Há não muito tempo, o homem cometeu uma falta grave na história da aviação, que foi considerar o voo supersônico viável e economicamente vantajoso. Hoje está mais do que claro que não foi. Para falar a verdade, até hoje não é. A própria Boeing, mesmo tendo tecnologia em mãos para isso, desenvolve um projeto de avião mais rápido, mas que apenas se aproxima da velocidade do som, contornando assim os primeiros efeitos da compressibilidade do ar. Ultrapassar o tão temido Mach de Divergência não se faz vantajoso, e foi a ideia que mais atrasou a aviação comercial nos últimos 30 anos.
Por isso essa ideia se encontra na nossa lista da semana. Tentar colocar a aviação comercial no mesmo patamar da aviação de caça foi uma loucura. Alguns dos meus professores, por exemplo, chegaram a considerar o próprio projeto do tão conhecido Concorde como um verdadeiro ralo de tempo e dinheiro. Existe uma linha muito tênue que limita a velocidade pelo consumo em função do lucro e rotação de passageiros numa aeronave. É uma função bem complexa, mas também é intuitivo que voar rápido é bom. A questão que fica, então, é a seguinte: o consumo compensa?
Esse foi um ponto não avaliado no projeto do Concorde. Voar supersonicamente é algo reservado à aviação de caça, onde não há preocupação com economia ou custo operacional. Mesmo as aeronaves que se aproximam da barreira do som necessitam ter seus motores substituídos por motores militares, o que vai contra todos os conceitos atuais de economia da aviação comercial. Os engenheiros passam anos desenvolvendo novos comportamentos de admissão de ar e queima parcial do mesmo, para fomentar a economia de combustível num voo. E de repente, por um objetivo não muito racional, esses motores são simplesmente substituídos.
Imaginar uma empresa operando num cenário desses é algo totalmente controverso nos dias de hoje. Algumas companhias investem em pesquisas e testes para, até mesmo, achar velocidades de planeio ideais na descida, e assim economizar alguns poucos mil quilos de querosene. Impossível que hoje, com a política do Low Cost, haja condições de qualquer empresa aérea manter uma frequência estável com aeronaves cuja hora de operação custe tanto .
Ainda hoje a Rússia tenta viabilizar uma aeronave comercial que voe supersonicamente. Não consigo imaginar como será possível contornar totalmente os problemas de Mach já abordados em outra série aqui, e manter ainda assim o voo “comerciável”. Reitero a frase destacada anteriormente: Tudo que você pensar em fazer na aviação, pare e pesquise, alguém já tentou fazer.
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