Um elástico e uma pedrinha | Minha Proa 044

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Sempre que eu renovo meu Certificado Médico Aeronáutico, me lembro do primeiro quase-acidente que poderia ter me barrado nesta fase.

Existe um lista com as centenas de itens que podem reprovar, ou no mínimo deixar de pendência um candidato ao curso e profissão de piloto. Após ler essa lista pela primeira vez, selecionei alguns dos itens sobre os quais tinha dúvida, e fui pesquisar em fóruns e outras mídias sobre alguns casos. Dentre eles, estavam os parâmetros de visão exigidos no exame.

Eu havia feito uma cirurgia a laser para prevenir um possível futuro descolamento de retina, e fui saber se esse histórico poderia de algum modo me gerar problemas. Felizmente isso não iria interferir em nada, pois de modo algum afetava minha visão. Entretanto, durante minha pesquisa, me deparei com uma pergunta que me despertou essa memória em especial.

Uma pessoa havia perguntado, em um fórum, se era possível ser piloto tendo a visão de apenas um olho, o que infelizmente é um caso de reprovação. Lendo as tristes respostas ao então sonhador, me lembrei que por duas vezes eu quase me tornei essa mesma pessoa que indagava a questão. Hoje compartilharei com vocês a primeira dessas histórias.

Durante a minha infância, tive diversos amigos com os quais passava o dia. Mas no meio de todo grupo, há sempre um agente do caos. Em certo dia, o garoto em questão resolveu brincar de atirar pequenas pedrinhas com um elástico, o que ele seguiu fazendo apontado ao seus colegas. Como ele o fazia com mais de 10 metros de distância, as pedrinhas apenas incomodavam, mas não machucavam ninguém.

Entretanto, justo no momento da nossa despedida para ingressarmos em nossas casas, uma ideia genial deste garoto se pôs em prática. Quando eu passo por ele para seguir meu caminho, a apenas 1 metro de distância, ele chama meu nome, e após eu virar em direção a ele, a única coisa que vejo é ele apontando o elástico com uma pedrinha em minha direção.

Sem exitar, ele solta o elástico, e ainda com muita energia, a pedrinha me acerta justamente em um dos olhos. Após sentir a dor inicial, eu logo corri para minha casa, para me olhar no espelho e começar a colocar água corrente e gelo, deixando para trás o garoto arrependido que gritava desculpas alarmado ao longe. Após os primeiros minutos se passarem, percebi que minha visão continuava intacta, e após analisar o ferimento, notei que a pedrinha muito provavelmente atingiu não o meu olho, mas sim a minha pálpebra inferior, que veio a me proteger de algo mais sério.

Com isso em minha memória, anualmente quando vou renovar meu CMA, sempre me pergunto: e se aquela pedrinha, disparada a uma curta distância, tivesse acertado meio centímetro para cima, e acertado o centro de meu olho?

Certamente, em uma realidade paralela, seria eu o internauta que estaria perguntando no fórum se isso era impeditivo para ser piloto, e teria a resposta que ninguém gostaria de ouvir.

Alexandre Sales
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