Ou por bem, ou por mal

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Como todo procedimento de abordagem, a interceptação de aeronaves segue um padrão rigorosamente preestabelecido, de modo que segurança do país seja garantida e o risco a quem não tem nada a ver com a situação seja minimizado. Logicamente, o avião que intercepta não abre fogo assim que avista a aeronave sem identificação. Isso poderia até mesmo ser considerado um crime internacional, já que a lei do abate é caracterizada por uma carta da ONU, estabelecendo o conceito de auto defesa. A partir daí, seguem-se então alguns passos para que se evite uma situação assim, ou mesmo um mal entendido. E que passos são esses?

Após a aeronave adentrar o espaço aéreo brasileiro, sem identificação ou solicitação prévia, um estado de alerta se mantém sobre aquele ponto no radar primário, embora normalmente a rota utilizada por traficantes seja em regiões afastadas e no meio da mata. Com os novos equipamentos utilizados pelo sistema SIVAM, mesmo que ela voe muito abaixo do pulso do radar, a visibilidade é mantida. Após tentativas de comunicação pelo controle Amazônico, as aeronaves então são enviadas da base mais próxima – normalmente se utilizam os Supertucanos da base aérea de Anápolis ou do Cachimbo – para que num primeiro momento haja um reconhecimento à distância, sem que a aeronave interceptadora seja vista. Sem serem notados, os pilotos tiram fotos, registram o prefixo do avião, repassam dados como rota e velocidade, altitude, modelo e aguardam uma resposta do centro de investigações, coordenada com os órgãos nacionais.

Caso a aeronave realmente não seja ao menos registrada ou estiver com a documentação irregular, é iniciado um contato primário na frequência internacional de emergência (121.50). Não havendo resposta, sinais visuais serão utilizados para realizar algum contato. Caso nenhuma tentativa seja bem sucedida dessas duas formas, a Força Aérea persiste, desta vez em todas as frequências utilizáveis. Se houver resposta, o piloto é orientado ao pouso imediato em qualquer lugar. Se ao contrário não houver resposta alguma, sendo todas as tentativas de estabelecimento de comunicação ignoradas, um tiro de advertência com munição traçante é dado à frente do avião. O lógico seria que o piloto se intimidasse e desistisse da ideia de manter a rota, mas em alguns casos, mesmo uma advertência como essa é ignorada. Nesse ponto, o tiro de destruição é automaticamente autorizado pelo comandante da operação.

Um grande problema que acontece a partir daí é que, quando o piloto faz o pouso forçado na mata, o acesso à aeronave é demorado, e a fuga de quem estiver a bordo é quase inevitável. Normalmente, são apreendidas somente as drogas transportadas e a aeronave, para posterior investigação. O objetivo da operação é de fato alcançado, mas a real baixa no tráfico fica perdida no meio da mata, e dificilmente é encontrada.

Eduardo Mateus Nobrega
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