Você certamente já pôs a mão pra fora do carro em movimento e sentiu a força que o vento relativo produziu no seu braço. Provavelmente o carro deveria estar entre 70 e 100 km/h. Imagine agora a força produzida pelo mesmo vento relativo a uma velocidade de 600 a 800 km/h, que seria a velocidade média de um jato comercial. É realmente algo difícil de imaginar, mas para se ter uma ideia, ao tentar fazer isso, você jamais veria seu braço novamente.
Aplicando isso à aerodinâmica dos aviões, encontramos o principal desafio da aviação moderna ou de caça: o controle estável, preciso e seguro. Os projetistas entenderam, após a segunda grande guerra, que não adiantava em nada ter motores fortíssimos e velocidades altas se não houvesse o devido controle da aeronave nas mãos do piloto. Os controles hidráulicos compensados foram o grande avanço na aviação a jato, pois permitiram ultrapassar a barreira do som, superando seus problemas de compressibilidade. Tornou-se possível, inclusive, voar a velocidade hipersônicas, onde novamente outras dificuldades de controle surgiam em função da resistência do vento e deslocamento dos filetes de ar.
O sistema hidráulico é baseado nos estudos de Pascal, onde se aplica na prática o rendimento de diferentes pressões em diferentes cilindros numa mesma linha. Ou seja, era possível multiplicar em 100 a força aplicada pelo piloto abrindo mão do grande deslocamento por somente pressão, o que já era feito em engrenagens. Pascal certamente nunca imaginou o que seu invento poderia fazer na aviação. A partir daí, as aeronaves mudaram praticamente tudo em sua forma de acionamento: trens de pouso, compensadores como mach trimmer, ailerons sensíveis e muito precisos, spoilers e muitos outros equipamentos que hoje vemos como essenciais em uma aeronave – e sem eles, de fato, o voo em altas velocidades seria algo impossível.
Atualmente, o sistema hidráulico ou de alto rendimento mecânico é utilizado com vastidão em quase todas aeronaves produzidas, por ser um sistema barato, de fácil prevenção contra falhas e rápida correção, sem a inutilização do mesmo em caso de vazamento parcial, o que não acontece nos sistema pneumáticos. Por curiosidade, como citado no capítulo anterior, o sistema hidráulico não pode ser usado por algumas aeronaves em somente um controle: O leme. Por motivos estruturais da empenagem do avião, um comando forte e instantâneo por um sistema hidráulico no leme seria capaz de, em altas velocidades, ocasionar uma “lesão” ou mesmo um dano estrutural grave a toda a deriva do avião. Então, pensando nisso, alguns fabricantes fazem o avião com todas as estruturas comandadas hidraulicamente, e somente o leme por comando mecânico direto por cabos e contrapesos. Mas esse problema não é algo exclusivo do leme: nos ailerons, o comando é tão forte que, depois de certa velocidade, pode ocasionar a torção da asa quase inteira e a inversão do comando, ao leve toque do piloto no manche. Nesse caso, ailerons internos e spoilers são utilizados no lugar dos externos, mas o comando ainda é hidráulico.
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