O verdadeiro sentido de voar além do som

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É preciso entender a proporção dos acontecimentos. A ultrapassagem dos limites da barreira do som significou muito mais para a aviação em si, do que para o objetivo momentâneo do homem em voar mais rápido. No entanto, a experiência já nos mostrou que, para alguns fins, essa forma de voo não se faz muito viável. O Concorde é a maior prova disso: dezenas de anos em projetos, milhões gastos, o mundo impressionado, mas no fim das contas, o voo comercial não combinou muito com a velocidade supersônica.

No entanto, o verdadeiro legado da tentativa do Concorde em criar essa nova classe de voo é visível até hoje. Toda vez que voamos em jatos comerciais e olhamos para uma asa, podemos ver a história de esforços, tentativas infrutíferas e a experiência que tornaram possível estarmos ali sentados, a 35 ou 40 mil pés, voando muito perto da velocidade do som e apenas observando como tudo ainda pode se sustentar no ar.

Com esse exemplo do Concorde e muitos outros, ficou claro que voar supersonicamente nem sempre será uma boa ideia. Alguns tipos de voo tornam-se ineficientes em velocidades muito elevadas, e o gasto de combustível seria tão grande para ultrapassar o Mach de divergência que, com a mesma quantidade de combustível, seria possível realizar um cruzeiro completo da mesma rota. Algumas aeronaves poderiam, sim, voar em velocidades supersônicas, mas durante os 3 minutos necessários para ultrapassar a barreira, consumiríamos a mesma quantidade de combustível que seria usada durante a rota inteira de cruzeiro do voo.

Por outro lado, o voo de caça jamais seria o que é hoje, nem significaria o que significa como arma ostensiva, sem a ultrapassagem da barreira do som. Atualmente, uma batalha entre aeronaves que voam em velocidades super e hipersônicas acontece sem nem mesmo elas se aproximarem, pelo simples fato de que é muito difícil o fazer. Um avião de caça, hoje, voa a Mach 2 ou 3, em média. Isso quer dizer que um combate aéreo, como nos anos das grandes guerras, destruiria o avião e mataria o piloto no primeiro tonneau. Então, essa habilidade que os aviões de caça desenvolveram, de cobrir distâncias continentais em horas e se manterem rapidamente longe de qualquer risco, é indispensável para garantir a eficiência dessa arma.

Todas as tentativas falhas forjaram a tecnologia da aviação que temos hoje – de fato, por vezes estimulada por confrontos internacionais – mas sempre findando em um avanço para todos os setores da aeronáutica. Entender o voo supersônico não é difícil, e nem se limita a engenheiros ou pilotos. Como dissemos anteriormente, romper a barreira do som, sem sombra de dúvidas, já era possível há um bom tempo, graças aos potentes motores a jato. Mas tornar o voo praticável, nesse silêncio de forças dinâmicas extremamente fortes, foi um passo tão grande quanto aprender a voar.

Eduardo Mateus Nobrega
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