Oscar Limpa Alpha meus caros colegas aviadores, entusiastas, sonhadores, simuleteiros e a você que não se encaixa em nenhuma das opções anteriores, mas que também está aqui dedicando seu tempo em ler a minha humilde “coluna”. Como vocês devem saber, no “Diário do Jet Trainer – 02”, eu terminei de relatar todo o briefing inicial do Jet Trainer (3 dias), portanto, hoje irei dar início a parte que realmente interessa, o temido SIMULADOR!
Pois então, como os leitores com mais agilidade já sabem, o curso do Jet Trainer é composto de 3 dias de briefing em sala de aula, e mais 7 sessões de simulador (aonde o bixo pega) de 4 horas de duração cada, sendo teoricamente, 2 delas na função de copiloto (PF – Pilot Flying) e 2 na função de comandante (PM – Pilot Monitoring).
Bom, como o meu turno de simulador era o último (noturno), das 18:00~18:30 ás 22:00~22:30, eu e meu ala (Murilo), combinamos de ir mais cedo e assistir a sessão da tarde (não confundam com os filmes da Globo), porque já poderíamos ir observando como seria a missão e ir estudando e brifando o que nós poderíamos mudar, melhorar e etc.
Um ponto bom nisso, foi que desde o início do curso nós focamos muito no CRM (Crew Resource Management), que consiste basicamente no bom relacionamento de cabine entre os pilotos, inclusive, fomos bem elogiados por isso em praticamente todas as sessões de simulador. Sempre brifávamos (inventei um verbo) em abusar do CRM, sempre informando todas as ações um ao outro, um sempre brifando as coisas pro outro, sugerindo que o outro fizesse algo caso tivesse esquecido, dando toques e enfim, um sempre “aniquilando” o erro do outro. Foi uma receita que deu muito certo pro nosso treinamento, acertamos bem nessa questão, com um bom CRM, dois pilotos valem por três!
Finalmente chegou nossa vez, eu e meu ala decidimos que eu começaria como comandante e pra nossa surpresa, quem iria nos dar instrução seria o Cmte. Fether (do primeiro relato), que também nos deu todo o briefing inicial, nos três primeiros dias. O lado bom é que ele nos deixou ler todo o scanflown no primeiro vôo, ao contrário do instrutor da sessão anterior, que pediu pra que os nossos colegas fizessem todo o procedimento de memória, o que já nos deixou meio apreensivos. No final das contas, nós descobrimos que não tinha mistério nenhum no scanflown e que dava pra fazer sem ler perfeitamente, até dava mais fluidez na instrução. O vôo era SBGR-SBKP (Guarulhos – Viracopos, pra quem não tem agilidade), programamos a rota, fizemos todo o procedimento de solo e na hora da decolagem, eis que acontece minha primeira mancada, seguida do primeiro esporro do Brunão… E que obviamente eu não vou deixar de relatar pra vocês! Então vamos aos fatos!
Na hora da decolagem, o comandante passa os controles da aeronave pro copiloto (no curso do Jet Trainer!) que será o “Pilot Flying” e fica com as comunicações, sendo o “Pilot Monitoring”, feito isso e autorizada a decolagem, o copiloto solicita ao comandante:
“-Release Parking Break and set Takeoff Thrust.”
Nesse momento o comandante (eu) soltaria o parking breaking e levaria a manete de potência até aproximadamente 40% de N2, onde notada a simetria dos motores, apertaria o botão TO/GA (Takeoff/Go Around), que também fica nas manetes, para completar a potência máxima de decolagem e levaria a mesma toda a frente. Eu já estava cansado de saber onde ficava o botão do TO/GA, assim como também já sabia e havia brifado todo o procedimento de decolagem, porém acabei apertado “sem querer querendo” o botão que desengata o Auto-Throttle (que fica na lateral das manetes)! Sim, percebi na hora a cagada que tinha feito (FAIL) e já sabia que ia levar aquela típica comida de rabo do Brunão… e foi o que aconteceu, ele “freezou” o simulador e deu início ao esporro mais cômico e criativo que eu já tinha ouvido, e claro, parte do meu ego de piloto já tinha evaporado ali.
Após a confusão decolamos normalmente, treinamos e botamos em prática o uso das diversas funções do MCP e prosseguimos pro nosso destino (SBGR), onde pousamos e trocamos de posição. Agora eu era o copiloto e meu ala (Murilo) era o comandante. Fizemos o mesmo voo, treinamos e aprendemos várias coisas (MCP, FMS, EFIS…), obviamente com um errinho aqui e um ali, mas no geral, o voo foi bem tranquilo e nós dois achamos que nos saímos bem, sem muitas complicações ou grandes erros, já que estávamos relativamente safos nas funções do MCP e estávamos afiados no IFR. O primeiro voo foi basicamente esse, a partir desse momento é que o curso fica bem bacana, afinal, levar uma máquina de várias toneladas, cheia de botões que você nem sabia direito o que eram, de um lugar pro outro (sem dar crash no pouso), é muito empolgante!
Então é isso pessoal, comecei a escrever esse texto sem muita criatividade e acabei escrevendo uma bíblia, semana que vem escrevo a parte 4 do nosso “Diário” e espero que vocês continuem acompanhando e mandando um feedback com com sugestões, perguntas, críticas, dúvidas e o que vier a calhar!
Até a próxima!
Fly Safe,
Aaron Móes.
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