Me empresta sua caneta? | Minha Proa: 30

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Ao nos aproximarmos da vida adulta, temos de tomar importantes decisões. Todas elas iniciam com a elementar questão de nossa infância: O que você quer ser quando crescer?

Nessa temática, há dois planos que precisam se complementar: o planejamento de sua carreira profissional, e o planejamento de sua vida pessoal. Há aqueles que desejam profissões mais informais, trabalhar viajando pelo mundo, conhecer várias namoradas ao longo do caminho, e se casar ao final, sem filhos. Outros possuem planos mais conservadores, como fazer uma faculdade importante, festejar aos 20, se casar antes dos 30, e começar uma família morando perto de onde nasceu. Não importa o plano, o importante é possuir um.

Assim como em qualquer planejamento, quanto mais cedo você decidir, mais tempo terá para realizá-lo. E quanto mais postergar essa decisão, mais impreciso e instável se tornará seu futuro. Afinal, se você não tem um objetivo, por que se preparar para ele?

Desde meus 13 anos eu já havia decidido que desejaria trabalhar na aviação. Nessa idade, a única coisa que poderia fazer para me dedicar a esse objetivo era me focar nos estudos e preservar minha saúde, e assim o fiz. Ao mesmo tempo que fazia isso, observava com certa pena os outros poucos alunos que não se dedicavam como a maioria da sala, matando aulas, atrapalhando os professores, e não se importando se iriam repetir o ano mais uma vez.

Um dos meus encontros com esse outro setor da sala foi emblemático. Na época eu possuía uma admirável caneta de três cores, a qual eu adorava, que vinha muito a calhar na hora de destacar certas anotações e partes dos textos. Certo dia um dos indesejados da sala, que já havia repetido de ano três vezes ou mais, a pediu emprestada para escrever em vermelho uma parte importante de um texto. Ele escreveu a frase, e em seguida, tal qual uma faca, cravou com toda a força a ponta da caneta na mesa da escola, inutilizando totalmente sua ponta.

Em seguida ele a devolveu como se nada houvesse ocorrido, afinal, ele sabia que eu nada poderia fazer. Os professores eram totalmente ausentes nessas questões. “Não me meto em briga de criança”, foi a resposta que ouvi quando reclamei de algo semelhante. A diretoria da escola era igualmente irresponsável. Era como viver em uma cidade violenta, onde a polícia se nega a fazer seu papel.

Eu segui vivendo assim por anos, mas sempre mantendo o foco, tendo a certeza de que a longo prazo tudo valeria a pena.

Anos depois, eu chego em casa após mais uma aula de voo do meu curso de PP. Sento no sofá e ligo a televisão, que exibia o jornal local. A notícia relata que quatro jovens foram presos após roubarem um carro, e a imagem exibe o grupo algemado, sentados no chão. Me surpreendo a notar um rosto familiar entre eles. Sim, ele mesmo. O que inutilizou minha caneta, acabou inutilizando sua própria vida.

A longo prazo, o planejamento e foco valem a pena.

Abraços,

Sales

Alexandre Sales
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