Livrando-se de um Parafuso

O ser humano tende a ser muito intuitivo em determinadas situações de risco, o que é uma ótima qualidade nossa, principalmente quando fazemos algo que nosso corpo não foi criado para fazer, voar. Nem todo voo é tranqüilo e maravilhoso. Por vezes estamos expostos a ocasiões onde, mesmo em meio civil, somos levados ao limite de nossas funções, para termos chance de sobrevida numa determinada emergência. Uma situação de entrada em parafuso é perfeitamente um caso emergencial onde, infelizmente, tudo foge à regra e nós não podemos nos dar ao luxo de agirmos intuitivamente. Numa entrada em parafuso chato ou comandado, principalmente em algumas aeronaves, precisamos fazer o contrário do instintivo: agir sem impulso e com total conhecimento. Por isso, sou a favor do retorno dos treinamentos dessa situação.

Mas então, como faço para sair de um parafuso em que a minha aeronave eventualmente estiver? Essa pergunta é muito genérica, pois depende primeiramente de qual tipo de parafuso você está, e depois, em que aeronave está. Mas vamos tentar salientar os pontos mais importantes, e você então poderá adaptar à sua aeronave.

A primeira coisa a se saber é, como citei, não agir instintivamente, nem tentar utilizar de meios que somente vão piorar a situação, ou lhe fazer perder um tempo precioso. No primeiro caso, temos o parafuso comandado. Nessa situação, o mais indicado a se fazer é esquecer os ailerons e profundores no primeiro momento. Apesar de você sentir que está em curva, o uso dos pedais contrários ao movimento é o indicado. Somente depois de uma sucedida estabilização – leia-se parada do spin (giro do parafuso) – é que a retomada de atitude e potência deve ser feita.

Já em caso de parafuso chato, a coisa complica muito. Como ele é causado por um passeio do CG além do permitido, a cauda fica excessivamente pesada. O mais indicado a fazer, se você estiver com passageiros e carga ao alcance, é transferi-los consigo mesmo totalmente para a frente da aeronave. Não perca tempo com comandos ou tentativas inúteis, cada segundo vai ser a diferença. Transferindo todo o peso para o nariz da aeronave, você aliviará a cauda e provavelmente o avião iniciará uma trajetória descendente com o nariz pra baixo. Isso fará o vento relativo passar mais paralelo às superfícies, dando-lhe assim chance de recuperação. Só para constar, segundo a ANAC essa situação é irrecuperável.

Por curiosidade, e para exemplificar que isso varia muito de aeronave para aeronave, uso o exemplo dos Mirage ou F-5 que servem e serviram nosso país na Força Aérea. O procedimento para saída de um parafuso nessas aeronaves de alta performance é contrário ao mencionado anteriormente, e de forma simplificada. É feito da seguinte maneira: comando lateral pró giro (ailerons), pedal contrário e profundor neutro.

Seja qual for a situação, a melhor forma de se sair de um parafuso é não entrando. Não leve sua aeronave ao limite dela, e você não precisará passar do seu.

Eduardo Mateus Nobrega
Redes
Latest posts by Eduardo Mateus Nobrega (see all)