Olá amigos do Canal Piloto.
O Dia do Primeiro Voo
A minha 1º hora de voo estava agendado para as 13:15h, fui dormir às 02:00hrs e acordei às 06:00hrs, senti o estômago embrulhando de tanta ansiedade. Já que tinha mais 5 horas pela frente resolvi tomar aquele banho de lavar a alma, terminado o banho resolvi então caprichar no café da manhã, igual quando a namorada vem dormir a primeira vez em casa, você capricha em tudo, depois de um tempo começa a relaxar.
No café da manhã, tinha frutas, pães, frios, suco e outros mais.
(imagem meramente ilustrativa)
Estava bem alimentado e ainda era cedo para sair de casa, tentei fazer algo para dispersar a mente, mas não consegui, então resolvi sair de casa cedo mesmo, é melhor pecar por excesso do que por falta. Preparei minha mochila e partir.
Tranquei a porta e fiquei aguardado o elevador, na hora que eu entro no elevador e me olho no espelho, eu estava com um sorriso de orelha à orelha. Como estava adiantado, acabei chegando bem cedo na rodoviária, e lá comprei a passagem para Bragança Paulista.
O embarque era no portão 19. Fiquei esperando pacientemente o ônibus, até que ele chega, nessa hora nem liguei se sentaria na janela ou corredor, podia ser até no banheiro, eu só queria estar indo pra Bragança, aquela viagem significou muito pra mim.
A viagem foi muito tranquila, cerca de 1:10h após, cheguei em Bragança, um Sol agradável e poucas nuvens, me apresentei para o voo e a secretária (linda por sinal – não vou citar nomes, vai que o namorado dela lê e vem me cobrar depois) me informa o instrutor e a aeronave!
O INVA que ficou marcado por toda minha vida foi o grande Olivieri e a Aeronave o PP-HPA.
Então o Olivieri me encara e diz: – Bora voar ?
Como eu cheguei cedo, se ele tivesse perguntado se estava aguardando há muito tempo, eu responderia: “A vida toda”.
Peguei minha pasta e me dirigi até a Sala de Briefing
(Nesta sala fazemos o Briefing e o Debriefing)
- O Briefing é uma preparação para o voo, sentamos e conversamos sobre tudo o que vamos fazer no ar, desde manobras, emergências ou até qualquer coisa que venha a acontecer.
- O Debriefing, após o pouso, é onde nós sentamos e conversamos sobre o que foi feito em voo, os erros, os acertos, o que pode melhorar e tudo mais.
Todas as manobras são estudadas antes, SEMPRE vá preparado para o voo.
Sentei de frente com o instrutor, o voo era PS2 – Familiarização com os Instrumentos.
Consiste (por incrível que pareça) em Familiarizar com os instrumentos, se você for daqueles que gosta de tirar fotos que nem eu, aproveite esse voo, pois como tudo é fase de aprendizado, dificilmente você vai conseguir uma brecha qualquer para uma recordação.
Voltando ao voo, fizemos o Briefing e nele consistia em decolar de SBBP, manter no circuito de trafego, ir em direção da área SBR 459 (Represa de Bragança Paulista), após aproamos área SBR 458 (Atibaia – SDTB), e por último a terceira área de treinamento SBR 460 (Vale Eldorado – SDVH) e então voltamos para SBBP para pouso completo.
Briefing realizado, já sabia o que íamos fazer em voo. Voltei à secretaria, peguei os documentos da aeronave e fui inspecionar o saudoso PP-HPA.
O instrutor inspecionava a aeronave junto comigo, para que não existisse erro, ia lia o item no checklist e ao mesmo tempo o realizando, como aprendido no Ground School.
Fizemos o dreno de combustível, tiramos 2 dedos de gasolina em uma garrafa e verificamos se não tem água ou alguma impureza. Também verificamos o nível de óleo no motor, no caso P56C motor frio 4 Litros e 3.3 Litros se estiver quente, pois a aeronave pode ter voado antes e ainda tem óleo dentro do motor, por isso a diferença.
Realizado o Checklist, nos encaminhamos até DAESP para preencher a notificação de voo, na caminhada até lá fui conversando com o INVA, perguntei se ele podia fazer algumas manobras comigo, tais como Stall e Curva de Grande, ele respondeu que se eu quisesse podemos fazer sim.
Preenchemos a notificação, assinamos, agradecemos e voltamos ao pátio, lá estava o HPA.
O INVA diz: Vai se amarrando que eu vou buscar meu rádio.
Eu entrei na aeronave, passei o cinto, e em um breve momento de reflexão pensei, “vou voar mesmo” (que sensação maravilhosa)
O Paulistinha é uma aeronave convencional, logo ele é inclinado e não enxergamos o que está na nossa frente, então fazemos o taxi em S para que no momento em que abrirmos a curva, pudermos enxergar à frente, e assim sucessivamente, até que na corrida para decolagem picamos o manche para levantar a cauda.
O instrutor voltou, ligamos a aeronave e pedimos autorização da Rádio para taxiar até o ponto de espera da cabeceira 34.
-Rádio Bragança. HPA acionado no pátio do aeroclube, aguarda autorização para taxi até o ponto de espera da cabeceira 34.
Autorizado pela Rádio, taxiamos até o ponto de espera, paramos e ali executamos os Cheques de Ponto de Espera.
Todos os cheques feitos, agora é hora de alinhar e decolar.
Alinhamos aeronave com o eixo da pista, neutralizamos pedais, calcanhares longes dos freios e toda potência.
(marcado na minha história, como primeira aeronave em comando)
Senti um impulso pra frente, quando houve indicação de velocidade, manche a frente para levantar a cauda e diminuir o ângulo de ataque.
Quando chegamos à 60MPH tiramos a aeronave do solo, naquele momento veio o frio na barriga, tudo que eu passei até aquele momento tinha valido a pena, desde as aulas nos feriados, o Tenente, o metrô de São Paulo e até a Quitéria do HASP.
Atingimos 65Mph e ajustamos a potência a 2.200RPM.
Cheque de 500’ – Temperatura e Pressão Faixa Verde, 2.200Rpm, 65Mph, Área Livre.
Ingressamos no Través, Perna do Vento, e livramos o circuito de tráfego , fomos em direção à Área 459, a Represa de Bragança, lindo local, estava perdido e bobo ao mesmo tempo, não sabia se dava risada ou se chorava, mistura de todos os sentimentos juntos, incrível.
Fomos para 458 – Atibaia, ali ele deu um 180º e perguntou a localização de algumas cidades, eu respondi corretamente. Fomos em direção à SBR 460, e lá ele deu um 360º e perguntou novamente a localização das cidades, eu respondi prontamente e de maneira correta, em contrapartida, recebi um elogio alegando que tenho um ótimo senso de localização.
Então subimos para 5.000’ e fizemos um Stall de 2º Tipo (Stall era só no Flight Simulator até então), quando houve a perda de sustentação veio aquele frio na barriga e a sensação de gravidade zero, algo em torno de 2 ou 3 segundos, mas é perceptível. Recuperados do Stall, ele pergunto: – O que achou? Respondi: – Vamos de novo? (igual no parque de diversões), então realizamos um Stall de 3º Tipo, esse é um pouco mais acentuado, a aeronave entra em um mergulho moderado (quando chegar em manobra de Stall eu explico detalhadamente). Na hora que a aeronave configurou o Stall, eu segurei nos dois montantes que tem a frente e disse: – Tô tranquilo. A eronave entrou em perda, veio a sensação de flutuar no banco, mas logo nos recuperamos do Stall e viemos para pouso em SBBP, no caminho ele deixou eu pilotar a aeronave um pouco, para sentir como é, e já aliviar um pouco a ansiedade.
Minha 1º hora de voo pareceu que passou em 10 minutos, fizemos um bom pouso, taxiamos até o pátio e cortamos o motor.
Voltamos à sala para fazer o Debriefing. Ele preencheu o Diário de Bordo e conversamos sobre o que foi feito em voo, me deu uma nota 3 (satisfatória – Escala de 1 a 5), fez o elogio sobre meu senso de localização, comentou que eu tinha estudado muito bem o manual e com dedicação e estudos terei muito sucesso na aviação: Bem vindo ao mundo. O cumprimentei, agradeci pelo voo, deixei os documentos meus e da aeronave na secretaria e efetuei o pagamento da 1º hora de voo.
Eu deixei o aeroclube naquele dia com um brilho nos olhos que duram até hoje.
[Foto: Felipe Brandão] – Olivieri na tentativa de fazer um coração. Ficou parecendo uma maçã.
Na próxima oportunidade eu explico sobre as Notas e as PS.
Deixo aqui um agradecimento especial à Deus, ao INVA Olivieri, ao PP-HPA, ao Aeroclube de Bragança Paulista, aos familiares e amigos que me apoiaram e me impulsionaram até esse momento.
“Olivieri” e “Hotel Papá Alpha” – Nunca vou esquecer vocês.
“Uma vez que tenha provado o voo, andarás pela terra com os olhos voltados para o céu,
porque lá estivestes, e para lá sempre desejarás retornar”. (Leonardo Da Vinci)
Rafael Torquato.
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