Como é do nosso conhecimento, o mundo passa por uma nova contextualização sobre o consumo responsável de recursos e minimização do impacto ambiental. A indústria automobilística, a de construção civil e mesmo a alimentícia vêm tendo que lidar com novos padrões de uso e reuso dos materiais. Desse modo, a aviação civil, campeã no ranking de transportes consumidores de combustível, não podia ficar de fora das mudanças e das leis criadas em acordos internacionais. Mas do que exatamente tratam essas leis?
As novas diretrizes da ICAO e agências reguladoras trazem limitações severas quanto à operação de motores defasados, que possuem alto nível de consumo específico, ou níveis de ruído acima do permitido. É o caso do extinto Boeing 707 que, ao padrão de eficiência atual, poderia ser literalmente comparado a uma locomotiva a carvão.
Um mapeamento em 65 aeroportos brasileiros registrou uma média de 60Db (decibéis) nos arredores dos aeroportos, atrapalhando o sono e a própria comunicação rotineira das pessoas. O aeroporto de Congonhas, por exemplo, chega a registrar um nível de 80Db na trajetória de decolagem da aeronave que sai. Isso equivale a você abrir as janelas do seu carro a 100km/h, e tentar conversar com alguém do seu lado. É uma tarefa muito difícil. Então, algumas medidas foram tomadas para que houvesse uma redução nesse nível de barulho.
A redução da potência dos motores na decolagem em pistas com mais de 250m (900 ft) foi indicada, bem como a limitação do horário de operação dos aeroportos. Todas as operadoras passaram a ser fiscalizadas e punidas onde não haja o cumprimento contínuo. Pensando nisso, as fabricantes começaram a investir em motores igualmente ou mais potentes, mas com um bocal de saída onde fosse possível uma redução de ruídos. Quem já parou para reparar no corte sinuoso na parte de trás dos novos motores GE da Boeing, percebeu essa mudança muito aparente. Embora alguns achem que é só mais um artifício de design, esse simples “corte” chega a reduzir em 30% as ondas de baixa frequência, responsáveis pela maior propagação de ruído. E o melhor, sem que a potência precise ser reduzida.
Outro levantamento, envolvendo o consumo de combustíveis, tem mostrado que o Brasil possui um dos maiores níveis de consumo de combustível na etapa do pouso e da decolagem. Por que isso? Simples: as aeronaves que aqui operam, o fazem quase sempre em temperaturas elevadas, alta umidade e superlotadas. Ou seja, sem margem de “conforto” para os motores. Isso significa que os pilotos preparam o equipamento para que ele voe na sua condição de máximo rendimento, em função das características geoclimáticas do nosso país. Mais uma vez, a saída das fabricantes foi proporcionar novos modelos de motores para diferentes regiões do mundo. Um Airbus novo pode vir com vários tipos de configuração da motorização, o que barateia a manutenção e dá mais segurança.
A iniciativa das fabricantes é realmente boa, mas infelizmente alguns modelos ainda precisam permanecer no mercado por muitos anos, para que paguem pelo custo do seu projeto ou fabricação. Isso denota que ainda é preciso um esforço das empresas aéreas para manterem-se nos novos padrões.
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