Parafusos chatos e comandados

Muito recentemente, o Cenipa (Centro Nacional de Investigação e Prevenção de acidentes Aeronáuticos) revelou um dado um tanto que desconfortável. Cerca de 35% dos casos de acidentes aéreos no Brasil devem-se ao “jeitinho brasileiro” de levar as coisas. Leia-se “jeitinho” por diferentes formas de se violar as regras aeronáuticas. No meio desses acidentes citados, estão a entrada involuntária e acidental em parafusos por pilotos.

Durante esta semana, vamos falar sobre os principais tipos de parafusos, como acontecem e o que fazer para lidar com eles. Entender como o parafuso funciona é o primeiro passo pra evitar esse problema. Todos estamos expostos a ele no ar, mas infelizmente nem todos temos a habilidade de resolvê-lo, ainda mais quando se envolvem o nervosismo e a adrenalina. Por isso acredito que o treinamento de entrada e recuperação de parafusos, que foi extinto no Brasil há um bom tempo, deveria retornar ao programa de todas as carteiras, desde a de ultraleve até a de PC. Infelizmente, com a falta desse treinamento, alguns pilotos estão passando pela necessidade de enfrentá-lo tendo que contar apenas com a instrução teórica sobre isso, como é o meu próprio caso.

Obviamente, a entrada em um parafuso não é nada comum, nem algo que acontece todo dia. Mas um dado importante é que a maioria registrada foi em pilotos privados após a instrução, e em pilotos comerciais em vôos não regulares. Ou seja, enquanto em instrução e também num nível avançado da carreira, como o PLA, os riscos são menores e quase não é registrado nenhum incidente desse tipo.

Não depende só do piloto ou de sua classe para que seja promovida uma situação de entrada em parafuso. O que ocorre, na realidade, é que normalmente a aeronave operada contribui muito mais para que ocorra um incidente assim. Existem aeronaves que são mais propensas a entradas em parafusos chatos e comandados, mas isso veremos na continuação da série, durante a semana. Um outro ponto bem importante para a facilitação de uma situação de risco, envolvendo parafusos, é a fase do voo. Em alguns momentos, a aeronave fica aerodinamicamente mais “frágil”, e tende a se comportar de forma perigosa. Isso somado ao modelo que seria favorável, e a um jeitinho brasileiro, levará sem dúvida a uma entrada em parafuso, recuperável ou não.

Mas quais instrumentos práticos podemos utilizar a bordo, a fim de evitar isso? Existe uma regra geral? Bom, maneiras de evitar um parafuso normalmente são óbvias e usualmente descritas no livro, como não utilizar ailerons em ângulos críticos, e evitar curvas acentuadas. Mas existem detalhes a bordo que diminuem a chance de você passar por isso. O parafuso acidental não é um perigo latente ao voo, mas se por acaso você entrar em um, com certeza vai querer sair o mais rápido possível.

Eduardo Mateus Nobrega
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