Talvez um pouco menos de asa ajude

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Tentar fazer qualquer coisa ultrapassar a velocidade do som não é uma tarefa fácil, quem dirá fazer um avião enorme, por vezes pesando toneladas. Mas esse era o objetivo, e no dia 14 de outubro de 1947, a barreira do som foi deixada para trás pelo Bell X-1. Essa notícia varreu o mundo, e mudou a aviação de caça. Nunca mais uma guerra seria a mesma, mas como vimos anteriormente, foi mais fácil falar do que fazer.

Um grande problema que as primeiras aeronaves sentiram, logo nos testes iniciais em alta performance, foi que determinados pontos da asa atingiam a barreira do som antes mesmo do próprio avião conseguir ultrapassá-la. Curiosamente, esse problema ainda acontece hoje, e é justamente o ponto limite que um avião que preze por economia e durabilidade tem que respeitar. Esse ponto se chama Mach Crítico, ou Mach crit.

O Mach crítico foi o segundo grande problema identificado após se notar o aumento súbito do arrasto nas proximidades da barreira do som. Esse Mach crítico acontecia muito pouco antes do Mach de divergência, e às vezes, era o aviso de que, a partir dali, as coisas iriam piorar. A primeira grande consequência que o Mach crit evidencia é o surgimento de ondas de choque no extradorso da asa, deslocando os filetes de ar e assim alterando o precioso ponto de pressão da resultante aerodinâmica.

Esse simples “passeio” do centro de pressão resulta em problemas gravíssimos à performance e à maleabilidade do avião. A asa perde cerca de 5% a 15% de sustentação, o arrasto é aumentado, e uma maior exigência dos motores é necessária. Além disso, alterar o centro de pressão é mexer em todo o equilíbrio da aeronave, exigindo do piloto forças e respostas mais bruscas na cabine. Como se isso já não fosse o bastante, o voo em Mach crit pode inutilizar algumas superfícies de comando do avião, como o próprio aileron.

Quando uma onda de choque se instala sobre a asa, ela desvia todos os filetes de ar, e por vezes muda a densidade e pressão do próprio ar. Existem diferentes formas de ondas de choque, mas a que se forma no extradorso da asa tem um dano muito alto sobre os comandos nesta.

Quais foram então as saídas para se evitar o Mach crítico? Infelizmente evitar o Mach crítico é impossível, ele faz parte da própria compressibilidade do ar. Mas é possível retardá-lo para mais perto da barreira do som, ou mesmo suavizar seus efeitos sobre o avião. Assim nasceu o enflechamento das asas. Ele proporciona um retardamento do Mach crit, fazendo-o se localizar em velocidades muito mais altas, possibilitando que o avião possa então voar mais rapidamente sem sofrer seus efeitos. O enflechamento reduz a área “atingível” da asa. Reduz também o passeio do centro de pressão, aumentando a controlabilidade do piloto sobre o avião. Genial, não?

Mas infelizmente, isso não resolve tudo. Além do enflechamento, novos perfis supercríticos nas asas foram adotados, e momentaneamente, os problemas conseguiram ser contornados mais uma vez. A partir daí, o voo trans e supersônico pôde ser atingido. No entanto, após a barreira, um novo ambiente foi encontrado e novas mudanças precisaram ser feitas, mas isso é o assunto do nosso próximo capítulo da série.

Eduardo Mateus Nobrega
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