Conceitos Aeronáuticos que o Papai Noel precisa saber

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O Natal está chegando, e com ele, milhões de crianças ao redor do mundo esperam acordar no dia 25 de dezembro com um presente do bom velhinho aguardando por elas. Para o Papai Noel, a missão é árdua: circundar o mundo inteiro em apenas uma noite, entregando todos os presentes.

Havemos de convir que é uma navegação no mínimo desafiadora. E para isso, é essencial que o Papai Noel seja um ótimo piloto, se quiser cumprir sua missão a tempo. Pensando nisso, separamos aqui alguns conceitos dos quais ele não pode se esquecer, se não quiser decepcionar nenhuma das crianças que o aguardam ansiosamente:


Rotas Ortodrômicas e Loxodrômicas

Para percorrer grandes distâncias, o mais cômodo seria escolher rotas que mantivessem sempre uma mesma proa magnética, o que configuraria uma rota loxodrômica. No entanto, como a Terra é esférica, essas rotas costumam ser mais longas e, portanto, levam mais tempo para serem percorridas.

Como cada segundo da noite de Natal é preciosíssimo, o Papai Noel precisa optar por rotas ortodrômicas, que apesar de exigirem constantes ajustes de proa, são as distâncias mais curtas entre dois pontos.


Procedimentos de Degelo

A navegação do Papai Noel parte da Lapônia, sua terra natal. Lá, as temperaturas podem chegar aos 50 graus negativos no inverno – justamente a estação em que a região se encontra durante o mês de dezembro. Por mais que seu trenó não tenha superfícies de controle, a formação de gelo sobre ele causa um peso adicional nada desejado – e convenhamos, o bom velhinho nunca esteve exatamente em boa forma.

Talvez o Papai Noel não precise se preocupar em acionar dispositivos de degelo nas asas e tubos de pitot, nem mesmo em acionar o Carburetor Heat. Mas certamente desejará remover o gelo formado sobre seu trenó, e fará de tudo para manter suas renas aquecidas, antes que um resfriado em alguma delas lhe cause uma pane, comprometendo sua propulsão.


Separação Vertical Mínima Reduzida (RVSM)

Se levarmos em conta o fato de que o Papai Noel nunca foi visto por quem observa os céus na noite de Natal, só há uma coisa a se concluir: ele utiliza as aerovias superiores em suas navegações! E não é de se espantar: para quem percorre distâncias internacionais como ele, não haveria por que manter-se limitado ao FL145, nível máximo para os voos visuais e, consequentemente, das aerovias inferiores.

Sabemos que os pilotos não descansam nem mesmo na noite de Natal. Portanto, quando voa entre os níveis FL290 e FL410, o Papai Noel precisa estar ciente de que ali as aeronaves mantêm separação vertical de 1.000 pés, conforme as regras da RVSM ou Separação Vertical Mínima Reduzida. Afinal, ser o bom velhinho requer nunca ser visto – nem mesmo pelo TCAS das aeronaves em rota.


Verificação das luzes obrigatórias de voo

A ICA 100-12 é o documento que estabelece todas as regras de tráfego aéreo do espaço aéreo brasileiro. Em seu item 4.2.4.1.a, estabelece-se que “entre o pôr e o nascer do sol, ou em qualquer outro período julgado necessário, todas as aeronaves em voo deverão exibir luzes anticolisão, cujo objetivo será o de chamar atenção para a aeronave”.

Sempre preocupado em cumprir a lei e dar bom exemplo, Papai Noel não poderia ignorar um item tão importante como esse. É por isso que Rudolph, a rena do nariz vermelho, traz o nariz sempre aceso entre o acionamento e o corte dos motores – ou entre o equivalente desses momentos.


Autocinese e “Efeito do Buraco Negro”

Voos noturnos exigem atenção redobrada dos pilotos, por conta dos riscos intrínsecos à falta de luminosidade. A autocinese é um efeito que dá ao piloto a ilusão de que objetos estáticos estão em movimento; já o “Efeito do Buraco Negro” é uma tendência de que o piloto efetue uma rampa de aproximação mais baixa do que o normal, em pistas onde não haja indicadores visuais de planeio, como VASI ou PAPI. E estas são apenas algumas das armadilhas do voo noturno.

Experiente como é com essa modalidade de voo, Papai Noel mantém suas horas visuais noturnas e por instrumento sempre em dia, além de estar atento a todo tipo de efeito que possa colocar em risco quem voa entre o pôr e o nascer do sol.


Você pode até não acreditar em Papai Noel, mas numa coisa há de concordar: conhecimento nunca é demais para um bom piloto. E revisar todos os conceitos que aprendemos, por mais básicos que sejam, sempre fará com que pilotemos de forma mais segura e consciente.

A equipe do Canal Piloto deseja a todos um Feliz Natal!

Luiz Cláudio Ribeirinho
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