Seguindo com nossa série sobre dúvidas quanto ao CMA – Certificado Médico Aeronáutico, vamos responder à pergunta de hoje:
Dúvida
Boa tarde. O meu nome é Luís e tenho 21 anos e estou no 4º ano de Faculdade, sou portugês.
Tenho uma questão muito séria que queria realmente colocar. O meu sonho desde criança é ser piloto, o meu grande objectivo. Mas há um problema, desde há um ano e pouco tive um ataque de pânico dentro de um autocarro, lembro-me que nessa altura a minha cabeça andava bastante desocupada porque estava em Erasmus e não tinha nada para fazer( e sei bem que nessa situação a minha cabeça “flipa”), depois, durante uns meses, como não sabia o que era nem o porquê, continuei com esses ataques(sempre quando não estou ocupado, tipo na cama, eram os mais comuns), a partir daí fiquei com algum receio de entrar em espaços fechados, como elevadores, etc. Mas, quando pesquisei e me informei realmente sobre o que tinha, os meus ataques de pânico pararam, quando me informei de como detectar os sintomas e os controlar( penso que a minha capacidade de perceber as coisas e me acalmar é boa), pois quando os sintomas começam a surgir, eu não fujo(antes sim,), não ignoro, mas me controlo bastante e logo o pré-ataque pára.
Já lá vai um bom tempo que não tenho nenhum, consegui me controlar sem a ajuda de qualquer comprimido ou psicólogo, no entanto ainda não enfrentei qualquer situação de descontrole mesmo(como ficar preso num elevador). Mas sei que avancei muito, pois antes, ao primeiro sinal, eu ficava muito assustado, agora já não( eu penso: eu sei o que isto é, se me acalmar e esperar, isto simplesmente para), e é mesmo assim! Dantes, eu entrava em qualquer lado, em qualquer elevador(até gostava de andar, e muito), mas depois desses ataques isso mudou um pouco, o que acho que é normal, mas o curioso é que passado um mês do primeiro ataque, eu até andei de avião para vir para portugal, 2 vezes. Por isso eu penso que não seja claustrofobia mesmo, mas sim algum tipo de ansiedade. Isto me deixa nervoso, pois agora que tomei a decisão de avançar para o mundo da aviação e ser piloto, essa é a única situação que me aflige, o de descolar e entrar em pânico.
Conhece algum caso de algum piloto que tenha esse tipo de patologia, ou ansiedade, e que consiga desempenhar as suas funções sem problemas? *mesmo assim ainda penso claro em ser acompanhado por um psicólogo caso avance para o curso de PP
Nossa resposta
Luís,
Primeiramente, o ideal e aconselhável seria procurar um médico psiquiatra para definição de seu diagnóstico, pois os Transtornos de Ansiedade podem variar.
Porém, conforme a RBAC 67, o candidato ao CMA não pode apresentar transtornos que possam causar problemas à segurança de voo, podendo ocorrer repentinamente. É o caso dos Trantornos de Ansiedade, que podem ocorrer inclusive durante a realização de um voo, comprometendo a segurança. Pelo histórico apresentado conforme seu relato, você poderia apresentar sintomas em situações como realizar um voo, o que não seria de indicação para obter o CMA.
Seguem alguns requisitos mentais e comportamentais conforme RBAC 67:
67.115 Requisitos mentais e comportamentais
(a) O candidato não pode sofrer de nenhum transtorno que, a critério do examinador, possa causar não aptidão repentina.
(b) O candidato não pode possuir diagnósticos clínicos ou histórico médico estabelecido dos seguintes transtornos que, a critério do examinador ou da ANAC, possam torná-lo não apto para o exercício seguro das prerrogativas da licença para a qual se aplica ou detém:
(1) transtornos mentais orgânicos;
(2) transtornos mentais e comportamentais devidos ao uso de substâncias psicoativas, o que inclui a síndrome de dependência induzida pelo álcool ou outras substâncias psicoativas;
(3) esquizofrenia, transtornos esquizotípicos e delirantes;
(4) transtornos de humor (afetivos);
(5) transtornos neuróticos, transtornos relacionados com o estresse e transtornos somatoformes;
(6) síndromes comportamentais associadas com distúrbios fisiológicos e fatores físicos;
(7) transtornos de personalidade e do comportamento em adultos;
(8) retardo mental;
(9) transtornos do desenvolvimento psicológico;
(10) transtornos do comportamento e transtornos emocionais que aparecem habitualmente na infância ou na adolescência; ou
(11) transtorno mental não especificado nos parágrafos anteriores.
(c) Um candidato com depressão, sendo tratado com medicamentos antidepressivos, deve ser julgado não apto, a menos que o psiquiatra, com acesso aos detalhes do caso em questão, considere que a condição do candidato não vai trazer prejuízo para o exercício seguro das prerrogativas da licença e da habilitação do candidato.
Nota: orientações sobre a avaliação de candidatos tratados com medicação antidepressiva podem ser encontradas no Manual de Medicina de Aviação Civil da ICAO (Manual of Civil Aviation Medicine Doc 8984).
d) Os transtornos mentais e comportamentais apresentados no parágrafo (b) desta seção devem ser definidos conforme as descrições clínicas e orientações nosológicas da Organização Mundial de Saúde, tal como consta na Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde,
Décima Revisão – OMS de 1992, ou mais recente.
Atenciosamente,
Dra. Tatiana Trigo
Médica Aeroespacial
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