Durante anos, o principal desafio da aviação foi a construção de motores mais eficientes, e o projeto de fuselagens mais aerodinâmicas. Muito pelo contrário do que se pensa, uma aeronave não voará mais rápido com um motor mais potente (salvo exceções), mas sim, sempre que puder ter maior “limpeza” aerodinâmica. No entanto, um motor influencia sim nas principais características operacionais de uma aeronave.
Uma curiosidade é que um avião começa a ser projetado pelo motor, e só após isso, é possível pensar em qualquer outra parte dele. Um motor envolve muitos fatores: ele precisa ser leve, e ao mesmo tempo pesado; ele precisa ser quente, mas nem tanto; precisa ser durável e confiável. Essas características são levadas em conta na homologação de um motor, por isso somente 3 motores do tipo convencionais são homologados hoje no Brasil: Lycoming, Continental e Rotax. Em algumas aeronaves, eles são praticamente idênticos – ou seja, se você não gostar ou tiver rejeição de um na sua aeronave, não terá muitas opções pra trocar sem que sua aeronave perca o certificado.
Isso é a maior dificuldade da aviação hoje: a homologação e perda de certificado. Em caso de qualquer alteração ou fuga do padrão, a conseqüência será diretamente essa. É com muito pesar que digo que a aviação homologada literalmente parou no tempo, em relação à tecnologia e à gama dos seus motores. Nunca entendi o cerceamento da ANAC nesse ponto, e acredito que nunca entenderei.
Tentando baratear os custos, a aviação se tornou “experimental”, onde o voo é por conta e risco do piloto em comando, muitas vezes este nem mesmo tendo habilitação. A motorização pode seguir padrões automotivos, a manutenção pode ser aquela de “fundo de quintal”, e tudo fica sem dúvida muito mais simples e barato. Adianto que não acredito que esse seja o futuro para a aviação, mas também não sou fã do modelo atual. Acredito sim que uma fusão entre os dois padrões, com uma maior abertura por parte dos órgãos controladores e facilidade de manutenção, seria o futuro para uma aviação sobrecarregada de custos e impostos que é a atual.
Os motores hoje precisam ser repensados, está tudo parado no tempo e sem concorrência. Todos sabem o que acontece quando a concorrência é pequena sobre determinado produto: o preço sobre descontroladamente e, em cima desse preço, ainda vêm impostos e taxas que o governo cobra. Então, uma nova visão urgente e abrangente se faz necessária. Mas primeiro, conheçamos o que hoje temos em mãos e, ao final da semana, pensemos juntos nas melhores saídas.
Não sou projetista nem engenheiro aeronáutico, então vou falar durante a semana sobre as noções básicas de cada tipo de motor mais usado na aviação convencional, e eventualmente na a jato. Quero me limitar à operacionalidade do motor, aos impactos dele na prática da aviação geral, em como cada um opera apesar das semelhanças, como eles se diferenciam, e também, na história da aviação sempre seguindo a limitação e desafio da propulsão.
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