Então senhores, algumas semanas atrás fui contactado por Dino Lincoln Figueirôa, Pró-Reitor Adjunto de Ciência e Tecnologia da Universidade Maurício de Nassau (UniNassau) e Diretor Adjunto do Centro Superior de Tecnologia, um cargo tão complexo que nem seria necessário eu citar que ele também é piloto comercial e piloto de acrobacia aérea, o mesmo me escreveu propondo um convite para ir à Recife – PE com o objetivo de dar uma palestra para a mais nova turma do curso de Bacharelado em Ciências Aeronáuticas, a minha contribuição faria parte do evento de apresentação do curso à essa nova turma, evento esse onde também estariam presentes a primeira turma do curso, pais de alguns alunos, e os interessados em se matricularem nas próximas, vendo que este evento de apresentação era gratuito e aberto ao público.
Dentre os presentes no local estariam alguns com experiência de sobra, como o Eliseu Pinho e Fred Mesquita, que foram entrevistados pelo Cobel e eu no episódio 17 do CP Cast, mas como boa parte dos alunos e futuros alunos estavam iniciando a sua carreira na aviação, foi justamente nesse campo onde minha participação entraria, trilhar a timeline da formação inicial dando os detalhes, conselhos e alertas sobre o CMA, curso teórico, aulas práticas, formação pós-PC, mercado de trabalho, segurança de voo na instrução, e todas aquelas outras pequenas dicas que aprendi ao longo da minha formação pelos aeródromos por onde voei, além é claro das respostas às perguntas que seriam feitas durante as explicações.
Tendo acertado os detalhes com Dino, no dia 15/08/13 às 4 AM iniciei a jornada rumo à Congonhas – SP onde ingressaria no meu primeiro voo de linha aérea – exato, apesar de ser Piloto Privado e ter voando em várias aeronaves da aviação geral, nunca havia voado na aviação comercial de linha aérea – Decolamos em um B737 da Gol destinado ao Galeão – RJ, onde fizemos conexão em outro 737 seguindo finalmente à Recife – PE, voos que duraram 1h e 3h respectivamente. Sobre minhas impressões dessa primeira experiência em um voo de linha aérea, digo que fiquei impressionado com a força do empuxo na hora da decolagem, coisa inimaginável para quem está acostumado com um Cessninha 152. O detalhe de ter feito a primeira perna do voo na poltrona do corredor não afetou a experiência, fiquei montando meu Cubo de Rubik durante a maior parte da viagem, o mesmo Cubo que me distraiu durante a segunda perna de 3h e me fez esquecer da fome, vendo que a Gol atualmente somente vende o lanches a bordo, a preços nem sempre convidativos. Mas de modo geral os serviços de bordo e pontualidade de voo não deixaram nada a desejar.
Quando saí de São Paulo a temperatura era de 8ºC, chegando em Recife a mesma estava a 29ºC, só um pouquinho mais quente. No desembarque o Dino estava me aguardando e fomos diretamente ao hotel onde me hospedaria. No trajeto para o local percebi que entre SP e RE a única coisa que mudava era a temperatura, pois o trânsito era o mesmo rs. Após fazer o check-in fomos até a praia que ficava apenas a dois quarteirões, local limpo e com uma bela água clara e esverdeada, paisagem convidativa tirando as placas de “Perigo: Área sujeita a ataque de tubarão” – Foi justamente na frente destas que tiramos a clássica foto de turista.
Fiquei por algumas horas no hotel (com ar condicionado!) até sair de lá com o Braga, Professor Coordenador do Bacharelado em Ciências Aeronáuticas, que além disso também é controlador de voo, autor e coordenador de cursos de aviação, um profissional “um pouquinho experiente”, só não cito toda a formação dele pois isso renderia cerca de quatro parágrafos desse texto, mas um detalhe com o qual fiquei impressionado é que mesmo sem o conhecer, estava há alguns dias editando e formatando um dos futuros livros dele, que em breve será lançado pela Bianch, empresa onde trabalho – Mundo pequeno, não? – Aliás, o próprio Denis Bianchini faria parte do evento se a sua escala de voo não o tivesse impedido.
Graças ao trânsito, Braga e eu pudemos conversar muito durante a viagem, só então tive a real noção da qualidade do curso e da faculdade da qual ele faz parte, os professores e coordenadores que montaram o curso são muito mais qualificados do que eu poderia imaginar, e toda a trajetória, dedicação e investimentos para finalmente tirar esse curso do papel me surpreenderam, a grade curricular e os cursos nos quais os alunos são certificados após formados não poderiam deixar eles mais preparados para o mercado que o curso foca. Ainda quero produzir algum gênero de análise sobre isso aqui no CP.
Chegando ao local do evento a maioria do público já estava lá, e enquanto o Pró-Reitor fazia a introdução sobre os convidados e passava alguns videos no datashow o restante dos interessados puderam chegar ao auditório, e assim fui chamado à frente.
Como citado falei basicamente sobre os temas que já tratava no Canal Piloto, com a seriedade mesclada com humor já características nos videos publicados por aqui, mas pelo fato de ali haver tempo de sobra e ainda mais uma interação com o público ao vivo, pudemos nos ramificar por alguns temas mais delicados e inéditos que até então não tive tempo de abordar no CP, como os detalhes da aviação psicológica do CMA, cristalização do aluno no voo prático, barreiras na hora do primeiro emprego e as quase colisões que ocorrem em voos nos corredores da TMA-SP. Falei por cerca de 1h e desci do palco acompanhado por aplausos e com a certeza de que os alunos agora estava realmente cientes e mais preparados para a rota que eles teriam em sua frente, e a feição e feedback de cada um que recebi ao final do evento só confirmaram a certeza deles em seguir em frente com o ‘climb positivo’.
Após finalizar minha participação foi a hora do coordenador Braga falar aos futuros alunos e pais destes, e este fez questão de firmar o compromisso de que os alunos seriam bem instruídos durante as disciplinas e que sairiam dali profissionais, mas que isso seria a base de muita dedicação e interesse dos mesmos – “Não é porque a universidade é particular que o curso será fácil, aqui só será aprovado quem realmente o fizer por merecer” – Achei de uma dignidade sem tamanho esse discurso de encerramento, afinal se tratando do esteriótipo brasileiro de curso particular, qualquer um poderia esperar um discurso focando apenas nas qualidades do curso, financiamento via FIES e oportunidades após formado, mas o coordenador fez questão de deixar claro que tudo isso era sim possível e que os professores se dedicariam ao máximo, mas os alunos teriam de fazer jus ao padrão de exigência e qualidade que o curso e futura profissão exigem.
Ao final do evento oficial ainda ficamos por ali para conversar pessoalmente com o público e tirar fotos, nunca antes na história desta pessoa eu vi tantos flashs em um espaço tão curto de tempo, haviam momentos onde havia tantas câmeras e celulares que eu mal sabia para qual delas olhar. Dentre uma foto e outra conversávamos com os alunos atuais e futuros, e o ambiente de conversa estava tão agradável que só livramos o auditório porque já estava tarde demais e a responsável pelo mesmo tinha que trancá-lo para encerrar as atividades. Nesses momentos iniciais e finais do evento finalmente pude conhecer duas pessoas que vocês leitores do CP provavelmente nunca viram pessoalmente mas certamente já leram sobre: Edson Alves e Pedro Santos.
Após sair com o Braga, e pararmos em uma lanchonete para uma conversa mais informal, seguimos para o hotel onde nos despedimos depois desse dia cansativo mas produtivo, e depois de 21h acordado finalmente fui dormir. No dia seguinte livrei o hotel e fui ao aeroporto com Dino, era hora de retornar à São Paulo, mas como o horário permitia acabamos visitando os hangares de Recife antes de fazer o check-in, não poderia me despedir de melhor modo.
Após um almoço, uma camiseta da UniNassau de presente, e agradecimentos mútuos, segui para o embarque.
Na primeira perna do voo, Recife ao Rio de Janeiro, voei em um B767 da Tam, aeronave que contava com telas multimídia na poltrona da frente que disponibilizavam algumas centenas de filmes para assistirmos, e em um voo de 3h, mais o tempo em solo para embarque e desembarque, isso não poderia vir em melhor hora, Oblivion e Kick-Ass foram meu entretenimento (infelizmente Top Gun não estava disponível).
Na última perna do voo entre RJ e SP seguimos em um A320, que não dispunha de telas como o B767, mas contava com serviço de bordo de cortesia, assim como na perna anterior, e pelo fato de eu estar fazendo um voo ‘não tão curto’ isso fez a diferença, e a Tam ganhou uma estrelinha a mais na avaliação.
Após pousar em Congonhas e enfrentar mais 2h30 para chegar ao litoral de SP onde moro, finalmente a jornada se encerrava.
Não há palavras para definir como foram proveitosos esses dois dias, tudo se mostrou em um nível superior ao que eu esperava, a viagem, a coordenação do curso, a palestra em si, o discurso que ouvi, a reação e carinho do público e tudo mais, até o barulho do bebê chorando no voo e o trânsito em Recife foram maiores do que eu esperava rs.
Agradeço aos envolvidos pela experiência e espero retornar à UniNassau em futuras oportunidades.
Sales.
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