Faculdade de Aviação

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 Coluna de Coaching de Formação Aeronáutica – Raul Marinho / Blog Canal Piloto
 
Caros leitores do Canal Piloto, Oscar Lima Alpha!
 
Conforme prometido na semana passada, estou aqui para tratar de Coaching de Formação Aeronáutica, baseado nos relatos dos leitores.
 
Antes de mais nada, gostaria de agradecer a participação de todos, que achei excepcional! Espero poder corresponder às suas expectativas.
 
De tudo o que foi postado, acho que podemos resumir a maior parte dos comentários em dois tópicos: faculdade e (falta de) dinheiro. Por isso, ao invés de tratarmos de um caso específico, como foi o exemplo sugerido do caso do Michel, vamos abordar o assunto da faculdade nesta semana, e deixar a questão financeira para a semana que vem – já que ambos assuntos são muito extensos para serem tratados no mesmo dia. Em seguida, vou responder a algumas dúvidas pontuais. Vamos ao trabalho, então.

Faculdade: fazer ou não fazer, qual fazer, e quando
 
Nos últimos anos, surgiram vários cursos de “Ciências Aeronáuticas” e equivalentes (como, por exemplo, “Aviação Civil”) Brasil afora, voltados à instrução de pilotos em nível superior. Apesar disso, a regulamentação em vigor não exige dos aviadores que tenham tais cursos no currículo para poder exercer a função de Piloto Comercial ou mesmo a de Piloto de Linha Aérea. E para deixar a situação ainda mais confusa, grande parte das companhias aéreas está dando preferência para contratar pilotos com formação universitária, mas não necessariamente em Ciências Aeronáuticas ou equivalentes. Afinal de contas, vale a pena ou não fazer um curso superior “comum” ou de aviação?
 
Estudar nunca prejudica, só ajuda. Eu nunca fiz um curso de que tenha me arrependido, mesmo que pouco tenha aprendido – no mínimo, é um momento para reflexão e para fazer novas amizades. Mas aqui vamos fazer uma análise mais objetiva e econômica, que é o nosso papel, deixando as conclusões mais pessoais para o leitor. Partindo do princípio de que os recursos são limitados, será que vale a pena investir cerca de R$50mil e 3 anos de estudo numa faculdade?
 
Bem… Se o objetivo for, exclusivamente, o de conseguir um emprego de piloto, eu acho que existem coisas mais interessantes para se fazer com R$50mil do que uma faculdade. Com este dinheiro, dá para pagar todo o treinamento multimotor (cerca de R$15mil), um bom curso de inglês por um ano (R$10mil, aproximadamente), fazer o Jet Training (entre R$3mil e R$4,2mil), e de quebra pagar o ground school do King Air (por volta de R$5mil). Com o dinheiro que sobrar (cerca de R$20mil), ainda dá para fazer um curso de piloto acrobático, só por diversão.
 
Hoje em dia, o trinômio MLTE+ICAO+Jet (habilitação para voar aeronaves da classe multimotor, proficiência em inglês homologada pela ANAC, e curso de transição para jatos – “Jet Training”) vale muito mais que a faculdade na disputa por uma vaga de emprego numa companhia aérea. Na verdade, os componentes do citado trinômio são requisitos obrigatórios para que um piloto possa se candidatar a uma vaga (embora variem de companhia para companhia), ao passo que a faculdade é um “plus a mais adicional”, um item desejável apenas. Na melhor das hipóteses, ter uma faculdade reduz os requisitos de experiência (horas de voo) – e nem é preciso que esta faculdade seja de Ciências Aeronáuticas e similares, pode ser qualquer faculdade. Regra geral, as principais companhias aéreas têm as seguintes políticas quanto a faculdade:
 
-Tam e Gol: reduzem a necessidade de horas de voo para quem tem qualquer curso superior.
 
– Avianca: dá preferência para quem tem formação superior em algum curso de Exatas.
 
– Azul: dá preferência para quem tem diploma de Ciências Aeronáuticas e similares.
 
– Trip, Pantanal e regionais: não são explícitas quanto ao tema.
 
Isso quer dizer que não se deve fazer faculdade? Não, eu não disse isso! Eu só falei que, se o objetivo for o de obter um emprego de piloto numa companhia aérea, a faculdade não é prioritária. Mas, para quem quer ficar na liderança absoluta na disputa por uma vaga, a faculdade é essencial. Nesse caso, inclusive, eu recomendo que se faça a PUC-RS, que é a herdeira da antiga EVAER (escola da Varig), e que, hoje, é o melhor curso de Ciências Aeronáuticas do Brasil. Aliás, um detalhe importante: recentemente, celebrou-se um acordo entre a PUC, a Azul e o Banco Santander, em que a Azul dispensará os formados pela PUC da primeira fase do seu processo seletivo, e o Santander está financiando as horas de voo com juros menores para os egressos do curso de Ciências Aeronáuticas da PUC-RS. Mais detalhes neste post do meu bloguinho.
 
Outras questões para se pensar são a do risco de a aviação entrar numa crise, ou o piloto perder o CCF. Sabemos que, num passado recente, quando Varig, VASP e Transbrasil faliram, que muitos pilotos ficaram desempregados da noite para o dia. Numa situação dessas, ter uma faculdade (e, se for a de um curso “comum”, como Direito, Administração ou Engenharia, melhor ainda) poderia ajudar muito a conseguir um emprego fora da aviação. E no caso do piloto enfrentar um problema de saúde e perder o CCF, a mesma coisa, só que neste caso um diploma de Ciências Aeronáuticas ou similares também poderia servir, desde que a aviação como um todo estivesse num bom momento.
 
E, finalmente, quero tratar do seguinte ponto: “ah, mas fazendo faculdade de Ciências Aeronáuticas, eu não preciso fazer os cursos teóricos do aeroclube.”. Bem… O único curso obrigatório no aeroclube (o de PC-IFR) custa menos de R$2mil e dura 4 meses. É muito pouco comparado com os R$50mil e 3 anos do curso de Ciências Aeronáuticas, não faz sentido fazer a faculdade só por causa disso.
 
Resumindo o assunto faculdade em três pontos, é o seguinte:
  1. Só se preocupe com a faculdade se todos os outros aspectos da sua formação já estiverem equacionados;
     
  2. Se quiser mesmo fazer o curso de Ciências Aeronáuticas, procure fazer o da PUC-RS; e
     
  3. Se não for possível fazer o curso da PUC-RS, considere fazer uma faculdade “comum”, e a formação específica no aeroclube.
Bem, pessoal, sobre faculdade, era isso o que tinha para falar. Espero não ter confundido ainda mais a cabeça de vocês, mas o caso é que não dá para dar uma resposta 100% objetiva num assunto desses. De qualquer maneira, estou às ordens para novas dúvidas, basta postá-las na seção de comentários logo abaixo.
 
Passemos, agora, para as perguntas pontuais da última semana:
  1. Valmor Júnior quer saber como anda o mercado de táxi aéreo
R: Valmor, assim como toda a aviação, também o segmento de táxi aéreo está aquecido. Somente as empresas especializadas em transporte de malotes para bancos estão com dificuldades, porque houve uma recente mudança na legislação sobre os cheques, que não precisam ser mais transportados fisicamente para a compensação (agora, eles são escaneados e enviados digitalmente). Por isso, este mercado desapareceu da noite para o dia, e quem dependia dele está com sérios problemas. Só uma dica: tire seu PLA teórico e o inglês ICAO, que as principais empresas de táxis estão exigindo isso.
  1. Johnatas Kardech quer saber com qual idade ele poderia entrar numa linha aérea, e informações sobre o teste de inglês (ICAO).
R: Johnatas, hoje em dia, as empresas estão contratando sem restrições até os 45 anos. Após, também existem casos recentes, embora menos comuns. Tenho um conhecido que entrou na Gol com 52 anos. Então, corra, que aos 25 anos você só tem mais 20 para se preparar para entrar na linha aérea!
Quanto ao ICAO test, aguarde mais um pouso que eu vou tratar deste assunto em uma coluna futura. Enquanto isso, dê uma olhada nesse post qui.
  1. O colega de colunismo Athos Gabriel me pede dicas para prosseguir na sua formação com recursos escassos. Thiago Pecorari, Carlos Junior e Mateus pedem coisa semelhante.
R: Aguentem mais um pouco, amigos, que na semana que vem eu vou tratar exaustivamente deste assunto.
  1. O riopretense Vitor Castro me pergunta se vale a pena pagar mais pelo curso teórico da EJ.
R: Conterrâneo, se você tiver condições, eu recomendo que você venha para São Paulo fazer o curso de PC-IFR do Aeroclube de São Paulo. Principalmente por causa do Titus Roos, professor de navegação, que é excepcional. Sinceramente, eu não acho os cursos teóricos da EJ assim tão bons como você está imaginando… A verdadeira vantagem é o tempo mais reduzido, mas acho que você não precisa disso. Se não der para vir para São Paulo, faça onde lhe for mais conveniente (o Aeroclube de Rio Preto não oferece esse curso?).
  1. Finalmente, o Yuri me pede orientações sobre faculdade…
R: Yuri, esta coluna é para você!
Alexandre Sales
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