Sistemas de controle de voo: Mecânico

O primeiro sistema que trago ao nosso debate é o mais comum, o mais utilizado, e consequentemente o que deveríamos conhecer melhor. Esse sistema chegou a ser utilizado até mesmo em aeronaves de guerra por ser simples e eficaz, além do fato de ter um ínfimo custo. Infelizmente, ele foi o fator limitador para muitos projetos de novas aeronaves no período da guerra, pois como o controle ficava totalmente com o piloto, era totalmente também sua obrigação lutar contra as forças aerodinâmicas e problemas de compressibilidade que a aeronave de caça chegava a ter. No entanto, na aviação civil, esse sistema se popularizou pelo já citado baixo custo, compôs frotas de aeronaves comerciais por anos, e pra quem não sabe, ainda é utilizado na Boeing em determinados modelos.

O sistema mecânico, ou por cabos, é caracterizado por um conjunto de cabos e polias diretoras, que ligam direta e exclusivamente o controle simultâneo dos dois pilotos às superfícies diretoras de voo – seja o leme, profundor ou mesmo compensadores. Em alguns modelos como o Aeroboero, o uso do flape também se faz por esse sistema mecânico, muito embora seja demasiadamente pesado pelo arrasto. É um sistema altamente confiável e com poucas possíveis falhas. Há registros de corrosão nos cabos por falta de manutenção, e consequentemente, o rompimento do mesmo durante o voo, com perda de controle. Também é possível encontrar relatos de sistemas mecânicos que saíram da revisão ou fábrica com os cabos dos ailerons invertidos – tanto que, em alguns checklists, existe o item “comandos coerentes” a ser checado. Mas foram raríssimos os casos, e o nível de descuido precisa ser muito grande para se chegar a esse ponto.

Como dissemos anteriormente, esse sistema de controle de voo por cabos ainda é utilizado (e inclusive fabricado) em aeronaves comerciais da Boeing, com a justificativa de manter o controle nas mãos do piloto e não tirar sua autonomia. Esse é justamente um ponto muito crucial no comparativo de modelos com a Airbus. Mas uma curiosidade é que esse sistema, quando empregado em uma aeronave como o 737-800, é triplicado para o caso de rompimento de alguma parte da fuselagem – ou seja, como os cabos precisam percorrer todo o comprimento da aeronave até chegar à superfície de atuação, eles passam por várias áreas “criticas” que, se perdidas por incêndio ou comprometimento estrutural, o controle também seria afetado. No entanto, os engenheiros pensaram na simples alternativa de triplicar os cabos para sistemas secundários. Dessa forma, se por exemplo os cabos principais passarem por cima da fuselagem e essa for danificada, um sistema idêntico, com cabos também idênticos que passam por baixo da fuselagem, pode ser acionado e o voo mantido regularmente.

Barato e simples, esse é o tão utilizado sistema mecânico de voo, que equipa e equipou centenas de milhares de aeronaves pelo mundo. Existem aeronaves que, apesar de utilizarem sistemas fly-by-wire, são obrigadas a utilizar o sistema mecânico ao menos no leme, para manter um nível de segurança.

Nos próximos capítulos, vamos entender mais sobre o fly-by-wire e o sistema hidráulico que atua nos flapes e speedbrakes.

Eduardo Mateus Nobrega
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