um instrumento de humanização e integração do Brasil, desde praticamente o início dos governos civis. Mesmo quando as distâncias pareciam intransponíveis, mesmo quando não se tinha ideia alguma sobre como o fazer, tudo foi realizado com o forte espírito desbravador dos pilotos que garantiam que, enquanto houvesse condições, o trabalho continuaria a ser feito.

O trabalho do CAN surgiu de uma simples necessidade de comunicação, em uma época onde o transporte mais eficiente era o ferroviário. Ele se desenvolveu rapidamente, mostrando-se prático e confiável. Mas o mais interessante sobre o Correio Aéreo é que ele não se limitou à sua obrigação: ele se flexibilizou e se transformou, de acordo com a necessidade de cada cidade que atingia com as missões. Se em dada cidade houvesse carência de suprimentos médicos, as cartas ou malotes seriam deixados de lado e a entrega de remédios se tornava a ordem do dia.

Por mais de 80 anos, o CAN atua em todo território brasileiro, de modo que suas atividades não cessaram e seus resultados são visíveis, de tal modo que o próprio desenvolvimento de cidades e regiões dependeu dos seus voos semanais ou diários. Quem fez parte ou quem recebeu a ajuda desse braço forte da Força Aérea jamais esqueceu a oportunidade de fazer parte do mais importante projeto de integração social do Brasil. Arrisco dizer que o CAN foi mais importante, inclusive, do que os trabalhos de Organizações Não Governamentais de outros países na Amazônia.

Fugindo do mérito da questão, o principal é olhar para a herança desse projeto, perceber que o trabalho de décadas não sofreu influências políticas e, inclusive, conseguiu desenvolver áreas da aviação brasileira até então obsoletas em relação a outros países. Um fato curioso é que os pilotos no Correio Aéreo ficaram tão bons em navegar usando apenas cartas, em pousar em pistas extremamente limitas e em tomar decisões praticamente às cegas, que todo o conhecimento adquirido durante os anos 30 foi levado para o esquadrão “Senta a Púa”, que atuou na Segunda Grande Guerra. Mais do que isso, tudo ainda pôde ser aproveitado no meio civil para o aperfeiçoamento de aeronaves e de operações em áreas de risco.

Como citei num post anterior, o CAN se identificou com as necessidades do povo Brasileiro, pousando as aeronaves onde parecia impossível. A Amazônia tornou-se outra, virou nossa terra propriamente dita. Até hoje esse desafio perdura, com paisagens semelhantes àquelas de outras datas – talvez menos selvagens, mais Brasileiras, mas as distâncias são as mesmas.

É com muito prazer e respeito que o Canal Piloto cita essa importante fase da aviação Brasileira, não deixando de ressaltar o nosso agradecimento eterno a estes pilotos que bravamente garantiram o cumprimentos das missões sociais a eles dadas. Muito além de suas obrigações com o trabalho, o Correio Aéreo Nacional proporcionou a possibilidade de um povo se unir e se ajudar, muito antes de ao menos inventarmos a palavra globalização.

Eduardo Mateus Nobrega
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