Uma pequena realização pessoal

Então senhores, hoje venho relatar um pequeno “Achievement” que tive em minha rotina semana passada. Não é nada que irá mudar sua vida, mas faço questão de deixar isso registrado aqui no CP vendo que sonhava em fazer isso desde 2006.

Senta que lá vem a história

No ano citado, 2006, eu tinha 14 anos e estava no ensino fundamental, estudei da 1ª à 8ª série na mesma escola, o SESI de Cubatão. Da 1ª à 4ª série nós estudávamos na parte da manhã, com apenas um professor por sala durante o ano inteiro, foram anos com ensino excelente e professores super atenciosos. Quando fui aprovado para a 5ª série, eu assim como todos os alunos, fui obrigado a passar para o período da tarde, onde as turmas ficavam até a 8ª série. Bem vindo ao inferno.

Dos meus anos de aprendizado, estes quatro são dos quais eu me recordo com menos carinho. Aparentemente desde os primórdios o período da tarde era uma terra sem lei, e quando os novos alunos ingressavam e se deparavam com essa nova rotina, eles eram assimilados pelo sistema e passavam a adotar esse ambiente dentro de cada sala, fazendo com que os antigos “amigos da 4ª série” passassem a se voltar um contra o outro de maneiras cada vez mais baixas e violentas.

Todo esse ambiente existia pois a maioria dos professores não se preocupavam devidamente com comportamento dos alunos com o dito professor ou entre os colegas de sala – “Roubo de material? Corretivo branco na cadeira? Brigas na sala? Borrachada nos olhos de alunos? Ah, coisa de criança, deixa pra lá” – Diziam alguns dos professores.

Atitude essa que talvez fosse encorajada pela liderança da diretora da escola, (ir)responsável por todo aquele circo, que por vezes era contactada pelos alunos sobre o caos em sala de aula e ignorava solenemente qualquer “relato exagerado de aluno”, juntamente com suas coordenadoras que estavam no mesmo barco. Com uma direção com essa mentalidade, o que esperar da escola não é? Me lembra a ANAC hoje em dia.

Um aluno que quase perdeu a visão de um olho, jovens empurrados de escadas, aluno atropelado pela coordenadora na hora da saída, alunos chutando bola propositalmente contra a cabeça de outros, e o roubo do celular da própria diretora foram o auge desses anos dourados.

E eu é claro, não passei livre por esse período. Hoje a mídia chama tudo isso de “bullying”, mas eu chamava de Rotina de Sobrevivência, eu fazia parte do grupo de Nerds que tentavam manter a normalidade no sistema de aprendizado, mas que por vezes eram hostilizados dos mais infinitos modos. Passei quatro anos nesse paraíso de lugar onde 60% das experiências eram negativas, mas sobrevivi.

Quando mudei para o Ensino Médio, em outra escola mais organizada, tive a oportunidade de saber que, dos principais causadores de caos da sala, um foi preso por tráfico de drogas, outro teve um filho com 16 anos, e outro virou um religioso maluco. Bom, até onde sei, todos os meus ‘amigos de purgatório’ que sofriam junto comigo seguiram com sucesso em suas vidas.

Mas onde quero chegar depois desse roteiro hardcore de “Todo Mundo Odeia O Chris” ?

Quem acessa o Canal Piloto já me ouviu falar em algum video que decidi ser piloto aos 13 anos, ou seja, em 2006, aos 14, a maioria dos meus amigos, e seus carrascos, já sabiam disso. Durante o intervalo das aulas por vezes eu ia até a biblioteca para ler algum livro, revista ou manual sobre o assunto (isso até os desocupados da sala perceberem e esconderem a maioria deles), e devido a tudo isso, foram desses baderneiros que eu recebi incentivos como um que já citei em video, o clássico “Você não vai ser piloto porr* nenhuma!!!” dito em alto e bom som (o professor escutou, mas achou ‘coisa de criança’).

Bom, vamos ao dia fatídico – Era mais um belo dia ensolarado na escola, ao ar livre na quadra de vôlei, a maioria da sala estava nas atividades de educação física (leia-se: 10 jogando futebol e o resto assistindo), e eu estava com uma turma de amigos e mais alguns desocupados sentados no chão encostados em uma grade, até que o assunto Aviação surgiu, fazendo com que um deles dissesse algo que lembro até hoje:

– Aff, desiste cara, tu não vai conseguir virar piloto!

Ainda sem expressar nada, apontei ao longe, ainda na área da escola, onde estava uma enorme torre que poderia ser vista de qualquer local descampado das proximidades, havia em seu topo o nome e símbolo da escola.


 Apontando para esta eu disse:

– Tá vendo ali a torre da escola? Um dia eu ainda vou passar voando ali por cima.

– Afffe! – Acompanhando de uma feição de desaprovação, foi a tréplica do outro indivíduo.

Anos depois, atualmente, em 2013, estava eu checado como Piloto Privado planejando mais uma navegação do curso de Piloto Comercial, e qual não foi minha surpresa ao saber que, para sair da REA Kilo e ingressar na REA Foxtrot da TMA-SP, eu passaria voando exatamente por cima da tal torre da escola?!

No dia 21/08/2013 às 13:50, pilotando o PR-EJW com a companhia do INVA Bruno PQD, lá estava eu, sorrindo como um bobo alegre: 

Todas as pessoas que falaram que eu não conseguiria me tornar piloto de avião fazem parte da minha trajetória, mas hoje posso literalmente passar por cima de todas elas.

Sales.

Alexandre Sales
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