A Rota Caipira

Para que haja um real e eficiente combate ao tráfico, utilizando o sistema SIVAM e a própria lei do abate, é evidente que é preciso não só ter o melhor equipamento, mas também conhecer bem quem se está combatendo. E aí, mora a maior dificuldade de se combater o tráfico – seja por terra, ar, água ou algum outro meio que eles já tenham descoberto. O tráfico tem uma capacidade descomunal de se reinventar. Eles não têm limitação de orçamento, nem de leis internas. O que rege o trabalho é o lucro. Desse modo, a Força Aérea e a inteligência das polícias precisa sempre pensar como eles, e tentar descobrir a brecha que o traficante já descobriu. Num país com a extensão que tem o nosso, brechas infelizmente não faltam. Por mais eficiente que sejam os esforços, uma nova rota de tráfico pelos ares é facilmente traçada, mesmo nos espaços aéreos mais bem controlados.

Muito recentemente, a Polícia Federal descobriu a maior rota aérea de tráfico de drogas e descaminho de produtos na história do país. Essa rota, apelidada de “Rota Caipira”, utilizava os ares da Amazônia e do centro-oeste brasileiro, onde passava pelos espaços aéreos mais bem vigiados, como a região do Planalto Central, até chegar no sul de Minas ou no interior paulista, onde as aeronaves pousavam em canaviais e despachavam as mercadorias. Engana-se quem pensa que os aviões, em voos ilegais, saem somente de países “produtores” de droga. Pelo descoberto, as aeronaves chegavam a cruzar dois ou até mesmo três fronteiras de países aqui da América do Sul, até chegarem finalmente em território brasileiro, tudo a fim de cumprir com máxima eficiência a Rota Caipira.

Mas existe uma limitação à polícia. Mais um artifício dos pilotos dessas aeronaves é simplesmente não pousar. O pouso é o momento em que a aeronave fica mais frágil, e justamente onde o tráfico pode sofrer a maior baixa. Os pilotos arremessam a mercadoria de dentro do avião, durante uma passagem a cerca de três metros. Assim evitam o risco de serem presos, e podem evadir de volta à origem. Mas quando a mercadoria é droga, o mesmo método não pode ser utilizado. É aí que a lei “terrestre” do abate funciona. Assim que a aeronave pousa, os policiais usam de todos os meios pra impedir que ela decole novamente. Há vídeos onde a Polícia Federal chega a bater com o próprio carro em alta velocidade, destruindo a asa de um PA-18, impedindo que o avião pudesse decolar novamente.

Conhecer as rotas e ter um contingente preparado em solo faz parte também do conceito de abate às aeronaves, e do combate ostensivo ao tráfico de drogas. Perceba que a lei do abate vai muito além de abrir fogo, ou propriamente do tiro de destruição.

Eduardo Mateus Nobrega
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