História das Companhias Aéreas – Capítulo 63

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Capítulo 63

Nascida no ano de 1928, a Braniff International Airways foi uma das mais bem sucedidas companhias aéreas americanas. Com operações que atingiram o seu ápice na década de 1970, a companhia é lembrada até hoje como uma das mais inovadoras e revolucionárias de seu segmento, havendo criado tendências seguidas por dezenas de outras companhias. Outras de suas iniciativas, consideradas ousadas mesmo para os padrões dos dias atuais, mantêm acesas as memórias da Braniff como uma das mais arrojadas empresas da aviação mundial.

A companhia foi fundada em 20 de junho de 1928, pelos irmãos Thomas e Paul Braniff. Inicialmente chamada de Tulsa–Oklahoma City Airways, a empresa oferecia voos locais na região de Oklahoma, operando como subsidiária da Aviation Corporation Holding Company (AVCO). Dois anos após sua fundação e livre da associação com a AVCO, a companhia passou a se chamar Braniff Airways, operando a rota aérea postal entre Chicago e Dallas, além de suas convencionais rotas de transportes de passageiros.

Na década de 1950, a expansão da companhia atingiu o nível nacional. Nessa mesma época, fundaram um edifício próprio de operações no aeroporto Love Field, em Dallas, Texas. O ano de 1954, em particular, foi bastante difícil para a família Braniff e sua companhia. Thomas Braniff morreu em um acidente aéreo, quando o hidroavião em que se encontrava caiu no Lago Wallace em Louisiana logo após a decolagem, em virtude de formação de gelo nas asas, um problema pouco enfrentado até então. Paul Braniff também faleceu no mesmo ano, vítima de um câncer, deixando o comando da empresa nas mãos de Charles “Chuck” Beard, o primeiro executivo não pertencente à família Braniff a assumir o cargo de presidente da companhia.

Em 1965, após ser adquirida pela Great America Corporation, a companhia trouxe à sua presidência o empresário Harding Lawrence, então vice-presidente executivo da Continental Airlines. Lawrence renovou a imagem da companhia com ideias arrojadas, fazendo com que os lucros da empresa aumentassem em dez vezes ao longo de uma década. Com o auxílio da agência Jack Tinker Associates e da publicitária Mary Wells – que futuramente se tornaria a esposa de Lawrence – a empresa adotou a ousada estratégia de pintar cada uma de suas aeronaves com uma cor diferente, utilizando tons fortes e chamativos. Foi o chamado “fim da era dos aviões planos”, em que seus aviões ficaram conhecidos como “The Jellybean Fleet”, ou “A Frota das Jujubas”.

Braniff Jellybean_Canal_Piloto

As inovações estenderam-se também às comissárias, que passaram a ser chamadas de recepcionistas (ou “hostess”) pela Braniff Airways. Seus uniformes eram coloridos, e frequentemente eram trocados até mesmo em pleno voo, de acordo com os estágios da viagem. Foi a ação publicitária chamada de “Air Strip”, num trocadilho com a expressão que também designa pistas de pouso e decolagem. As trocas de uniformes – que denotavam um apelo sensual sem recorrer a qualquer vulgaridade – eram ilustradas em comerciais de TV como este a seguir:

Outra ação da Braniff Airways envolvendo ousadia no uso de cores foi a customização de uma aeronave destinada a operar os voos com destino à América do Sul. A pedido da companhia, o artista plástico Alexander Calder pintou uma aeronave Douglas DC-8, que ficou conhecida como “Flying Colors of South America”, ou “Cores Voadoras da America do Sul”. A pintura, que utilizou cores variadas e tons fortes, chega a lembrar as obras do controverso artista brasileiro Romero Britto:

Braniff Calder_Canal_Piloto

A Braniff International Airways também foi uma das companhias no mundo a operar o Concorde. Em parcerias com a British Airways e a Air France, a companhia vendia passagens a bordo do supersônico, partindo de Dallas com destino a Londres e a Paris. Quando sobrevoavam território americano, entre as cidades de Dallas e Washington DC, os Concordes eram operados por tripulantes da Braniff Airways, e voavam restritos à velocidade de Mach 0.95. Nos trechos sobre o Oceano em direção à Europa, os Concordes eram entregues aos tripulantes ingleses ou franceses, que podiam então acelerá-los a Mach 2. Apesar de haver cartões postais da época ilustrando o Concorde com as cores da Braniff, tal pintura jamais foi reproduzida na vida real, onde os Concordes voaram somente com as cores da British Airways e da Air France.

Braniff Concorde_Canal_Piloto

Na década de 1970, a Braniff Airways atendia a destinos em todas as Américas, incluindo a cidade do Rio de Janeiro, no Brasil. Nessa mesma época, a companhia incorporou à sua frota o centésimo 747 a ser produzido pela Boeing, além de expandir consideravelmente suas rotas, que já chegavam à Europa e a Ásia. Acredita-se inclusive que, durante esse período, a Braniff Airways quebrou o recorde de maior número de expansão de rotas em um mesmo dia. Novos hubs internacionais foram abertos em Los Angeles e Boston, em adição ao hub já presente no aeroporto DFW em Dallas, Texas, inaugurado na década anterior. O que parecia ser um crescimento exponencial viria a se revelar algo muito diferente nos anos seguintes.

Do ponto de vista financeiro, as operações envolvendo o Concorde não foram bem sucedidas. Dos 100 assentos cedidos à Braniff Airways dentro da aeronave, a companhia comercializava, em média, apenas 15 assentos. Enquanto isso, muitos dos Boeings 727 de sua frota operavam no mesmo trecho, com ocupação máxima. As operações no aeroporto DFW, um dos principais hubs dos Estados Unidos, mostraram-se excessivamente dispendiosas, evidenciando o excesso de confiança no crescimento da empresa. Esses fatores, combinados com acirrada concorrência e alta no preço dos combustíveis na década de 1980, levaram a Braniff Airways à sua falência, após 54 anos de prósperas operações.

Luiz Cláudio Ribeirinho
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