Da mesma forma que a tecnologia auxilia e facilita a vida dos sequestradores, ela também tem a capacidade – se bem utilizada – de impedir que uma pessoa com más intenções seja feliz em executar seu planejamento de interferência, ou mesmo sabotagem de uma aeronave. O problema é justamente utilizar de forma correta essa tecnologia, para não apenas mascarar o risco, mas de fato combatê-lo. Hoje, a segurança da maioria dos aeroportos brasileiros enfrenta uma realidade bem diferente do que a de países que já enfrentaram as mazelas do terrorismo. Por isso, algumas empresas já possuem seus próprios programas e recursos de segurança, de modo a protegerem os passageiros, colocando a tripulação alerta sobre qualquer suspeita a bordo, antes e durante o voo. Um claro exemplo disso foi a simples brincadeira que uma usuária do twitter fez recentemente, ao publicar na página de uma empresa aérea americana uma insinuação de que fazia parte de um grupo extremista, e que iria proporcionar uma surpresa à empresa aérea. Em poucos dias, a adolescente foi presa.
A segurança de voo e suas ferramentas são ilustradas pelo Cenipa (Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos) como paredes com pequenos buracos e reentrâncias. Por mais forte que ela seja, sempre surgem alguns pontos fracos, e a saída para minimizar os pontos fracos é criar mais paredes. O resultado é que a melhor forma de mitigar os riscos – princípio da segurança aeronáutica – é criar a maior quantidade possível dessas paredes, de forma a sempre se reinventar e estar à frente da tecnologia que cai em mãos erradas.
O maior problema do combate tecnológico conta a interferência ilícita é que um aparelho de raios-x, por melhor e mais moderno que seja, não consegue prever e escanear as intenções de uma pessoa, ao contrário do que faz com sua bagagem. Mas impressionantemente, já existe tecnologia capaz de executar tal tarefa, de modo a reconhecer até a expressão facial do passageiro que embarca, e avaliar suas intenções a bordo. Já o modo de abordagem é muito particular e subjetivo, e precisa ser delicado, pois nenhum sistema, como vimos, é 100% seguro.
Um fato curioso, e de certa forma não oficial – até porque não se pode oficializar isso – é que hoje não se pode trabalhar com segurança e prevenção em porcentagens abaixo de 100%. Isso é inadmissível, pois qualquer brecha de segurança, por menor que seja, dificilmente terá consequências leves. Pelo contrário, uma falha nesse complexo sistema de paredes “vazadas” tem fins muito sérios e que são imensuráveis. O mais eficiente, de fato, é a empresa utilizar tecnologia e ferramentas dentro também das aeronaves, onde o aeroporto e sua segurança já não tem alcance. Isso será uma tendência cada vez maior, e é uma questão de tempo até vermos as aeronave muito mais aparelhadas e as tripulações cada vez mais treinadas para lidar com o mínimo de suspeita a bordo.
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