O aluno riquinho | Minha Proa: 017

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Eu levei cerca de um ano para voar apenas o meu prático de PP, devido à minha limitação financeira. Imagine minha surpresa quando ouvi que um aluno havia voado o mesmo treinamento em apenas 12 dias! Quem tem dinheiro sobrando, ou o famoso “paitrocínio”, consegue certas vantagens. Mas devíamos segregá-los por causa disso?

Ao contrário do que muitos imaginam, a maioria dos profissionais que atuam na aviação não nasceram em berço de ouro. Muitos deles têm histórias como a minha, e provavelmente como a sua, que narram uma jornada nada fácil em busca do capital para financiar essa formação, que está longe de ser barata. Devido a superação, nobreza e humildade, que são características comuns em histórias como estas, algumas pessoas que compartilham dessa trajetória acreditam que quem foge desse padrão, não é tão merecedor quanto eles.

Não somente através de casos na aviação, mas também em outras área profissionais, nós tomamos conhecimento da existência do chamado “Filhinho de Papai”, “Mauricinho”, “Riquinho”, “Playboy”, ou qualquer nomenclatura equivalente. Trata-se do estereótipo daquele jovem que nasceu em berço de ouro, e como sempre teve tudo que quis, não dá valor a nada que tem, vendo que nunca conquistou nada, apenas recebeu de bandeja dos seus pais.

Devido a esse estereótipo, já presenciei casos em que alguns alunos acabavam não querendo se relacionar com outros, após saberem que aqueles eram filhos de famílias ricas, ou que vinham de uma família de aviadores, possivelmente também com muito capital – e que portanto, deviam ser o clássico gênero de aluno que não iria parar de se gabar dos bens que possui. E que se não fugir do padrão, também não iria durar muito do curso, após ver a dificuldade e nível de exigência do mesmo.

Esse gênero de raciocínio acaba sendo uma grande injustiça em parte dos casos. O primeiro ponto é que todo estereótipo possui uma origem baseada em fatos reais, mas não necessariamente irá sempre refletir a realidade. Eu mesmo já conheci pessoas que foram extremamente agradáveis e humildes, e só muito tempo depois fui saber que eram donas de diversas aeronaves, ou filhos de graduados comandantes da aviação. Do mesmo modo, nem toda pessoa de classe baixa que você conhecer será o exemplo da humildade em pessoa.

Outro ponto é que nem toda família é rica nessas situações, podendo ter apenas planejado suas economias. Tenho um amigo cujos pais começaram a economizar desde a época de sua gestação, com o objetivo de poderem pagar qualquer faculdade ou formação que o filho viesse a decidir na vida adulta. Quando a hora chegou, ele utilizou todo o capital na aviação, acabando com as economias da família, mas felizmente conseguindo um cargo pouco tempo depois. É o que planejo fazer para meus filhos por exemplo, torcendo para não sofrerem com o mesmo estereótipo.

É possível que você encontre alguma pessoa rica que irá fazer questão de se auto afirmar sobre os demais, mas isso está longe de representar todos os membros com esse perfil financeiro.

Não se deixe levar pelos estereótipos, pois um dia você pode acabar sendo alvo do mesmo preconceito em outra vertente.

Abraços,

Sales

Alexandre Sales
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